Entenda por que pré-adolescentes não devem usar cosméticos anti-idade
O aumento recente da procura de crianças e pré-adolescentes por cosméticos para rotinas de beleza preocupa dermatologistas e psicólogos
atualizado
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A expressão 10-year-olds at Sephora (crianças de 10 anos na Sephora, em português) explodiu nas redes sociais nas últimas duas semanas. Ela expõe o aumento de crianças, pré-adolescentes e adolescentes mais novos nas lojas da cosméticos dos Estados Unidos e o comportamento de consumo deles.
Mesmo com a pele jovem, sem marcas de expressão ou flacidez, esse público procura por produtos antienvelhecimento. Em seus perfis do TikTok, essas mesmas crianças e pré-adolescentes – com idades entre 10 e 15 anos – compartilham vídeos com suas rotinas de cuidado com a pele, incluindo géis de limpeza facial, sérum, retinol e hidratantes diurnos e noturnos.
Embora a vaidade e o desejo de cuidar da beleza sejam uma parte natural do crescimento, a preocupação excessiva com a aparência e o uso de produtos inapropriados para a idade preocupa dermatologistas e psicólogos.
O dermatologista André Moreira, da ADA Clínica de Brasília, alerta que a maioria dos cosméticos não é testada na população infantil, exceto aqueles que de fato são remédios para o tratamento da pele. Sendo assim, essas crianças correm o risco de sofrer reações alérgicas. “Qualquer produto que não foi testado em alguma população pode fazer mal”, considera.
Ingredientes como o retinol – uma forma de vitamina A indicada para a redução de linhas, rugas, acne e oleosidade – podem causar irritação na pele de qualquer pessoa, causando vermelhidão, descamação e erupções cutâneas.
“O mecanismo de ação é o mesmo em todos os seres humanos, o que diferencia é a pele de cada faixa etária, gênero e cor. A pele da criança é mais sensível, a chance de ela ter uma irritação é infinitamente maior”, explica Moreira.
Segundo o dermatologista, as crianças não têm as glândulas que secretam a oleosidade da pele ativas como um adolescente ou adulto, ou seja, um produto que “secaria” a pele nelas teria um efeito muito mais intenso.
Pressão externa
A procura cada vez mais precoce por cosméticos e procedimentos estéticos pode ter inúmeras influências. Entre elas, a psicóloga clínica e hospitalar Gabriella Ciardullo, que atende na clínica Biotipo, em Brasília, destaca as redes sociais, que promovem a importância da beleza através de influenciadora.
Outro fator importante é a sociedade que, de forma midiática, faz com que essas adolescentes estejam em permanente comparação de beleza, buscando cada vez mais a perfeição.
“Essa busca incessante pela perfeição desde jovem pode levar a mulheres nunca satisfeitas com sua própria aparência, buscando um corpo e uma pele que só são possíveis ter com os filtros dos aplicativos”, afirma a psicóloga.
Outras influências importantes são: a evolução da cosmética, que oferece a promessa de prevenção do envelhecimento e não apenas um tratamento; a indústria de marketing focada em meninas cada vez mais jovens; e mães que já são de uma geração que frequenta dermatologistas, clínicas de estética, e cirurgiões focando na própria beleza, passando para as filhas exemplos diários.
“É preciso ter discernimento em relação a esses procedimentos. Como tudo é sempre vendido como uma ‘solução de beleza’ muito fácil, é comum que adolescentes se coloquem em riscos indevidos e desnecessários”, considera a psicóloga.
Como identificar problemas com autoestima?
É preciso estar atento. Segundo Gabriella, o sinal de alerta para os pais é perceber quando o autocuidado dos filhos passa a se tornar uma obsessão. “Isso pode ser facilmente percebido no contexto familiar diante de situações de alteração de humor do adolescente por não se sentir bem consigo mesmo”, explica.
Esses jovens tendem a estar sempre buscando comparações que os inferiorizam, pesquisam incessantemente por tutoriais de beleza e pedem para serem levados a clínicas de estética ou cirúrgicas com frequência.
Gabriella destaca que o emocional desses jovens normalmente está extremamente fragilizado, com uma autoestima baixíssima, problemas de relacionamento familiares ou sociais, carência afetiva, depressão, ansiedade e transtornos de imagem corporal.
“É claro que é importante se cuidar, buscar sua melhor versão. Mas estamos falando de excessos, e todo excesso é um problema. Essas meninas e meninos muitas vezes não alcançam o desejável, nunca estão satisfeitos, simplesmente porque o problema não está na aparência física e sim internamente”, alerta.
Quais são os cuidados com a pele indicados para crianças?
O protetor solar é o produto mais importante para todas as pessoas maiores de 6 meses de idade. Além dele, crianças e adolescentes precisam apenas de sabonete adequado para a idade.
“Qualquer outro produto só pode ser usado se houver necessidade e indicação do pediatra, hebiatra (especialista em adolescente), dermatologista ou alergista”, afirma Moreira.
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