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“Paradoxo do colesterol”: por que alguns com taxas altas vivem mais?

Estudos recentes mostram que, em certos grupos, ter colesterol alto pode estar associado a uma maior expectativa de vida

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1 de 1 Imagem colorida de moléculas de colesterol na corrente sanguínea - Metrópoles - Foto: Sebastian Kaulitzki/Science Photo Library/Getty Images

O artigo foi escrito por Estefanía Díaz del Cerro, pesquisadora associada do grupo de investigação sobre Envelhecimento, Psiconeuroimunoendocrinologia e Nutrição da Universidade Complutense de Madri, na Espanha, e publicado originalmente na plataforma de divulgação científica The Conversation.

“Quando meu médico me disse que eu estava com colesterol alto, fiquei assustado. Sempre ouvi dizer que é fator de risco para doenças cardíacas”, diz Juan, 56 anos. “No entanto, meus parâmetros de saúde eram excelentes. O médico me disse que algumas pessoas com colesterol alto podem até viver mais. Eu não entendi, isso não deveria ser ruim?

A história de Juan não é tão excepcional. Durante anos, o colesterol foi considerado um dos principais inimigos da saúde e a redução dos seus níveis tem sido um objetivo prioritário na medicina. No entanto, estudos recentes mostram que, em certos grupos – especialmente nos idosos – ter um marcador alto pode estar associado a uma maior expectativa de vida. Este fenômeno é chamado de “paradoxo do colesterol”.

Uma gordura onipresente

O colesterol é uma gordura encontrada em todas as células do corpo e é essencial para manter sua estrutura. Desempenha funções importantes, como reparação celular e produção de hormônios, vitamina D e substâncias que auxiliam na digestão.

Como as gorduras não se dissolvem no sangue, elas viajam pela corrente sanguínea ligadas às proteínas, formando o que é conhecido como lipoproteínas.

Há dois tipos principais de colesterol: o “ruim” (lipoproteína de baixa densidade, ou LDL) e o “bom” (lipoproteína de alta densidade, ou HDL). Na Espanha, por exemplo, recomenda-se um colesterol total ideal inferior a 200 miligramas por decilitro (mg/dL). Os limites de LDL variam: menos de 115 mg/dL para baixo risco cardiovascular, menos de 100 mg/dL para risco moderado, menos de 70 mg/dL para alto risco e menos de 55 mg/dL para risco muito alto. Os parâmetros de HDL devem ser superiores a 40 mg/dL em homens e 50 mg/dL em mulheres.

Durante anos, acreditou-se que níveis elevados de colesterol LDL aumentavam as chances de doenças cardíacas porque ele pode acumular-se nas paredes das artérias e bloquear o fluxo sanguíneo. No entanto, a relação entre esta substância gordurosa e a mortalidade é mais complexa do que se pensava inicialmente.

Limites polêmicos

A evolução dos valores limites nas diretrizes clínicas tem suscitado controvérsia, especialmente no que diz respeito à influência da indústria farmacêutica. Com a diminuição dos níveis recomendados de colesterol LDL, o número de pessoas tratadas com estatinas aumentou, o que alguns consideram benéfico para o setor. Além disso, a participação de especialistas financiados por empresas farmacêuticas nos comitês que estabelecem estas diretrizes levantou questões sobre possíveis conflitos de interesses.

Vários estudos questionam a redução extrema do LDL, especialmente em pessoas sem histórico cardíaco. Em 2016, o médico dinamarquês Uffe Ravnskov e a sua equipe descobriram que não havia relação entre níveis elevados de LDL e um risco aumentado de morte. Na verdade, muitos com colesterol “ruim” mais elevado viveram mais do que outros com níveis baixos. Alguns estudos apoiam estes resultados.

É importante esclarecer que isso não significa que ter colesterol alto seja bom. Em jovens ou pessoas de meia-idade, o LDL elevado aumenta o risco de doenças cardíacas e mortalidade.

Por que ocorre o paradoxo do colesterol?

Existem várias teorias que tentam explicar o “paradoxo do colesterol”. A mais aceita é que o LDL poderia desempenhar um papel protetor no sistema imunológico. Estudos sugerem que esta lipoproteína pode ajudar a combater infecções, ligando-se a bactérias e vírus e neutralizando-os. Isto é especialmente importante em pessoas idosas, cujo sistema defensivo é geralmente mais fraco.

Outra teoria sugere que fatores adversos de risco, como pressão alta, diabetes ou tabagismo, influenciam mais as doenças cardíacas do que o colesterol. Ter esse parâmetro elevado não seria o principal culpado, mas sim atuaria em conjunto com esses outros fatores.

Há excesso de tratamento?

O “paradoxo do colesterol” destaca uma diferença fundamental entre a prevenção secundária e a primária nos tratamentos para manter os níveis sob controle. Na secundária (para pessoas com histórico de doenças cardíacas), os benefícios do uso de estatinas são amplamente apoiados por evidências científicas: esses medicamentos reduzem significativamente o risco de eventos cardíacos futuros.

Contudo, na prevenção primária (pessoas sem histórico de doença cardíaca), a relação entre a redução do colesterol LDL e a diminuição do risco cardiovascular não é tão clara ou forte. Nestes casos, os efeitos colaterais do medicamento (como dores musculares, diabetes e problemas hepáticos) podem ser desproporcionais aos seus benefícios potenciais.

A ampliação dos limites de colesterol considerados “normais” aumentou o número de pessoas sem sintomas cardíacos recebendo terapia medicamentosa. Esta abordagem preventiva suscitou debate sobre o risco de tratamento excessivo e o custo associado à prescrição de medicamentos a pessoas com baixo risco cardiovascular. Para estes pacientes, os benefícios das estatinas podem ser mínimos, enquanto os efeitos adversos e os custos do tratamento prolongado seriam desproporcionais ao benefício clínico.

Concluindo, o colesterol elevado está relacionado a doenças cardíacas, mas a situação é mais complexa em idosos. Isto sugere que o tratamento deve ser personalizado e equilibrado à medida que envelhecemos.The Conversation

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