O que se sabe sobre hepatite misteriosa em crianças da Europa e EUA
Autoridades investigam causa de inflamações no fígado de crianças e adolescentes. Testes laboratoriais descartaram vírus tradicionais
atualizado
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades da Europa e dos Estados Unidos investigam misteriosos casos de hepatite aguda grave diagnosticados em ao menos cem crianças de países diferentes.
O fato de os testes laboratoriais terem descartado o vírus da hepatite (tipos A, B, C, D e E) como causador da inflamação no fígado dos pacientes intriga os especialistas.
No momento, as principais hipóteses averiguadas são a inflamação ter surgido em consequência de uma infecção prévia pelo Sars-CoV-2 ou ter sido causada por um adenovírus.
“Embora o papel potencial do adenovírus e/ou Sars-CoV-2 na patogênese desses casos seja uma hipótese, outros fatores infecciosos e não infecciosos precisam ser totalmente investigados para avaliar e gerenciar adequadamente o risco”, informou a OMS, em comunicado à imprensa.
Casos
Em 5 de abril, a OMS foi notificada de dez casos de hepatite de causa desconhecida na região central da Escócia. Os sintomas relatados foram icterícia, diarreia, vômito e dor abdominal, que resultaram na internação das crianças.
Três dias depois, mais 64 crianças foram diagnosticadas em outras regiões do Reino Unido. Seis delas evoluíram para quadros graves e precisaram passar por transplantes de fígado.
O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) informou, na quarta-feira (20/4), que Dinamarca, Irlanda, Holanda e Espanha também relataram casos semelhantes em crianças com idades entre 1 ano e 10 meses e 13 anos. Outros nove diagnósticos foram feitos nos Estados Unidos.
A OMS não descarta que mais casos sejam relatados nos próximos dias, tendo em vista o aumento de diagnósticos feitos nas últimas semanas.
O que é hepatite
Hepatite é um termo genérico para inflamações no fígado. A causas mais comuns para o problema são infecções pelos vírus A, B, C, D e E – mas o problema também pode decorrer de intoxicações alimentares, medicamentosas, alcoólicas, bacterianas ou ser provocado por outros vírus.
Os sintomas mais frequentes são febre, mal estar, dor no corpo, diarreia, vômito, dor abdominal e icterícia – coloração amarelada dos olhos.
Casos no Brasil
Ainda não foram identificados no Brasil casos semelhantes aos relatados na Europa e nos Estados Unidos. A infectologista Ana Helena Germoglio alerta que os pais e a comunidade médica devem estar atentos aos sintomas relacionados, bem como as autoridades sanitárias devem intensificar a vigilância epidemiológica uma vez que há grande trânsito de viajantes entre os países e o Brasil.
“Mesmo que não haja casos relatados no Brasil, a informação é um alerta. Qualquer criança que apresente os sintomas descritos precisa ser encaminhada ao hospital para ter o diagnóstico correto”, afirma a médica.
Mutação no adenovírus
Como os casos apareceram depois do isolamento social, quando a circulação de pessoas se tornou mais intensa, existe a possibilidade de que o sistema de defesa das crianças esteja mais vulnerável e que um adenovírus “mutado” tenha provocado infecções mais graves.
Os adenovírus são uma família de vírus bastante conhecida, eles costumam causar doenças respiratórias, incluindo dor de garganta, resfriado, bronquiolite e pneumonia.
“Depois de dois anos de restrições de circulação e uso de máscara, também tivemos menor circulação de outros vírus. Agora, com a flexibilização das medidas contra a Covid, outras doenças virais estão voltando e podem retornar causando doenças mais intensas”, explica a médica.