ONU: masculinidade tóxica diminui expectativa de vida dos homens
Estudo mostra que comportamentos associados às expectativas da sociedade farão com que um em cada cinco homens não completem 50 anos
atualizado
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O estereótipo do macho que não precisa de ajuda, não chora e não compartilha seus sentimentos pode ser mais maléfico do que se imagina. Um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), organismo internacional de saúde pública parte da Organização das Nações Unidas (ONU), revelou que a masculinidade tóxica pode contribuir significativamente para colocar a vida dos homens em risco.
De acordo com o documento, feito com base em análises da literatura, pesquisas e opiniões de especialistas, os homens vivem quase 6 anos menos do que as mulheres na região das Américas. As diferenças na mortalidade entre homens e mulheres começam a surgir por volta dos 10 anos de idade e aumentam rapidamente a partir dos 15.
Na adolescência, predominam mortes de causas violentas, como homicídios, acidentes e suicídio. Assim, a taxa de mortalidade de homens jovens é cerca de 4 a 7 vezes maior que a de mulheres jovens. Para cada mulher vítima de homicídio, sete homens perdem a vida da mesma forma. No quesito acidente de carro, a cada óbito feminino na estrada, há três homens.
O fato de os homens cuidarem menos da saúde do que as mulheres faz com que, a partir dos 50 anos, as doenças crônicas não transmissíveis comecem a afetá-los consideravelmente. Assim, segundo o relatório, embora nasçam mais meninos do que meninas (105 meninos para cada 100 meninas), esse número começa a se inverter entre os 30 e os 40 anos. Entre as pessoas com mais de 80, já existem 190 mulheres para cada 100 homens.
Em parte, isso se deve a estereótipos relacionados ao que é ser homem na sociedade, como a ideia de que eles são os provedores da família, sexualmente dominantes, evitam discutir suas emoções ou procurar ajuda. Tais comportamentos contribuem para maiores taxas de suicídio, por exemplo, além de homicídios, vícios e acidentes de trânsito, bem como doenças crônicas não transmissíveis.
A masculinidade tóxica também induz os homens a comportamentos de risco. Eles morrem duas vezes mais de cirrose hepática causada pelo álcool do que mulheres, por exemplo. Muitas das principais causas de morte entre homens, como doenças cardíacas, violência interpessoal e acidentes de trânsito, também estão relacionadas a comportamentos socialmente construídos como masculinos, de acordo com o relatório.
As normas de gênero socialmente impostas aos homens reforçariam a falta de cuidados pessoais e a negligência de sua saúde física e mental, segundo a OPAS. A discriminação por idade, etnia, pobreza, status de emprego e sexualidade, em conjunto com esses resultados negativos, também contribuem para a deterioração da saúde masculina. Tudo isso fará com que um em cada cinco homens morra antes dos 50 anos.
A falta de auto-cuidado e o comportamento nocivo não faz mal apenas à saúde dos homens, mas da sociedade como um todo. Violência contra mulheres e crianças, transmissão de infecções sexualmente transmissíveis, gravidez imposta e ausência de paternidade são alguns efeitos da masculinidade tóxica citados no documento.
Em nota, a chefe do escritório de Equidade, Gênero e Diversidade Cultural da Opas, Anna Coates, disse que “a socialização dos homens provoca uma ampla gama de problemas de saúde que só podem ser resolvidos por meio de políticas concentradas em suas necessidades particulares”.