Paciente conta como superou diagnóstico de metástase de câncer de mama
Para Grasielli Peres, 44 anos, o diagnóstico foi mais difícil do que o do câncer. Hoje, ela se dedica a ajudar mulheres na mesma situação
atualizado
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Receber o diagnóstico de câncer de mama é um momento duro e delicado para qualquer paciente que tem contato com a doença pela primeira vez. Pior ainda se o tumor está se espalhando para o restante do corpo — para a catarinense Grasielli Peres, 44 anos, a notícia da metástase foi ainda mais devastadora.
A falta de conhecimento em meados de 2015 a levou a acreditar que não teria muito tempo de vida pela frente ou a possibilidade de ver o filho, Vitor, crescer. Hoje, sete anos depois, ela segue firme com o tratamento e se dedica ao trabalho voluntário no Instituto Oncoguia.
Grasi leva informação para mulheres de todo o Brasil através das redes sociais com o perfil Minha Vida Superando Câncer, onde compartilha experiências pessoais para mostrar que existem muitas possibilidades de viver com o diagnóstico.
Susto aos 33 anos
A pedagoga descobriu que tinha câncer de mama em 2011, aos 33 anos. Ela planejava engravidar pela segunda vez quando descobriu o tumor por acaso, durante o check-up anual. A médica percebeu uma alteração nos resultados do preventivo e pediu uma investigação mais detalhada. O câncer era inicial, mas estava localmente em estágio avançado e grave.
Na época, Grasi não conseguia entender como uma mulher jovem, sem histórico familiar da doença, que não fumava nem bebia, poderia receber tal sentença. “Foi impactante. Todo mundo tem essa mesma sensação, mas eu era jovem, querendo engravidar e aumentar a minha família. Tinha acabado de passar em um concurso público, algo que eu tanto almejava. Foi uma rasteira”, lembra.
Com o diagnóstico em mãos e as características do tumor, ela fez uma pesquisa na internet e “descobriu” que seu quadro poderia levá-la a ter uma expectativa de vida de seis meses. A paciente então resolveu tornar cada um desses dias o mais especial possível para o filho, que tinha apenas 4 anos. Ela queria deixar memórias para a família.
“Eu tinha certeza de que morreria. Queria fazer dos meus seis meses de vida os melhores. Refleti sobre o que fiz, o que deixei de fazer e o que poderia ser feito, como eu deixaria o meu filho de apenas 4 anos, mas também encarei a doença de frente e enfrentei todas as possibilidades do tratamento”, diz.
As sessões de quimioterapia, uma mastectomia, radioterapia e o tratamento com bloqueadores hormonais garantiram a Grasi muito mais do que o tempo decretado pela internet.
No início de 2015, a catarinense foi surpreendida novamente. Após apresentar sintomas de alterações pulmonares, com tosse repetida, falta de ar e voz trêmula, ela descobriu o câncer metastático pulmonar em estágio inicial.
“Se é que isso é possível, a informação da metástase é pior do que a do câncer. Você descobre que ele se espalhou e precisa passar por tudo de novo. Eu já tinha me preparado com a informação de que morreria antes”, conta.
Metástase
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 35% dos diagnósticos de câncer de mama anuais são metastáticos — apenas em 2022, mais de 23 mil mulheres receberão a notícia que o câncer está se espalhando.
Apesar de significar que o tumor está avançando e já está presente em outros órgãos além do original, a onco-hematologista Gabriela Prior, diretora da Daiichi Sankyo, explica que o câncer metastático não é uma sentença de morte.
“Nas últimas décadas, as mulheres que eram diagnosticadas com câncer de mama tinham baixa expectativa de vida, porém o cenário da oncologia passou por uma grande transformação nos últimos anos. As terapias disponíveis já são capazes de retardar a progressão da doença ao ponto da paciente continuar suas atividades da vida cotidiana”, afirma.
Segundo a especialista, o câncer hoje já começa a ser encarado como uma doença crônica, e a expectativa de vida foi ampliada de forma considerável.
“Não podemos medir com exatidão qual será o tempo de expectativa de vida dessa paciente, pois isso dependerá de diversos fatores, como idade, estilo de vida e resposta aos tratamentos. No entanto, observa-se que sim, hoje em dia, mais pacientes de câncer de mama conseguem seguir o seu tratamento ao longo de muitos anos”, explica.
Superação
Grasi encarou o desafio de frente, mais uma vez. A metástase foi controlada após seis sessões de quimioterapia. Atualmente, ela volta ao consultório médico a cada 21 dias para fazer terapia com medicações que mantêm as células do câncer adormecidas.
O filho Vitor completou 15 anos e a catarinense continua fazendo o possível para estar presente em todos os momentos da vida dele. “Com o tempo a gente entende que não existe prazo. Ninguém sabe quando a morte vai acontecer. Nós temos que viver a vida da melhor maneira possível dentro das nossas possibilidades”, diz.
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