Vítimas do PMMA: médicos pedem maior controle para venda do produto
Anvisa afirma que está “atenta às preocupações” sobre o uso do PMMA após comoção social com casos de vítimas do uso do produto
atualizado
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Os riscos da aplicação de polimetilmetacrilato (PMMA) ocuparam os holofotes nas últimas semanas. Após mulheres terem sido vítimas de graves deformidades ao fazerem preenchimentos com o uso da substância e da morte da modelo Aline Maria Ferreira no último dia 2, médicos se reuniram para pedir uma maior regulamentação do uso do polimetilmetacrilato.
O PMMA é um gel plástico que, ao ser injetado no organismo, pode causar inflamações e infecções que vão do pulmão aos rins, com o agravante de que ele adere à musculatura depois de aplicado, o que torna sua retirada extremamente difícil.
Por isso, atualmente, o PMMA é proibido para procedimentos estéticos com duas exceções: correções de lipodistrofias em pacientes com aids e de deformidades volumétricas do corpo por dermatologistas e cirurgiões plásticos.
“Precisamos encontrar uma forma de regulamentar para garantir que o PMMA será usado para o que ele já é indicado, só esses dois pontos, e proibir não médicos de usarem a substância”, afirma a professora de dermatologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) Mayra Ianhez, que atualmente conduz pesquisas sobre complicações do uso do plástico.
Entretanto, como o gel possui várias aplicações na medicina além da estética, encontrar uma forma de controle parece ser um desafio. Médicos e dentistas podem fazer a compra de PMMA sem limites de volume e sem restrições de especialidades. Isso facilita a distribuição da substância em larga escala e com acesso inclusive para profissionais que não são formados em odontologia ou em medicina.
A difusão do uso estético do PMMA também se justifica pelo preço da substância. Cada mililitro dela custa aproximadamente 30 reais, valor mais de 10 vezes inferior ao do ácido hialurônico, que possui uma enzima que pode neutralizar sua ação no organismo e, por isso, é considerado mais seguro.
Segundo o professor de cirurgia plástica Eduardo Teixeira, da UNIRIO, é a realização de procedimentos clandestinos que justificou o grande número de denúncias sobre o PMMA. “Várias pacientes foram vítimas de procedimentos clandestinos e vemos que a falta de conhecimento, tanto de quem se submete, quanto de quem aplica, está aumentando muito os riscos. Falta controle na venda e falta treinamento para uso nos casos que são indicados”, indica.
Teixeira alerta ainda que as pessoas podem receber injeções de preenchedores ainda mais danosos ao organismo, como o silicone industrial e o óleo mineral, e, por isso, é preciso fazer procedimentos sempre com profissionais capacitados.
A pressão para encontrar uma regulação mais adequada para o uso da substância levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é responsável pelo controle das distribuições do produto, a analisar evidências e informações para repensar as indicações do produto como preenchedor. “A Anvisa está atenta às preocupações levantadas e iniciou uma avaliação detalhada do caso”, afirma, em nota.
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles acreditam que a agência reguladora pode retirar a indicação para preenchimento da lipodistrofia na face, já que atualmente os portadores do vírus HIV já não utilizam mais medicações que causem esse problema, o que diminui drasticamente a necessidade de seu uso.
Outros usos do PMMA na saúde
Um dos desafios para regular o PMMA é que a substância não pode ser proibida totalmente, já que seu uso é largamente difundido na saúde. O que tem sido denunciado é o uso estético da substância, mas o PMMA é usado em preenchimentos de ossos, por exemplo, ou mesmo no revestimento do marcapasso cardíaco.
Nestes casos, porém, a base plástica é empregada em outras consistências, mais endurecidas, o que diminui o risco de granulomatoses, que são a causa de inflamações constantes do organismo.
Quando a questão é o preenchimento de face e gordura, especialmente na estética, há opções melhores, como próteses de silicone e ácido hialurônico. Os procedimentos são mais seguros, porém mais caros e também só podem ser realizados por médicos com especialização.
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