Onda de Covid na China pode impactar o mundo em 2023. Entenda
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam como o aumento de casos na China pode refletir na progressão da pandemia da Covid-19
atualizado
Compartilhar notícia
O aumento do número de casos de Covid-19 na China, após o alívio da rígida política da Covid Zero adotada pelo governo nos últimos dois anos, acendeu um alerta na comunidade internacional. Autoridades temem que a alta circulação do coronavírus na Ásia leve a um novo surto global.
Embora exista um risco real do surgimento de novas variantes do vírus, especialistas ouvidos pelo Metrópoles não acreditam que elas possam nos levar a um cenário semelhante ao vivido no início da pandemia. Hoje, temos vacinas, terapias disponíveis e conhecimento sobre a doença.
“Mesmo com esse grande número de infecções na China, não acredito que haverá um aumento generalizado de mortes no mundo ou que vamos voltar à estaca zero”, avalia o professor do Instituto de Biologia da UnB, especialista em mutações de vírus, Bergmann Ribeiro.
O pesquisador Leonardo Bastos, do InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), concorda. “Após três anos de pandemia, estamos muito melhor preparados. Portanto, para início a gente não volta, mas temos que seguir acompanhando com cautela a evolução da Covid-19 não apenas na China, mas em todo o mundo”, afirma.
Bastos destaca como indicadores positivos o avanço nas taxas de cobertura vacinal e a grande quantidade de pessoas previamente infectadas, o que reduz as chances de evolução para quadros mais graves em caso de infecção ou reinfecção.
Monitoramento
Os dados mais recentes disponíveis no site Gisaid – banco online de sequenciamentos genéticos que reúne informações do mundo inteiro – mostram que a nova onda de Covid-19 na China é impulsionada por sublinhagens da variante Ômicron, com maior prevalência de casos associados às subvariantes BF.7, na região de Beijing e Fujian, e BA.5.2 em múltiplas cidades chinesas.
Representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades chinesas se reuniram na sexta-feira (30/12) para discutir a atual situação da pandemia e o aumento de casos no país.
A OMS voltou a pedir o compartilhamento regular de dados específicos e em tempo real sobre a situação epidemiológica. As informações incluem mais dados de sequenciamento genético de amostras de testes e sobre o impacto da doença, o que envolve número de hospitalizações, internações e mortes em unidades de terapia intensiva (UTI).
A entidade enfatizou a importância do monitoramento e da publicação de dados para ajudar o país e a comunidade global a formular avaliações de risco precisas e organizar respostas eficazes.
“Para fazer uma avaliação de risco abrangente sobre a situação da Covid-19 na China, a OMS precisa de informações mais detalhadas”, afirmou o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pelo Twitter, na quinta-feira (29/12).
Restrições nas fronteiras
Com o aumento de casos de Covid-19 na China, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Itália anunciaram a exigência da apresentação de teste negativo para viajantes que vieram do país asiático a partir deste mês. Nos EUA, por exemplo, o comprovante será cobrado de todos os passageiros com 2 anos de idade ou mais.
O pesquisador da Fiocruz condena a medida. Em sua avaliação, ela não garante a contenção do vírus e contribui para um comportamento xenofóbico da população. Bastos lembra que a estratégia se mostrou ineficiente em ondas passadas, quando o coronavírus surgiu em Wuhan, na China, ou quando as variantes Gama, Delta e Ômicron foram identificadas, respectivamente, no Brasil, Índia e África do Sul.
“Políticas de contenção a viajantes apenas dos locais onde o vírus ou as variantes foram identificados não evitou a dispersão deles para todo o planeta. Ou seja, essa política de restrição a viajantes da China é preconceituosa e só fomenta a xenofobia. Se quiser adotar um sistema que exija teste negativo para os viajantes, que seja para todos, e não apenas para aqueles que vêm do país A ou B”, considera Bastos.
O especialista avalia que os países deveriam investir na vigilância epidemiologia e genômica. Segundo ele, é imprescindível reforçar a capacidade analítica de monitoramento de casos, hospitalizações e óbitos para compreender a dinâmica de um surto em andamento e agir rapidamente para reduzir danos.
“O enfrentamento de outras doenças infecciosas também pode se beneficiar disso. Ou seja, uma vez que seja identificado o início de uma epidemia, será possível adotar rapidamente medidas efetivas de enfrentamento como no caso da Covid-19”, pondera Bastos.
Além disso, a população deve se atentar ao uso de boas máscaras em locais fechados, aumentar a testagem e cumprir o isolamento. Os governos devem preparar o sistema de saúde para receber os casos graves, além de avaliar o cenário com cautela, avaliando a possibilidade de cancelar aulas ou eventos caso o cenário exija tais medidas.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.