Pessoas sensíveis ao gosto amargo podem ser menos vulneráveis à Covid
Estudo relacionou pacientes com superpaladar a casos moderados da infecção, e descobriu possível ligação entre gostos e resposta imune
atualizado
Compartilhar notícia
Pessoas sensíveis a gostos mais amargos podem ter organismos mais eficientes para lutar contra a Covid-19, de acordo com um estudo publicado na revista científica JAMA nesta terça (25/5).
Os pesquisadores do Sinus and Nasal Specialists of Louisiana, nos Estados Unidos, tiveram a ideia ao analisar dados de 100 pacientes que fizeram teste de paladar após serem diagnosticados com Covid-19. Nenhum deles tinha o chamado “superpaladar” e, por isso, os cientistas decidiram expandir o estudo.
Cerca de 1.900 pessoas participaram da pesquisa, passando por um exame simples com um pedaço de papel tratado com feniltiocarbamida, tioureia ou benzoato de sódio. As primeiras duas substâncias têm sabor muito amargo, ou nenhum gosto, a depender do nível de paladar. Já o sódio pode ter gosto doce, salgado, amargo, azedo, ou de nada.
O objetivo desta etapa foi determinar quais pessoas tinham o gene receptor TAS2R38, que identifica o superpaladar. Os participantes foram divididos em três grupos: 26,3% tinha superpaladar, 47,4%, paladar normal, e 26,4%, paladar abaixo da média. Os pacientes foram acompanhados por três meses e, neste período, 266 foram infectados com o coronavírus.
Segundo os pesquisadores, a chance de infecção não foi proporcional entre os grupos. Apesar de não serem maioria, os com paladar abaixo da média representaram 55,3% dos infectados. Apenas 5,6% dos doentes eram considerados portadores de superpaladar.
A sensibilidade ao gosto foi relacionada ainda à severidade da doença — 55 dos infectados precisaram ser internados e 47 deles faziam parte do grupo com paladar abaixo da média.
A teoria dos cientistas é que o gene responsável pela ativação do gosto amargo (que identifica o superpaladar) pode ter algo a ver com a resposta imune do organismo, principalmente na produção de óxido nítrico, um composto que danifica invasores.
Porém, os pesquisadores apontam algumas limitações no levantamento. Os superpaladares foram identificados em traços observados, e o estudo seria mais fiel caso confirmasse a sensibilidade com um teste genético. A falta de conhecimento sobre o vírus também pode ter influenciado a resposta, já que não se sabe como ele age em diferentes populações.
Mesmo assim, os cientistas acreditam que a descoberta pode ajudar no entendimento do coronavírus, assim como apontar a relação entre receptores do gosto amargo e patógenos do trato respiratório superior.
Saiba como o coronavírus ataca o corpo humano: