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Sucesso! Saiba como Paraíba e Amapá baterem metas de vacinação

Os estados passaram de piores coberturas vacinais para exemplos nacionais após projeto da Fiocruz que levou informação às comunidades

atualizado

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Claudivino Antunes/Prefeitura de Aparecida
Foto colorida de um bebê durante campanha de vacinação - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de um bebê durante campanha de vacinação - Metrópoles - Foto: Claudivino Antunes/Prefeitura de Aparecida

Florianópolis – Uma das maiores batalhas dos médicos infectologistas e pediatras brasileiros é fazer com que o país volte a alcançar as metas de cobertura vacinal, em queda desde 2015.

Coordenado pela Bio-Manguinhos/Fiocruz, o Projeto pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais (PRCV) é um exemplo de que isso é possível, desde que informações acessíveis sejam levadas às comunidades.

A iniciativa levou dois dos estados com as piores taxas de imunização do país – Paraíba e Amapá – a atingir a meta de 95% de crianças vacinadas contra a paralisia infantil (poliomielite) em 2022.

Em 2021, o Amapá teve a pior cobertura vacinal contra a paralisia infantil entre as 27 unidades federativas, apenas 44,2% dos bebês menores de um ano receberam as três doses da vacina inativada poliomielite (VIP). A Paraíba ficou em 18º lugar no mesmo ano, com 68,4% de cobertura, enquanto a média nacional era de 69,9%, segundo dados do Ministério da Saúde.

Os resultados do projeto foram apresentados durante a 25ª Jornada Brasileira de Imunizações, realizado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Florianópolis (SC), entre os dias 19 e 23 de setembro.

“O termo reconquista se refere a algo que você perdeu e quer de volta. Quando você quer uma coisa, você faz de tudo para ter e a gente precisa fazer isso no Brasil. Fazer com que as pessoas envolvidas em vacinação sintam o desejo de reconquistar o que já foi delas”, conta a coordenadora do projeto, Lurdinha Maia, gerente do Departamento de Assuntos Médicos, Estudos Clínicos e Vigilância Pós-registro (Deame) de Bio-Manguinhos/ Fiocruz.

 Resgate da vacinação

A iniciativa está dividida em três eixos: 1) qualificação das equipes, melhoria da infraestrutura das salas de imunização e garantia do acesso às vacinas; 2) melhorar os sistemas de informação, com a elaboração de propostas para otimizar e integrar as bases de dados; e 3) comunicação e educação, com o propósito de dialogar com a população e articular com o poder público, instituições, organizações sociais e lideranças comunitárias uma grande rede de incentivo à vacinação.

O Amapá foi escolhido para receber a iniciativa por ser o estado com maior número de casos de sarampo e a Paraíba, por já ter uma rede de colaboração prévia organizada para a realização de estudos clínicos em universidades.

“Cada território tem uma realidade diferente. Este modelo pode ser aplicado em qualquer um dos 5.570 municípios, com um plano que abranja os três eixos. Fazer um trabalho desses também envolve custos, aumentar o número das salas de vacina, contratar pessoas e ter viaturas para fazer distribuição das vacinas”, afirma Lurdinha, da Fiocruz.

O PRCV é uma iniciativa do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) em parceria com o Departamento de Imunização e Doenças Imunopreveníveis (substituindo o antigo Programa Nacional de Imunizações), do Ministério da Saúde, com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Jovens Repórteres

No eixo da comunicação, dois projetos se destacaram: o Jovens Repórteres, na Paraíba, e o Teatro Maiuhi, no Amapá. Para o presidente da Central Única das Favelas (Cufa) Paraíba, Emerson do Nascimento Silva, envolvido no projeto, os principais desafios para a adesão das famílias à vacinação foram a descrença na vacina e a disseminação de fake news nas comunidades.

Reverter este cenário foi possível com o Jovens Repórteres, que capacitou 30 jovens de nove comunidades de João Pessoa para levar informação sobre saúde para os moradores dessas localidades. “Conseguimos furar a bolha e levar informação verdadeira para os territórios. O projeto tem uma linguagem que vai diretamente para os moradores dos territórios no qual temos representação”, conta.

Iohanna Ramos, 22 anos, do Quilombo Paratibe; Sandra Rodolfo, 30, da comunidade Vista Alegre; e Thales Ferreira, 21, da comunidade São José, estão entre os protagonistas da iniciativa, eles fizeram a ponte entre a linguaguem da ciência e a das suas comunidades.

“A gente converte o diálogo das palestras – com palavras difíceis para as pessoas das comunidades –, tentando encaixar o máximo possível na língua deles, para que possam entender realmente a importância da vacinação”, explica Iohanna.

“Com um trabalho de formiguinha, no boca a boca, o projeto conseguiu fazer exatamente o que ele foi proposto, alcançar as comunidades e as regiões onde o governo federal não consegue chegar”, conta Thales.

Teatro Maiuhi

No caso do Amapá, além das fake news, os povos indígenas tinham uma resistência maior à vacinação devido ao histórico de mortes em massa por epidemias e pandemias. “A vacinação não foi simples. Eles reproduziam que ‘o branco nunca traz nada de bom para a gente. Eles querem testar na gente porque não têm coragem de tomar a vacina’. Foi algo muito complicado”, afirma a responsável pelo Programa de Educação Tutorial – Conexão de Saberes (PET-Indígena), Elissandra Barros.

Elissandra tem cerca de 20 anos de experiência de estudos com povos indígenas. Diferentemente da Paraíba, os pesquisadores precisaram levar em consideração o modo de vida e a cosmovisão dessas populações.

Dentro das comunidades indígenas, a crença de que os vacinados virariam jacaré, como foi sugerido durante a pandemia pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, teve uma repercussão muito forte porque a metamorfose de seres humanos em animais está relacionada ao rompimento de regras do povo.

“Eles entendem que se você rompe uma regra, terá um castigo. Nós precisávamos de uma forma de desconstruir isso em relação às vacinas”, conta Elissandra. Escolher os “tradutores” do saber científico entre as pessoas da comunidade, que têm a confiança de seus pares, mostrou o caminho para reverter as falhas da cobertura vacinal.

A repórter viajou para Florianópolis a convite da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

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