Estudo mostra que moradores da periferia comem mais ultraprocessados
Pesquisa mostra que população que mora nas favelas tem dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e consome mais ultraprocessados
atualizado
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Nos últimos anos, os preços do mercado mudaram. Os alimentos frescos e orgânicos ficaram mais caros, enquanto os ultraprocessados se tornaram mais baratos. Hoje, alimentos ricos em gordura, açúcar, sódio e conservantes podem ser encontrados por valores bem mais baixos.
De acordo com um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) publicado na edição de março dos Cadernos de Saúde Pública, os moradores das favelas brasileiras têm mais dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e consomem mais ultraprocessados.
“O acesso aos alimentos por moradores de favelas é permeado pela falta de recursos e elementos fundamentais para uma alimentação adequada e saudável, como: a falta de informação sobre alimentação; a renda insuficiente; e a baixa disponibilidade de estabelecimentos que comercializam alimentos saudáveis a preços acessíveis”, escrevem as pesquisadoras no artigo.
O levantamento foi feito por meio reuniões online, e os participantes foram recrutados pelas redes sociais e por líderes comunitários. Fizeram parte do estudo moradores de diferentes favelas no país.
Os entrevistados afirmaram que entendem como saudáveis alimentos como vegetais, carnes, arroz, feijão e orgânicos, e que se tivessem condição financeira, comeriam mais frutas e peixes. Os participantes também reclamaram da qualidade dos produtos à venda nos mercados locais — até as promoções só incluem os ultraprocessados ou alimentos próximos ao vencimento.
Segundo o estudo, os moradores de favelas raramente saem para comer na rua e, quando podem fazê-lo, geralmente escolhem pizzas, sorvete e sanduíches. Porém, pelo tempo que gastam no transporte entre a residência e o trabalho ou escola, sobra pouco espaço para cozinhar — aí entram os ultraprocessados, que são fáceis e ficam prontos rapidamente.
“Aumentou o acesso a esses produtos e esses alimentos estão matando a fome das pessoas porque eles têm uma maior quantidade calórica, mas pouca quantidade de fibras e nutrientes. Então, tudo é muito artificial e alimenta menos”, explica a pesquisadora Luana Lara Rocha, uma das autoras do estudo, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Ela aponta que boas opções, apesar de pouco comuns, são as feiras de rua organizadas por órgãos públicos, onde são vendidos alimentos saudáveis, seguros e sem agrotóxicos a preços baixos.
Luana afirma que os dados obtidos são importantes para iluminar o problema e inspirar políticas públicas que promovam o acesso a alimentos saudáveis a preços acessíveis.
O perigo dos ultraprocessados
O consumo exagerado de ultraprocessados está relacionado ao desenvolvimento de doenças como diabetes, hipertensão e obesidade, além do aumento do risco de morte relacionada a doenças cardiovasculares.
“Normalmente, são formulações industriais com muitos aditivos químicos como conservantes, estabilizantes, corantes, edulcorantes e aromatizantes. O alto teor de sódio é comum nesses alimentos para estender a duração e intensificar o sabor, ou mesmo para encobrir sabores indesejáveis, derivados dos aditivos ou de substâncias geradas pelas técnicas envolvidas no ultraprocessamento”, afirma o site do Ministério da Saúde.
De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, a dieta ideal deve dar preferência a alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias. As opções mais ricas em vitaminas, sais minerais e outros nutrientes são importantes para o bom funcionamento do organismo.
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