Pandemia aumentou mortes entre grávidas e complicações gestacionais
Pesquisa que reuniu dados de 17 países mostra que a Covid-19 também elevou o número de óbitos fetais e de casos de gravidez ectópica
atualizado
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Uma revisão de estudos conduzida pela George’s University of London, no Reino Unido, mostrou um panorama dos efeitos da pandemia de Covid-19 durante a gestação e possíveis repercussões que a contaminação da gestante pode trazer ao feto. Segundo o estudo, mais mulheres grávidas morreram, tiveram complicações ou deram à luz bebês natimortos durante a pandemia do que em anos anteriores.
Os pesquisadores avaliaram 40 estudos envolvendo mais de 6 milhões de gestações em 17 países, incluindo o Brasil. Os resultados variaram por país, mas uma das conclusões do trabalho é que o número de óbitos fetais aumentou 28%, enquanto o risco de mulheres morrerem durante a gravidez ou o parto subiu mais de um terço em países como México e Índia.
A análise dos dados agrupados mostrou que as taxas de natimortalidade e mortalidade materna aumentaram em aproximadamente um terço durante a pandemia em comparação com o período pré-Covid. O número de mulheres que precisaram de cirurgia para gravidez ectópica (quando o óvulo fertilizado é implantado fora do útero) aumentou quase seis vezes durante a pandemia em todos os estudos.
Os cientistas também encontraram evidências de que interrupções no atendimento e o medo das pacientes de se infectarem em clínicas e serviços de saúde aumentaram o número de mortes evitáveis de mães e fetos, especialmente em países de baixa renda.
Os indicadores de saúde mental também pioraram durante a pandemia. Dos 10 estudos incluídos na análise sobre saúde mental materna, seis relataram um aumento de depressão pós-parto, ansiedade materna ou ambos. Os dados foram publicados na revista científica The Lancet Global Health.
Para os autores da análise, o acréscimo de resultados adversos pode estar relacionado, principalmente, à ineficiência dos sistemas de saúde e sua incapacidade de lidar com a pandemia, agravando ainda mais o enfrentamento da situação.
“A pandemia Covid-19 teve um impacto profundo nos sistemas de saúde em todo o mundo. Interrupção dos serviços, bloqueios em todo o país e medo de ir às instalações de cuidados significam que se espera que os efeitos adversos da Covid-19 tenham consequências para a saúde que vão além das mortes e doenças causadas pelo próprio vírus”, escreveu Asma Khalil, principal autora do estudo.
Gravidez ectópica
Para Thomaz Gollop, professor colaborador de ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, o aumento dos casos de gravidez ectópica possivelmente está relacionado ao processo inflamatório provocado pelo coronavírus, que dificulta a passagem do óvulo fecundado. “Se não diagnosticado, com a evolução da gestação, pode ocorrer o rompimento da trompa e uma grave hemorragia”, alerta o médico.
O estudo evidencia a carência de informação direcionada especificamente às mulheres em idade fértil e às gestantes, sobre os riscos, os cuidados e as repercussões de uma possível infecção pelo coronavírus na gestação, de acordo com Gollop.
“Alertar as gestantes sobre a importância de realizar os exames pré-natais, mesmo durante a pandemia, seguir as orientações médicas e procurar atendimento em caso de dúvidas ou de qualquer intercorrência poderia ter evitado o aumento desses números, que já são muito altos no Brasil”, aponta o especialista.
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