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Pesquisa aponta bons resultados no uso de cannabis em autistas

Dos 15 pacientes acompanhados, 14 registraram melhorias depois de usarem medicamento feito com extrato de maconha enriquecido com canabidiol

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1 de 1 oleo-4 - Foto: Natália SG/ Metrópoles

Uma pesquisa recente da Universidade de Brasília (UnB) abre perspectivas promissoras para o uso da cannabis no tratamento dos sintomas do autismo. Os poderes medicinais da maconha vêm sendo objeto de estudos científicos em vários países, mas a maioria se concentra no tratamento de problemas como esquizofrenia, epilepsia, demências, dores crônicas e mal-estar provocado pela quimioterapia. O trabalho da UnB é um dos três únicos no mundo que investigam essa aplicação específica – os outros dois estão sendo feitos em Israel.

Em 2014, o professor Renato Malcher-Lopes, do Departamento de Ciências Fisiológicas da universidade, fez uma revisão bibliográfica em que apontou a hipótese de que a cannabis seria benéfica para autistas. De acordo com ele, estudos anteriores realizados com pacientes epilépticos que também eram autistas mostraram efeitos positivos, o que justificaria experimentar a planta como alternativa de tratamento para o segundo problema.

“A epilepsia é caracterizada por um excesso de atividade dos neurônios, uma condição que também está presente no autismo”, explica o professor.

O autismo costuma ser identificado na primeira infância e pode se manifestar em diferentes graus: geralmente há dificuldade de comunicação e de interação social, mas também podem ocorrer alterações de comportamento, como agitação e agressividade.

Depois que o primeiro artigo de Renato foi divulgado, pais de crianças autistas procuraram a Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (Ama + me) para conseguir a autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o uso compassivo do medicamento – quando não há alternativa no mercado para o tratamento do paciente, a legislação permite que esse tipo de pedido seja feito.

A solicitação foi acatada e um laboratório de outro país doou a medicação. A partir daí, os médicos da Ama + me e o cientista iniciaram um estudo observacional sobre os efeitos nos pacientes.

O grupo pesquisado compreendia crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos que passaram por exames de saúde periódicos e cujos pais responderam a questionários com perguntas sobre o nível de agitação dos filhos, a autonomia para a realização de tarefas diárias, a ocorrência de episódios de agitação e nervosismo e a frequência com a qual apresentavam dificuldade para dormir.

Depois de nove meses de acompanhamento, 14 dos 15 pacientes registraram melhorias, de acordo com o relato dos pais. “Os resultados mais impactantes foram a redução da hiperatividade, do déficit de atenção e das crises nervosas – as quais, muitas vezes, envolvem autoagressividade –, além de melhora na qualidade do sono e na interação social”, afirma o neurocientista.

O trabalho foi publicado em outubro do ano passado na revista Frontiers in Neurology, plataforma de acesso livre reconhecida mundialmente na área de neurologia. Agora, o grupo de pesquisa liderado por Renato pretende buscar outras evidências sobre a efetividade do tratamento.

O neurocientista, que é pai de uma criança autista, acredita que a pesquisa dá um passo importante para alavancar outras investigações científicas sobre o uso medicinal do extrato da maconha. “É muito importante livrar a ciência e a academia de amarras preconceituosas, que podem impedir o desenvolvimento de tratamentos que melhorem a vida das pessoas. Agradeço à Universidade de Brasília pela oportunidade de levar adiante essa pesquisa”, diz Renato Malcher-Lopes.

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