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Pandemia também provoca estresse em crianças. Saiba identificar sinais

O estresse crônico pode prejudicar o desenvolvimento. Comportamentos como birras e choro excessivo são sinais de alerta

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Timothy Eberly/Unsplash
menino de braços cruzados estressado com raiva
1 de 1 menino de braços cruzados estressado com raiva - Foto: Timothy Eberly/Unsplash

O isolamento social e os crescentes casos de infecção e mortes causadas pela Covid-19 não afetam somente a saúde mental dos adultos. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) com 7 mil pais de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, a pandemia tem causado sintomas de ansiedade ou depressão em nível clínico entre essa faixa etária.

De acordo com as respostas do levantamento, 27% das crianças e adolescentes apresentaram sintomas depressivos e de ansiedade com necessidade de avaliação profissional por conta da pandemia.

Danielle Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que o estresse elevado e contínuo pode gerar danos irreversíveis ao desenvolvimento neuropsicomotor das crianças.

“A evolução do indivíduo depende da genética e do ambiente que o cerca. Durante a pandemia, esse ambiente tende a se tornar inapropriado para o crescimento adequado de uma criança, que está em intenso desenvolvimento cerebral”, justifica a psiquiatra.

A especialista alerta que toda a estrutura cerebral da criança pode ser afetada quando ela é exposta ao estresse constante, provocando disfunções em seus sistemas neurológico e endócrino. “Essas alterações se refletem na vida adulta, com o desencadeamento de doenças crônicas, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doenças pulmonares, transtornos mentais (como depressão ou transtorno de ansiedade generalizada) e maior risco à dependência química”, enumera Admoni.

Como ainda não possuem ferramentas emocionais para verbalizar diretamente o que as incomoda, as crianças expressam o estresse de forma indireta, de acordo com Anibal Okamoto, psiquiatra especialista em pesquisa clínica do Instituto Meraki Saúde Mental. “Em geral, quanto mais nova a criança, mais físicos e gerais são os sintomas”, detalha.

Como identificar o estresse infantil

No aspecto emocional e comportamental, Okamoto explica que é comum que ocorra irritabilidade, aumento das birras, teimosia, regressão a fases anteriores (como falar com erros que já havia superado, chupar o dedo ou fazer xixi na cama), isolamento, dificuldade em controlar emoções ou cooperar, piora ou aparecimento de novos medos e ainda a recusa em brincar, estudar, ou fazer atividades que gostava.

Outro sintoma importante é quando as atitudes da criança evoluem para quadros mais intensos de agitação, agressividade, personalidade introspectiva, sentimento de incompetência e déficit de atenção.

O papel do ambiente e dos cuidadores é fundamental para lidar com uma criança estressada, segundo o psiquiatra. “Isso porque até mais importante que o evento estressor é a percepção que a criança tem dele”, explica Anibal Okamoto.

“O primeiro passo é fortalecer o vínculo com a criança, sobretudo por meio do diálogo a respeito do assunto (nesse contexto, a pandemia). Isso ajuda a esclarecer e a tranquilizar a mudança na rotina e a atenuar o efeito do estresse. É importante falar com a criança de forma que ela entenda, perguntando o que ela está pensando, sentindo e explicando em termos simples”, ensina o médico.

Para crianças que perderam pessoas por conta da Covid-19, a orientação é considerar a idade da criança quando o assunto vier à tona. “As crianças mais novas não entendem de forma clara que a morte é um evento permanente”, justifica Okamoto.

Segundo o especialista, é importante estimular a criança a falar sobre o que ela está sentindo e incluí-la nas atividades e rituais que lembrem o ente querido, mesmo o velório e funeral. “Também convém esclarecer que não foi a criança que causou aquilo, que a pessoa não quis morrer ou abandoná-la, que a pessoa não vai voltar mesmo (não dar falsas esperanças) e sobretudo confortar e assegurar que ela continuará bem, segura e amada”.

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