Para OMS, não há provas de que a pandemia de Covid-19 começou em Wuhan
Equipe de pesquisadores encontrou evidências de que o Sars-CoV-2 circulava em outros locais. Ainda não se sabe a origem definitiva do vírus
atualizado
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Em uma coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (9/2), representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmaram que não há evidências suficientes que apontem a cidade chinesa de Wuhan como epicentro da pandemia de coronavírus. Uma comissão de 40 cientistas da OMS foi enviada ao mercado de frutos do mar de Huanan no dia 14 de janeiro, para investigar a origem do Sars-CoV-2.
Além do mercado de Huanan, os cientistas visitaram outros locais de Wuhan e conversaram com pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan para entender dados recentes sobre o coronavírus.
Ben Embarek, presidente da equipe de investigação, afirmou que acreditava-se que os primeiros casos de pneumonia de causa desconhecida estariam relacionados à cidade chinesa e, portanto, à origem do Sars-CoV-2. Pesquisas posteriores mostraram, contudo, que o vírus já estava presente em outros mercados e havia contaminado pessoas sem relação com o mercado de Huanan.
De acordo com registros oficiais, o primeiro contágio havia ocorrido em 12 de dezembro de 2019. Segundo Liang Wannian, chefe do painel de especialistas em Covid-19 na Comissão Nacional de Saúde da China, os cientistas descobriram, porém, que já haviam registros de casos comprovados da infecção em 8 de dezembro, novamente em pacientes sem conexão com o mercado de frutos do mar.
O presidente da equipe de investigação, Ben Embarek, afirmou que as inspeções em laboratórios e entrevistas feitas com pesquisadores chineses provaram que o Sars-CoV-2 não estava sendo estudado em Wuhan. Por isso, a possibilidade do coronavírus ter escapado de um laboratório também foi considerada “extremamente improvável”, de acordo com especialistas em segurança alimentar e doenças animais da OMS.
Os pesquisadores da OMS, bem como a comunidade científica internacional, também refutaram a hipótese de que o vírus poderia ter sido desenvolvido em laboratório e disseminado posteriormente.
Principais hipóteses
Ainda não há resposta definitiva para explicar de onde o Sars-CoV-2 surgiu, mas os especialistas da OMS trabalham com três hipóteses principais. A primeira seria a transmissão direta de uma espécie animal silvestre para um humano. A segunda alternativa seria a introdução do vírus em uma espécie intermediária, mais próxima dos humanos, no qual o micro-organismo circulava antes de ser transmitido aos homens. Por fim, os cientistas trabalham com a possibilidade do coronavírus ter sido disseminado por alimentos, principalmente congelados.
Liang Wannian, chefe do painel de especialistas Covid-19 na Comissão Nacional de Saúde da China, afirmou que a equipe não conseguiu identificar qual animal pode ter sido o hospedeiro original do coronavírus. Morcegos e pangolins são os principais suspeitos, porém linhagens já sequenciadas destes bichos não foram “suficientemente similares” ao patógeno para garantir essa associação.
De acordo com Ben Embarek, algumas pesquisas apontam para os morcegos como reservatórios naturais do Sars-CoV-2, mas o especialista acredita que há poucas chances de que eles tenham sido a principal fonte de contágio na China.
Cientistas chineses estão estudando e testando diversas espécies de animais para tentar descobrir qual bicho pode ter servido como hospedeiro para o coronavírus. Visons e gatos já demonstraram alta suscetibilidade ao patógeno, mas os pesquisadores também estudam mais de 40 mil amostras de sangue de porcos, vacas, cabras, patos e galinhas. Por enquanto, nenhum deles deu positivo para o Sars-Cov-2.
De novembro de 2019 a março de 2020, os pesquisadores realizaram testes para anticorpos em 1.914 amostras de sangue de 35 espécies silvestres do entorno de Wuhan, mas todos testaram negativo para o vírus. Quando o coronavírus se alastrou pelo mundo, outras 50 mil amostras de mais de 100 espécies animais de Wuhan, da província de Hubei e de províncias próximas também foram testadas, mas apresentaram resultado negativo para Sars-CoV-2.
De acordo com a comissão, a contaminação de humanos pelo Sars-Cov-2 não pode ser estabelecida antes de novembro de 2019, já que a revisão de dados e amostras de hospitais, bancos de sangue e centros de vigilância sanitária de Wuhan não encontrou a presença do vírus até esta data. Contudo, segundo Liang, o coronavírus já circulava algumas semanas antes dos primeiros casos serem relatados.
A revisão dos dados de mortes por pneumonia em Wuhan e na província de Hubei, de junho a dezembro de 2019, também não mostram evidência de transmissão do Sars-Cov-2 na população antes de dezembro.