Jovem de 22 anos é a 1ª pessoa do mundo a sobreviver a transplante de mãos e rosto
Paciente sofreu acidente de carro e teve 80% do corpo queimado. Cinco meses após cirurgia, ele volta a ser independente
atualizado
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Em julho de 2018, o americano Joe DiMeo voltava para casa depois de um plantão noturno quando dormiu ao volante. O carro do homem de 22 anos capotou e pegou fogo. Minutos antes de o veículo explodir, Joe foi resgatado das ferragens por motoristas que passavam pelo local.
O jovem teve 80% do corpo coberto por queimaduras de terceiro grau e ficou três meses em coma induzido. Suas pálpebras e lábios derreteram, o rosto ficou desfigurado e foi necessário amputar todos os seus dedos. Ao acordar, DiMeo precisou voltar para a casa dos pais, completamente dependente deles para qualquer ação, inclusive tomar banho e comer.
Cerca de nove meses depois do acidente, os médicos responsáveis pelo caso de Joe o encaminharam para uma consulta com Eduardo Rodriguez, diretor do programa de transplante de face, professor de cirurgia plástica reconstrutiva e chefe do departamento de cirurgia plástica do hospital NYU Langone.
“Ele é jovem, saudável, e com uma importante qualidade: é o paciente mais motivado que já conheci. Essa característica é essencial para sobreviver à cirurgia e a todo o processo pós-operatório, que envolve muita fisioterapia”, contou Rodriguez, em entrevista coletiva nesta quarta (3/2).
O médico pretendia fazer o transplante das duas mãos e do rosto, algo que nunca foi executado com sucesso em apenas uma cirurgia. No mundo, já foram feitos cerca de 100 transplantes de mãos e 50 de rosto, mas as duas cirurgias anteriores que tentaram juntar os procedimentos não deram certo, e os pacientes acabaram falecendo.
Para dificultar ainda mais, Rodriguez calculou que só havia 6% de chance de encontrar um doador que fosse ideal para Joe. Além de precisar ser alguém com tom de pele correto e tamanho dos ossos similar, todas as transfusões de sangue e enxertos de pele poderiam atrapalhar o processo de recuperação.
Ele foi colocado em uma fila de transplantes,e o time de 80 médicos começou a estudar e praticar como seria feita a cirurgia. Em março de 2020, porém, a pandemia da Covid-19 chegou aos Estados Unidos, e todos os profissionais envolvidos foram realocados para a linha de frente. Em alto risco de desenvolver um quadro grave da doença, Joe foi mantido em isolamento.
Em agosto do ano passado, foi encontrado um doador perfeito para o jovem. Em plena pandemia, Joe foi admitido no hospital para finalmente passar pela cirurgia, e a equipe médica precisou ser reorganizada para dar conta do procedimento.
“No dia da cirurgia, como eu sempre faço, fui perguntar se ele queria desistir. A última palavra é dele, se falasse que não, iríamos desfazer tudo. Ele poderia morrer, ou ficar pior do que estava antes. A resposta veio sem hesitação, e ele queria entrar na sala de cirurgia o quanto antes”, lembra Rodriguez.
O procedimento durou 23h. Foram conectados dois ossos, 21 tendões, cinco veias, duas artérias e três nervos, para garantir que a face e as duas mãos funcionassem corretamente.
Depois da cirurgia, Joe passou 45 dias internado, depois foi transferido para um instituto de reabilitação, onde permaneceu por mais 57 dias. Lá, começou a reaprender como mexer as mãos. Em casa, o primeiro pedido foi comer um hambúrguer sozinho.
Hoje, cinco meses depois do procedimento histórico, ele passa por mais de cinco horas diárias de terapia. As habilidades motoras estão voltando mais rápido do que o esperado, e ele segue motivado.
Agora, já recuperou parte da independência, podendo se alimentar e tomar banho sem ajuda, e espera voltar ao trabalho em breve. Joe já consegue jogar sinuca e dar algumas tacadas em um jogo de golfe, e pretende trabalhar com esportes no futuro.
“Quero que as pessoas na mesma situação que eu tenham esperança ao ouvir a minha história. Eu ganhei uma segunda chance na vida. Ainda estou me recuperando, mas já pude voltar para várias atividades. Estou muito feliz com os resultados”, disse Joe na coletiva de imprensa. Ele agradeceu ainda à equipe médica, aos pais, aos empregadores e ao doador.
“Estou motivado para não parar, a continuar sempre em frente. Há uma luz no fim do túnel, não podemos desistir. A parte mais difícil deste processo é saber que eu posso recuperar meus movimentos, mas ainda vai levar tempo”, conta.