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Quarentena de 10 dias atrapalha contenção da Covid-19, diz pesquisa

Pesquisadores encontraram amostras viáveis do vírus entre as que foram recolhidas de pacientes que estavam no 15º dia da infecção

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Paraíba investiga 16 casos de suposta reinfecção pelo novo coronavírus
1 de 1 Paraíba investiga 16 casos de suposta reinfecção pelo novo coronavírus - Foto: Reprodução

Um estudo conduzido no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP) em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) apontou indícios de que reduzir a quarentena de 14 para 10 dias pode não ser uma boa estratégia para conter o avanço do coronavírus. A recomendação foi dada pelo Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) em outubro.

A pesquisa contou com 29 amostras de secreção nasofaríngea de pessoas com Covid-19 confirmada por teste RT-PCR. O material foi coletado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Araraquara no décimo quinto dia após o início dos sintomas e inoculado em culturas de células em laboratório.

De acordo com os resultados, o coronavírus continuava presente, capaz de infectar as células e de se replicar in vitro em 25% dos casos investigados. Se o resultado for comprovado em humanos, isso significa que as gotículas de saliva de 25% dos participantes ainda seriam capazes de infectar outras pessoas.

A pesquisa ainda não foi revisada por outros cientistas, portanto ainda não foi publicada em revistas especializadas. Os dados preliminares da análise foram disponibilizados na plataforma medRxiv.

De acordo com a coordenadora da pesquisa, Camila Romano, a recomendação é que os infectados leves permaneçam totalmente isolados em casa, sem contato com outras pessoas, durante os 14 dias de quarentena.

“Há uma grande pressão para reduzir o tempo de isolamento – tanto por fatores econômicos como psicológicos. Mas, se o objetivo da quarentena é mitigar o risco de transmissão do vírus, 25% [de pacientes com vírus viável] é uma proporção muito alta”, avalia a pesquisadora.

No início da pandemia de coronavírus, em março de 2020, o período de 14 dias para a quarentena foi estabelecido com base no tempo médio que a infecção por Sars-CoV-2 leva para não ser mais detectado no teste RT-PCR após o início dos sintomas. A baixa carga viral detectada nesta janela indicaria que o risco de transmissão seria irrisório.

Outros estudos demonstraram que o RNA viral ainda pode ser detectado nas vias respiratórias de pacientes com sintomas leves ou moderados via RT-PCR por 14 dias ou mais. Após o oitavo ou nono dia, contudo, dificilmente se conseguiu isolar o vírus ainda viável, ou seja, com a capacidade de se replicar em células.

Como foi feito o estudo

A pesquisa foi feita, inicialmente, com 53 moradores de Araraquara (SP), com o objetivo de investigar como a transmissão domiciliar do Sars-CoV-2 está ocorrendo na cidade. Os participantes tinham idades entre 17 e 60 anos, tiveram a Covid-19 confirmada por meio do teste RT-PCR no décimo dia de sintomas, apresentavam quadro leve da doença e não precisaram ser hospitalizados.

Somente 29 das 53 amostras coletadas continham material suficiente e bem conservado e puderam ser utilizadas nos experimentos. Os pesquisadores, então, inocularam as secreções nasofaríngeas dos participantes em culturas de células Vero, originárias de rim de macaco. “Acompanhamos durante quatro ou cinco dias”, descreve a pesquisadora Camila Romano.

De acordo com a cientista, o objetivo foi fornecer um ambiente adequado para que o coronavírus se replicasse. Durante o acompanhamento do teste, foi possível observar se o contato com o vírus provocava um efeito citopático, ou seja, de adoecimento das células. A variação da carga viral nas linhagens foi quantificada pela mesma técnica de RT-PCR usada no diagnóstico.

O resultado, de acordo com os pesquisadores, seria um indício de que pode haver partículas virais viáveis nas secreções de pacientes no décimo dia de sintomas. Portanto, diminuir o prazo original da quarentena de 14 para 10 dias pode ser ineficiente para conter o avanço do Sars-CoV-2.

“O isolamento, de modo geral, precisa ser intensificado neste momento. Caso contrário, o avanço lento da vacinação exercerá uma pressão seletiva sobre o vírus e favorecerá a emergência de variantes resistentes. Diminuir o isolamento neste momento é extremamente perigoso”, alerta Romano.

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