Pesquisadora Cristiane Bergerot ganha ‘Oscar’ da oncologia dos EUA
Psicóloga do DF foi a única brasileira premiada na edição 2021 da Global Oncology Young Investigator Awards
atualizado
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A pesquisadora e psicóloga especializada em oncologia, Cristiane Bergerot, 39 anos, conquistou o Global Oncology Young Investigator Awards 2021. Oferecido pela Conquer Cancer Foundation, dos Estados Unidos, a honraria é dada a especialistas em início de carreira que trabalham com projetos que tenham reconhecido impacto para contribuir no tratamento de pacientes com câncer.
O anúncio ocorreu no início de junho, durante a Asco Annual Meeting 2021 – um dos maiores eventos do mundo sobre o câncer. “É uma surpresa, pois é uma premiação que, tradicionalmente, reconhece médicos. Acredito que sou a única psicóloga a receber a bolsa, e a única brasileira nesta edição”, destaca a brasiliense.
Cristiane elaborou um projeto que busca investigar a viabilidade e os benefícios de um atendimento multidisciplinar via telemedicina para pacientes oncológicos com idade igual ou superior a 65 anos.
Pela proposta, a especialista recebeu uma premiação no valor de U$ 50 mil (equivalente a R$ 300 mil), destinada a colocar o estudo em prática a partir das próximas semanas, com a duração de aproximadamente um ano.
Em comunicado, a Conquer Cancer Foudation afirmou: “Destacamos a relevância do trabalho desenvolvido pela psicóloga e doutora Cristiane no universo médico internacional, com numerosas premiações por diversas instituições e organizações focadas quase exclusivamente em médicos. Sua relevância perante à sociedade como a Asco, é notória e digna de destaque”.
Telemedicina
O número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos está crescendo. Atualmente, há cerca de 703 milhões de pessoas nessa faixa etária. A projeção para 2050 é de 1,5 bilhão em 2050. A especialista explica que essa população representa um grande desafio global na assistência oncológica. “Mais de 60% de todos os adultos diagnosticados com câncer tem idade igual ou superior a 60 anos, e eles possuem especificidades que podem tornar mais difícil o tratamento”.
Existem estudos que demonstram o benefício da avaliação geriátrica para direcionamento do tratamento oncológico. A sociedade americana de oncologia clínica (American Society of Clinical Oncology) publicou em 2018 os critérios que um serviço de oncologia deve seguir para implantação de uma rotina de avaliação. “Não temos a cultura da geriatria no Brasil, são poucos centros especializados. Todos os pacientes que fizerem parte do estudo serão assistidos por um geriatra”, explica.
A previsão é que sejam acompanhados 61 pacientes oncológicos, de diferentes localidades, durante um ano. “A ideia é testar esse modelo, para entender se é efetivo e viável, se é bem aceito pelos pacientes e se oferece benefícios”, explica a pesquisadora. Para o estudo, os pacientes serão avaliados antes do início do tratamento de quimioterapia, terão um plano terapêutico elaborado e serão avaliados novamente três meses depois.
Cristiane se formou em psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub) em 2004, tendo feito mestrado e doutorado em Psicologia da Saúde e Psico-Oncologia na Universidade de Brasília (UnB). Além disso, a especialista fez pós-doutorado na Unifesp (SP) e, nos Estados Unidos, estudou no City of Hope Comprehensive Cancer Center, onde mantem projetos de pesquisa.
Cristiane, que trabalha na oncologia há 16 anos, retornou à Brasília em maio de 2020 para assumir a coordenação do serviço multiprofissional do Centro de Câncer de Brasília (Cettro).
A ideia para o projeto surgiu em meio a pandemia do coronavírus, quando ocorreu um aumento da prática de atendimento médico através de chamadas de vídeo. “Nosso objetivo é buscar uma maneira de viabilizar, até do ponto de vista financeiro, algo que em outros países já é um padrão de tratamento”, explica.
Para Cristiane, a telemedicina representa uma praticidade para os pacientes. “Claro que não substitui o contato e a avaliação física, mas é complementar. Para aqueles que moram longe do centro de tratamento pode ser um conforto ser observado e ter contato via telemedicina“.