Progesterona pode melhorar quadro de homens com Covid-19, diz pesquisa
Estudo sugere que injeções com o hormônio feminino podem reduzir a gravidade da doença em homens com funções pulmonares comprometidas
atualizado
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Um ensaio clínico piloto feito com 40 homens mostrou que a progesterona, um hormônio produzido pelos ovários e pela placenta durante a gravidez, pode ser uma alternativa de tratamento para homens com Covid-19 cujas funções pulmonares foram comprometidas pelo coronavírus. A pesquisa foi conduzida pelo Cedars-Sinai Medical Center, um hospital sem fins lucrativos em Los Angeles (EUA), e publicada na revista científica Chest.
De acordo com Sara Ghandehari, diretora de reabilitação pulmonar do Cedars-Sinai e principal autora do estudo, a pesquisa partiu do conhecimento de que homens correm mais risco de desenvolver quadros graves e morrer por Covid-19 do que mulheres.
“Como médica de UTI, fiquei impressionada com a disparidade de gênero entre os pacientes com Covid-19 que estavam muito doentes, permaneciam no hospital e precisavam de ventiladores”, explicou Ghandehari.
Outro fator que impulsionou o trabalho, segundo a pesquisadora, foram pesquisas que apontavam que mulheres na pré-menopausa, que geralmente têm níveis mais altos de progesterona, tinham quadros menos graves de Covid-19 do que mulheres na pós-menopausa, que têm níveis mais baixos do hormônio.
Enquanto os corpos masculinos e femininos produzem progesterona naturalmente, as mulheres produzem muito mais do hormônio durante seus anos reprodutivos. Por conta disso, Ghandehari levantou a hipótese de que as diferenças de intensidade dos quadros da doença em homens e mulheres podem ser devidas, em parte, a um efeito protetor dos hormônios femininos.
Segundo ela, estudos pré-clínicos posteriores já apontavam a progesterona como tendo propriedades antiinflamatórias, o que sugere que o medicamento pode ser útil para conter a tempestade de citocinas, inflamação sistêmica que caracteriza a forma grave da Covid-19.
Resultados do estudo
Para avaliar o comportamento da progesterona nos pacientes do estudo, os pesquisadores criaram uma escala que variou de 7 (“não hospitalizado, sem limitações nas atividades”) a 1 (“morte”). Em comparação com o grupo de controle, os pacientes do grupo tratado com progesterona pontuaram uma média de 1,5 pontos a mais na escala de estado clínico após sete dias. As diferenças entre os dois grupos nos quesitos dias de hospitalização e menor necessidade de oxigênio suplementar e ventilação mecânica não foram estatisticamente significativas.
Dois participantes, um do grupo placebo e outro que recebeu a medicação, morreram durante o período de 15 dias de pesquisa, mas as mortes não foram atribuídas ao remédio. Não houve eventos adversos graves, incluindo eventos com risco de vida, atribuíveis à administração de progesterona.
Sara Ghandehari admite, contudo, que o estudo teve limitações significativas, entre elas o tamanho da amostra. Os voluntários eram todos brancos, hispânicos, obesos e com uma carga moderada de comorbidades, o que aumenta o risco de piores desfechos.
Além disso, embora o ensaio clínico fosse randomizado e controlado, não era cego – o que significa que os investigadores, os pacientes e os médicos responsáveis pelo tratamento sabiam quem estava recebendo o tratamento experimental.
“Mais pesquisas são necessárias em populações maiores e mais heterogêneas, incluindo mulheres na pós-menopausa e em outros centros de tratamento, para estabelecer o grau de eficácia clínica e para avaliar qualquer outra preocupação potencial de segurança desta abordagem de tratamento”, afirmou a pesquisadora.
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