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Obesidade: como tratamentos revolucionaram o combate à doença em 2023

Aprovações de uso para novos tratamentos trouxeram uma nova perspectiva de qualidade de vida para as pessoas com sobrepeso e obesidade

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Mulher injeta medicamento para perda de peso na barriga - Metrópoles
1 de 1 Mulher injeta medicamento para perda de peso na barriga - Metrópoles - Foto: Getty Images

O sobrepeso e a obesidade causam uma série de limitações para milhões de pessoas em todo o mundo. O excesso de peso é um fator de risco importante para problemas de saúde como a diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, dores nas articulações e nas costas e alguns tipos de câncer.

Somado a tudo isso, as pessoas ainda lidam diariamente com o preconceito daqueles que acreditam que a perda de peso trata-se exclusivamente de uma questão de escolhas e querer.

“Existia um estigma de que a pessoa com obesidade poderia mudar a condição dela com força de vontade, mas entendemos a obesidade como uma doença crônica multifatorial, complexa e com uma necessidade de abordagem multidisciplinar. A mudança de vida tem um papel muito importante, mas a terapia farmacológica e a cirúrgica também têm espaço”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Paulo Augusto Carvalho Miranda.

O médico considera que as aprovações dadas em 2023 por agências reguladoras para o uso de novas classes de medicamentos para diabetes e obesidade, como a semaglutida (vendida sob as marcas Ozempic, Rybelsus e Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro e Zepbound), trouxeram uma nova perspectiva de qualidade de vida para essas pessoas.

O especialista lembra também dos benefícios da liraglutida, comercializada há mais de 10 anos sob a marca Saxenda.

Segundo Miranda, os estudos clínicos levaram a uma consolidação dos tratamentos para obesidade. Modelos com uma grande quantidade de participantes de diferentes etnias, idades e condições de saúde deram aos tratamentos um perfil de maior eficácia, muito diferente dos observados no passado.

“Estes estudos foram importantes para termos um olhar mais claro sobre o papel da terapia farmacológica no tratamento da obesidade. Ela pode ajudar na perda de peso, evitar a ocorrência de doenças relacionadas e melhorar a qualidade de vida. É uma perspectiva muito diferente da observada no passado”, afirma o médico.

Foto colorida de pessoa em balança - Metrópoles
A obesidade deve atingir quase 30% da população adulta do Brasil em 2030, segundo o IBGE

Semaglutida

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, logo no início de janeiro de 2023, o uso do Wegovy, a primeira injeção semanal indicada para obesidade. Em setembro, a aprovação se estendeu para as crianças e adolescentes com idades a partir de 12 anos.

O remédio fabricado pela Novo Nordisk usa a semaglutida como princípio-ativo. É a mesma substância do Ozempic, indicado em bula para o tratamento da diabetes tipo 2. Ambos devem ser injetados sob a pele no abdômen, na coxa ou na parte superior do braço, e as doses são semanais.

Um dos principais diferenciais entre as duas medicações é a dose de semaglutida, até o triplo da disponível no Ozempic, promovendo uma redução do peso corporal mais intensa.

Um estudo publicado na revista científica The Lancet mostrou que o uso semanal do Wegovy leva à redução de 17% do peso corporal de adultos após 68 semanas, cerca de 16 meses.

Uma pesquisa publicada no New England Journal of Medicine mostrou uma eficácia semelhante em crianças e adolescentes, com redução média de 16,1% do peso. Outro trabalho feito com jovens obesos, divulgado em maio de 2023, mostrou que 45% deles deixaram a faixa da obesidade após usar o Wegovy por 15 meses.

Embora a expectativa da liberação da Anvisa fosse grande, um ano depois, o Wegovy ainda não chegou às prateleiras das farmácias e não há previsão de quando as vendas serão iniciadas no Brasil.

Tirzepatida

Dois estudos divulgados em julho de 2023 pela farmacêutica Eli Lilly mostraram que o uso da tirzepatida leva a uma perda média de 26,6% do peso de adultos com obesidade a longo prazo. Esta é a maior eficácia observada até agora entre os remédios disponíveis para perda de peso.

A tirzepatida reduz o apetite dos pacientes a partir da ativação de dois receptores de hormônios secretados pelo intestino: o peptídeo-1, semelhante ao glucagon (GLP-1), e o polipeptídeo insulinotrópico, dependente de glicose (GIP). Como resultado, o usuário tem maior sensação de saciedade, fazendo com que coma menos e perca peso.

O princípio ativo é usado em dois medicamentos: o Mounjaro, destinado ao tratamento da diabetes tipo 2, e o Zepbound, para sobrepeso e obesidade.

O Mounjaro recebeu a aprovação da Anvisa em setembro deste ano. A Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, aprovou o uso do Zepbound em novembro. Ele é indicado para adultos com obesidade ou sobrepeso e que tenham ao menos uma condição médica relacionada ao peso – como hipertensão, diabetes tipo 2 ou colesterol alto.

Prevenção de problemas cardiovasculares

Estudos publicados ao longo de 2023 mostraram que os benefícios desses tratamentos extrapolam o controle da diabetes e perda de peso. Em agosto, a farmacêutica Novo Nordisk informou que o Wegovy reduz em 20% o risco de eventos cardiovasculares graves em adultos com sobrepeso ou obesidade.

A pesquisa foi realizada com 17,6 mil adultos com 45 anos ou mais, residentes de 41 países. Eles eram previamente diagnosticados com doença cardiovascular estabelecida (DCV).

“Vencendo o estigma de que os tratamentos farmacológicos sempre fazem mal para a saúde, vimos que ele pode ser mantido por um longo prazo, trazendo benefícios que ultrapassam a perda de peso, como a redução de desfechos como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e morte cardiovascular.

Acesso ao medicamento

O preço de venda dos medicamentos para perda de peso ainda é um fator que limita o acesso a grande parte da população. Uma caixa com quatro injeções de Ozempic, por exemplo, é encontrada nas farmácias pelo valor de R$ 1,2 mil.

Segundo Miranda, a SBEM prepara um documento para enviar ao Ministério da Saúde e iniciar uma conversa sobre a incorporação do uso de medicamentos para a perda de peso no Sistema Único de Saúde (SUS).

O médico lembra que a liraglutida, presente no Saxenda, terapia para obesidade da farmacêutica Novo Nordisk disponível há mais de uma década, perderá a patente em 2024, o que facilitará a fabricação de versões genéricas e mais baratas.

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