OMS pede que países adiem 3ª dose até que vulneráveis sejam vacinados
Segundo diretor, nações estão dando “coletes salva-vidas a quem já tem, enquanto milhares se afogam”
atualizado
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Em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (18/8), o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu que os países adiem a aplicação da terceira dose das vacinas da Covid-19 enquanto países de baixa renda não vacinarem pelo menos os profissionais de saúde e os idosos.
“Esse é um momento de extrema fragilidade, nunca vi tantas emergências ao mesmo tempo”, afirmou o diretor-geral, citando a crise no Afeganistão, o terremoto no Haiti, o surto de Ebola na Costa do Marfim e um caso de Marburg na Guiné, além da pandemia. “As nossas diferenças continuarão aumentando se os fabricantes e os líderes priorizarem a terceira dose no lugar de doar vacinas para países que não conseguiram imunizar nem seus profissionais de saúde”, afirmou Ghebreyesus.
Ele disse ainda que a injustiça na distribuição de vacinas é uma “vergonha para toda a humanidade”, citando o caso dos imunizantes da Johnson & Johnson que são produzidos na África do Sul, mas exportados para a Europa, onde praticamente todos os adultos já receberam doses.
“Se não lidarmos com essa situação juntos, vamos prolongar o estágio agudo da pandemia por anos quando poderíamos resolver em meses. O vírus está evoluindo e é de interesse dos líderes não focar em nacionalismo quando vivemos em um mundo interconectado”, alertou o diretor-geral.
Mike Ryan, diretor de emergências da entidade, comparou a situação a um naufrágio. “Estamos querendo dar coletes salva-vidas para quem já tem, enquanto deixamos milhões se afogarem”, afirma.
Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, lembra que não há dados até o momento que corroborem a necessidade de aplicar a terceira dose dos imunizantes na população em geral — segundo as informações disponíveis, pacientes com problemas de imunidade podem ser beneficiados, mas não se sabe se o reforço é útil para toda a população.
Os diretores afirmam que os estudos indicam uma queda na eficácia das vacinas ao longo dos meses em relação a casos leves da doença, mas os imunizantes continuam protegendo contra quadros graves e mortes, inclusive contra as infecções provocadas pelas novas variantes.