Unicamp: mulheres pretas têm dobro do risco de morrer durante o parto
Pesquisa brasileira aponta disparidades na mortalidade materna entre mulheres pretas e as pardas e brancas no Brasil
atualizado
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No Brasil, mulheres pretas têm quase o dobro de risco de morrer durante o parto ou no puerpério em comparação com dados de mulheres pardas e brancas. A disparidade alarmante foi identificada por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em um artigo publicado na Revista de Saúde Pública em 5 de julho.
O levantamento feito por médicos e enfermeiros brasileiros apontou que a taxa de mortalidade materna entre 2017 e 2022 foi de 67 mortes a cada 100 mil nascidos vivos no Brasil. Mulheres brancas e pardas contabilizaram 64 mortes para cada 100 mil nascidos vivos, mas mães pretas tiveram índice de 125,8.
“Os resultados demonstram o impacto do racismo na saúde e na mortalidade materna. O aumento das taxas de mortes entre mulheres negras é consequência de uma construção social que impacta negativamente seus resultados de saúde e não está relacionado a nenhum fator genético ou biológico”, afirmam os pesquisadores.
Segundo a pesquisa, cerca de 92% dos casos de morte materna são evitáveis e ocorrem principalmente por condições mal-identificadas no pré-natal ou no parto, como hipertensão, hemorragia pós-parto e infecções.
Quanto mais velhas as mulheres, maiores as chances de morte materna. Na faixa etária de 40 anos ou mais, 301 mulheres pretas morreram para cada 100 mil nascidos vivos. Entre mulheres brancas da mesma idade, o índice é menos da metade: 141.
Números muito distantes da meta
Em todas as cinco regiões, foram as mulheres pretas que lideraram o volume de mortes. O número mostra que em nenhuma das regiões do país o número está próximo do que é considerado tolerável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com 70 mortes por 100 mil nascidos vivos.
A maior taxa de mulheres pretas mortas foi registrada na região Norte, com 186 mortes por 100 mil nascidos vivos. No segundo lugar ficou o Nordeste, com 141 mortes, e o Centro-Oeste em terceiro (132). Completam o triste ranking o Sudeste (115) e o Sul (108).
Os dados foram coletados no DataSUS, do Ministério da Saúde, e as categorias de raça seguiram a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Racismo tem papel na morte de mulheres pretas
Os pesquisadores indicam que alguns fatores socioeconômicos (com o empobrecimento histórico da população negra) tenham impacto na falta de acesso a cuidados de qualidade, o que pode explicar parcialmente as diferenças. Para eles, porém, é impossível não considerar que o preconceito e o racismo tenham impacto na tomada de decisões de saúde coletiva e dos profissionais no geral.
“Discriminação e preconceito em ambientes de assistência médica podem levar a disparidades no acesso a cuidados pré-natais de qualidade e serviços maternos para grupos minoritários raciais e étnicos. Para abordar efetivamente as desigualdades na saúde materna, é crucial reconhecer e desmantelar as barreiras estruturais e institucionais enraizadas no racismo que impactam os cuidados e resultados maternos”, concluem eles.
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