Entenda perigo de diagnosticar ansiedade e afins via redes sociais
Banalização de diagnósticos on-line pode fazer com que a pessoa se condicione a desenvolver novos sintomas, alertam especialistas
atualizado
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Não faltam perfis nas redes sociais que se dediquem a compartilhar informações sobre como diagnosticar transtornos como a ansiedade e a depressão. Na caixa de comentários, várias pessoas detalham sinais de suas crises e conversam sobre os sintomas que sentem.
O que poderia ser apenas um compartilhamento de experiências, porém, acaba tendo consequências graves: psicólogos ouvidos pelo Metrópoles apontam que é crescente o número de pessoas que se autodiagnostica com base em informações da internet ou, pior, aponta sintomas nos outros.
Os riscos de diagnosticar de forma banal
O psicólogo Pedro Paulo Bicalho, presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), aponta que a prática de tratar termos como ansiedade ou depressão com informações superficiais e sem entender as características que a pessoa já possui pode até induzir complicações na saúde mental.
“Os malefícios de um diagnóstico psicológico banalizado são imensos. Ao identificar sintomas descontextualizados, uma pessoa, por acreditar naquilo como uma resposta para seu sofrimento psíquico, pode começar a produzir sintomas que não tem para se encaixar melhor no quadro”, explica o psicólogo.
A psicóloga Ana Paula Ribeiro Hirakawa, do Centro de Estudos e Pesquisas João Amorim (CEJAM), de São Paulo, aponta que ao mesmo tempo em que há mais discussões e aceitação de alguns transtornos mentais, muitas pessoas não sabem como ou onde obter acompanhamento para seu sofrimento psíquico.
“O que antes era enxergado como algo prejudicial e ruim, hoje é mais compreendido — isso, devemos celebrar. Mas é preciso ressaltar que, para o tratamento, é imprescindível procurar orientação dos especialistas, pois são eles os profissionais capacitados para guiar os pacientes nessa jornada rumo ao reequilíbrio”, explica.
Os profissionais afirmam que a banalização de palavras e conceitos da psicologia nas redes sociais pode ser mais prejudicial do que uma aliada na hora de diagnosticar e tratar os sofrimentos psíquicos.
“As palavras que usamos, ansiedade, depressão, são todas aproximações, mas o sofrimento é sempre singular. Ele precisa ser debatido e absorvido por alguém que tem preparo”, aponta Bicalho.
Como usar a internet de um bom jeito?
O presidente do CFP aproveita para dar dicas de como a internet pode ser usada para o bem do paciente:
- Não generalize – Não devemos forçar uma interpretação de sintomas de outra pessoa para entender o que estamos sentindo e tampouco usar o mesmo tratamento que outro paciente por achar que os sintomas são semelhantes.
- Busque ajuda habilitada – “Claro que as redes sociais são parte do nosso social. É impossível impedir que as pessoas falem sobre seus sofrimentos, mas o ideal é que a internet seja vista como um meio para encontrar um psicólogo. A psicologia pode ser exercida de forma on-line no Brasil desde 2018”, defende Bicalho.
- Cuide para não diagnosticar o outro – As informações que se obtém durante as terapias e estudos, por mais esclarecedoras que sejam, não devem ser compartilhadas em testes ou provas que levem possíveis pacientes a se identificar com os sintomas. Além disso, apenas profissional habilitados podem fazer diagnósticos.
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