O que se sabe sobre a mutação do coronavírus encontrada no Amazonas
Nova variante do Sars-CoV-2 foi detectada em quatro turistas brasileiros que estiveram no estado e desembarcaram no Japão no início do ano
atualizado
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A nova cepa do coronavírus, identificada pelo governo do Japão no domingo (10/1) a partir de amostras de quatro turistas brasileiros que estiveram no Amazonas e desembarcaram no país nipônico, é diferente das variantes altamente infecciosas verificadas pela primeira vez na Grã-Bretanha e na África do Sul e de mutações encontradas no Rio de Janeiro e em outros estados brasileiros.
Na terça-feira (12/1), pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazonas confirmaram a identificação da origem da nova variante do Sars-CoV-2. De acordo com uma nota técnica divulgada pela fundação na quarta-feira (13/1), a cepa detectada evolui de uma linhagem viral que circula no Amazonas desde abril de 2020. A mutação foi designada provisoriamente de B.1.1.28.
O estudo da Fiocruz mostrou, ainda, que a nova mutação é um fenômeno recente, “provavelmente ocorrido entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021”.
Uma análise genômica preliminar da linhagem Sars-CoV-2 B.1.1.28 feita pela Fiocruz mostrou que a mutação encontrada nos turistas que viajaram para o Amazonas não é a mesma detectada recentemente no Rio de Janeiro e em outros estados brasileiros, mas evoluiu a partir dessas. A variante do Amazonas teria, ainda, uma série de mutações inéditas.
De acordo com Felipe Naveca, vice-diretor de Pesquisa da Fiocruz, a variante amazonense apresentou 10 mutações na proteína spike, responsável por facilitar a entrada do vírus em humanos. A cepa originária da Amazônia também “acumulou um número incomum de alterações genéticas”, segundo a pesquisa, e teria padrão semelhante ao das cepas B.1.1.7 e B.1.351, detectadas no Reino Unido e na África do Sul.
Ainda não há informações se a cepa amazonense é mais transmissível que as versões anteriores do coronavírus. Segundo Naveca, a mutação não é a única responsável pela alta prevalência da Covid-19 no Amazonas neste momento.
“Considero que a situação é multifatorial. Temos o início da temporada de vírus respiratório na Amazônia, que historicamente acontece em meados de novembro em diante. É o que chamamos de inverno amazônico, quando outros vírus respiratórios como a influenza também aumentam”, afirma.
Além da situação sazonal e da nova variante, a diminuição do distanciamento social também é um dos motivos apontados pelo especialista para o aumento da circulação do Sars-CoV-2 no estado. “Um fato importante é que nem o vírus mutante nem o original conseguem atravessar a máscara, não resistem à lavagem das mãos com água e sabão ou com álcool em gel e a transmissão também é evitada com o distanciamento social.”
A Fiocruz conduzirá um levantamento genômico de indivíduos recentemente infectados com o Sars-CoV-2 no Amazonas. O trabalho será feito em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM) e o Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM), com o objetivo de detectar a circulação dessa linhagem no estado.