O que sabemos sobre a eficácia das vacinas contra a Ômicron até agora?
Farmacêuticas fazem testes em laboratório para verificar os níveis de proteção das vacinas contra a variante presente em mais de 60 países
atualizado
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Desde que os primeiros casos de Covid-19 relacionados à variante Ômicron foram notificados, no fim de novembro, as grandes farmacêuticas buscam desvendar como a nova cepa interfere na proteção conferida pelas vacinas.
Ainda é cedo para bater o martelo sobre o funcionamento dos imunizantes frente a mais uma mutação do coronavírus, mas, por enquanto, se verificou queda na eficácia contra doença sintomática com duas doses. Porém, a proteção contra hospitalização e morte segue alta.
Ainda assim, a comunidade internacional pede cautela enquanto os estudos não são concluídos e revisados por cientistas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, nesse domingo (12/12), que a Ômicron está se espalhando mais rapidamente do que a variante Delta e as mutações presentes nela parecem fazer com que a nova cepa seja mais resistente às vacinas, segundo estudos preliminares.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos afirma que as vacinas atuais devem proteger contra doenças graves, hospitalizações e mortes causadas pela infecção com a nova variante. No entanto, é provável que ocorram casos em pessoas totalmente vacinadas. “O recente surgimento da Ômicron enfatiza ainda mais a importância da vacinação e do reforço”, informa a agência.
Até aqui, os testes laboratoriais foram feitos com o plasma sanguíneo de pessoas vacinadas, onde são encontrados os anticorpos, e avalia apenas a imunidade humoral. No entanto, especialistas lembram que a defesa imunológica também é composta pela resposta celular, desempenhada pelas células T, que atacam as partículas infectadas para evitar que o vírus se multiplique — esta é bem mais difícil de quantificar em pesquisas.
Saiba mais sobre a variante Ômicron do coronavírus:
Impactos da variante Ômicron na vacinação contra a Covid-19
Pfizer/BioNTech
Em seu estudo mais recente, publicado na última quarta-feira (8/12), a Pfizer informou que o esquema com duas doses do imunizante mostrou níveis de neutralização significativamente reduzidos para combater a variante Ômicron, mas ainda é capaz de proteger o organismo contra casos graves. A aplicação da terceira dose, por outro lado, aumenta a quantidade de anticorpos em 25 vezes, o suficiente para neutralizar o vírus.
Um estudo independente, realizado por cientistas do Instituto de Pesquisa em Saúde da África com amostras de sangue de 12 pessoas imunizadas, mostrou que o esquema de duas doses do imunizante tem eficácia de apenas 22,5% contra a Ômicron. Os dados divulgados são sobre a eficácia geral, e dizem respeito principalmente a casos sintomáticos da doença.
Em contrapartida, uma análise feita pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), publicada no último sábado (12/12) afirmou que duas doses da vacina da Pfizer contra a Covid-19 fornecem 83,7% de proteção contra hospitalização e morte após infecção com a Ômicron. Com a dose de reforço, a taxa de imunidade aumentaria em mais de 93%.
Porém, os resultados do levantamento britânico apontam para uma diminuição de 67,6% na eficácia geral da Pfizer dentro do intervalo de três a seis meses. Já a proteção contra os sintomas da variante Ômicron cai para 46,7%.
“As empresas continuam avançando no desenvolvimento de uma vacina específica para a variante Ômicron e esperam tê-la disponível até março, caso uma adaptação seja necessária para aumentar ainda mais o nível e a duração da proteção”, disse a Pfizer em um comunicado.
Oxford/AstraZeneca
Em uma pesquisa realizada na Universidade de Oxford, no Reino Unido, sobre a eficácia da vacina desenvolvida pela própria instituição em parceria com a AstraZeneca e do imunizante da Pfizer, cientistas confirmaram a necessidade da aplicação da dose de reforço para garantir níveis seguros de anticorpos neutralizantes.
De acordo com o estudo publicado nesta segunda-feira (13/12), o esquema com duas doses não se mostrou suficiente para assegurar a proteção contra a variante. No caso das pessoas vacinadas com AstraZeneca, os níveis de anticorpos neutralizantes caíram para abaixo do limite detectável em praticamente todas as amostras, exceto na de um dos participantes.
Entre os imunizados com Pfizer, a queda nos níveis de defesa foi de 29,8 vezes em cinco dos voluntários, também abaixo do detectável.
Em um braço do estudo feito por pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM) sobre a vacina da AstraZeneca foi constatada a redução de até 77,1% do risco de quadros graves de Covid-19 após as duas doses da vacina. A pesquisa indicou ainda que, após seis meses, a proteção da vacina contra os sintomas da variante Ômicron cai para 36,1%.
Coronavac
A Sinovac realiza testes para analisar a capacidade de a vacina Coronavac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, neutralizar amostras do vírus vivo da variante Ômicron em pessoas com diferentes datas de vacinação, idades e intervalo entre as doses. Segundo Yalling Hu, representante da Sinovac, os resultado dessa etapa devem ficar prontos em duas semanas.
Até o momento, a empresa aposta na importância do reforço. Segundo o pesquisador do Laboratório de Infecção e Imunidade do Instituto de Biofísica da Academia Chinesa de Ciências, Xiangxi Wang, a terceira dose do imunizante produz anticorpos capazes de identificar a Ômicron e agir contra a infecção.
Os estudos da farmacêutica chinesa avaliam também a necessidade da produção de uma versão atualizada da Coronavac especificamente contra a variante Ômicron.
Janssen
O braço farmacêutico da Johnson & Johnson realiza testes em parceria com um grupo de pesquisa da África do Sul para verificar a eficácia de sua vacina em dose única na proteção contra a variante Ômicron e a necessidade do desenvolvimento de uma nova fórmula, específica para a proteção contra a nova cepa.
“Continuamos confiantes nas respostas imunes humorais e mediadas por células produzidas pela vacina da Covid-19 da Johnson & Johnson, demonstradas pela durabilidade e amplitude da proteção contra variantes até o momento em estudos clínicos”, informou Mathai Mammen, chefe global de pesquisa e desenvolvimento da Janssen, em comunicado.