Paciente de Covid-19 ganha 2ª chance após transplante duplo de pulmão
Caso aconteceu no Canadá e, por não ter comorbidades, paciente de 61 anos foi considerado apto a receber doação de órgão
atualizado
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Médicos da University Health Network, uma rede pública de pesquisa e ensino hospitalar em Toronto, no Canadá, realizaram o que acreditam ser o primeiro transplante duplo de pulmão em um paciente que apresentou Covid-19 grave. Segundo os especialistas, o órgãos estava “irremediavelmente danificado” pela doença. O artigo científico que explora considerações para avaliação de transplantes pulmonares em pacientes com coronavírus foi publicado na revista científica The Lancet Respiratory Medicine.
O paciente, Timothy Edwards Sauvé, 61 anos, foi infectado pelo Sars-CoV-2 em dezembro de 2020. No início, os sintomas da doença eram parecidos com os de um resfriado comum, porém, em questão de dias, a doença progrediu e ele precisou ser hospitalizado.
O paciente foi encaminhado ao hospital para avaliação de transplante cerca de dois meses depois. A equipe multidisciplinar do Programa de Transplante Pulmonar de Toronto classificou-o como apto a passar pelo transplante, uma vez que ele não tinha nenhuma comorbidade que o colocasse em maior risco de infecção ou complicações maiores.
Timothy recebeu o órgão doado em fevereiro deste ano. “Foi uma jornada e tanto e sou muito grato à minha equipe médica e ao meu doador. Eu estava em ótima forma física, então nunca pensei que ficaria tão doente de Covid-19. Ainda não parece real para mim, e espero que minha história mostre às pessoas como essa doença pode ser perigosa”, disse Sauvé à equipe médica.
Luta pela vida
Quando ainda estava internado, Timothy precisou do suporte de uma máquina de respiração mecânica, também conhecida como ventilador, por conta de uma queda brusca em seus níveis de oxigênio. Como o paciente não apresentava sinais de melhora, os médicos chegaram à conclusão de que o equipamento não seria suficiente para mantê-lo vivo.
Conforme sua situação piorava, Timothy acabou precisando da terapia avançada de suporte pulmonar chamada oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). O tratamento é feito por uma máquina que bombeia e oxigena o sangue fora do corpo, proporcionando tempo de cura e alívio aos pulmões danificados.
“Poucas semanas depois dele ter eliminado o vírus, ficou muito claro que os pulmões do paciente estavam severa e permanentemente danificados e que não se recuperariam. Sua única chance de sobrevivência seria recebendo um transplante”, explica Marcelo Cypel, diretor cirúrgico do Centro de Transplante Ajmera e cirurgião que liderou a equipe que realizou a operação.
De acordo com Cypel, o transplante é um tratamento com grande potencial de salvar vidas, mas para um subgrupo muito pequeno de pacientes com Covid-19. No entanto, com as variantes do coronavírus infectando cada vez mais pacientes jovens e saudáveis, o especialista acredita que o número de encaminhamentos para transplantes pulmonares dever crescer. Atualmente, o programa de transplantes canadense está avaliando outros três pacientes com coronavírus como candidatos a transplante.
Quando o transplante pulmonar pode ser feito
De acordo com os especialistas que participaram da operação, o transplante pulmonar após a Covid-19 é uma terapia recomendada apenas em circunstâncias excepcionais. Isso porque a maioria dos pacientes que desenvolvem infecção grave por conta da doença podem ter outros fatores de risco e complicações causadas pela própria Covid-19, o que poderia comprometer as chances de sucesso de uma cirurgia tão delicada.
O transplante não é uma cura para a Covid-19, segundo Shaf Keshavjee, diretor do Programa de Transplante Pulmonar de Toronto. “Dada a natureza das infecções por Covid, o transplante só é recomendado em condições em que os pulmões estão realmente destruídos pela doença e sem esperança de recuperação, e o paciente é forte o suficiente para passar pela cirurgia”, explicou o médico. “Neste caso descrito no artigo, com o apoio de ECMO e intensa reabilitação, ficamos muito felizes em ver que proporcionou uma segunda chance de vida para o Sr. Sauvé”.
A recuperação de um paciente que passa por um transplante envolve um período de reabilitação ainda no hospital, para que a pessoa possa retomar suas forças antes de ir para casa. O treinamento visa aumentar a resistência e a energia necessárias para que o indivíduo seja capaz de treinar novamente os músculos e, assim, voltar a realizar suas tarefas diárias, segundo os especialistas.
Atualmente, Timothy Sauvé apresenta função pulmonar excelente e não precisa mais de suporte de oxigênio. Ele foi transferido para o Toronto Rehab Bickle Centre, pertencente à própria University Health Network, onde uma equipe multidisciplinar trabalha para melhorar sua mobilidade, função pulmonar e qualidade de vida.
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