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O que ainda falta para a Covid virar endemia no Brasil

Especialistas apontam que o futuro da Covid deve ser um cenário de endemia, mas é necessário ter ampla cobertura vacinal e monitorar o vírus

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mulher com materiais de proteção - touca, roupa de proteção e máscara, conversando com dois homens em uma porta
1 de 1 mulher com materiais de proteção - touca, roupa de proteção e máscara, conversando com dois homens em uma porta - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Uma ampla cobertura vacinal para a população associada a um sistema robusto de monitoramento da pandemia foi a receita para que alguns países europeus abandonassem as medidas de restrição contra a Covid-19 e passassem a um novo cenário: o de endemia.

Julio Croda, médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, explica que uma doença é considerada endêmica quando ela é comum em certas regiões, tem um número de mortes esperado e apresenta períodos de surto. Dessa maneira, é possível prever o impacto do vírus e estar pronto para contê-lo em caso de circulação.

O pesquisador Vitor Mori, membro do Observatório COVID-19BR, diz que países europeus, como a Dinamarca e o Reino Unido, organizaram um sistema amplo e eficaz de monitoramento para aumentar a capacidade de previsibilidade da doença. Em termos práticos, isso significa testagem, sequenciamento genético do vírus e controle de contatos.

Saiba as diferenças entre pandemia, epidemia, endemia e surto

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O surto ocorre quando há aumento localizado do número de casos de uma doença em uma região específica
Um exemplo são os casos de dengue: quando muitos diagnósticos ocorrem no mesmo bairro de uma cidade, por exemplo, as autoridades tratam esse crescimento como um surto
Já a endemia é quando uma doença aparece com frequência em um local, não se espalhando por outras comunidades. Ela também é classificada de modo sazonal
A febre amarela, comum na Região Amazônica, é uma doença endêmica, porque ocorre durante uma estação do ano e em certas localidades do Norte
Epidemia ocorre quando o número de surtos cresce e abrange várias regiões de determinada cidade, por exemplo. Se isso acontecer, considera-se que há uma epidemia no município, mas um surto em escala estadual
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Surtos, endemias, pandemias e epidemias têm a mesma origem, o que muda é a escala de disseminação da doença. Quem define quando uma doença se torna ameaça global é a Organização Mundial da Saúde (OMS)

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O surto ocorre quando há aumento localizado do número de casos de uma doença em uma região específica

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Um exemplo são os casos de dengue: quando muitos diagnósticos ocorrem no mesmo bairro de uma cidade, por exemplo, as autoridades tratam esse crescimento como um surto

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Já a endemia é quando uma doença aparece com frequência em um local, não se espalhando por outras comunidades. Ela também é classificada de modo sazonal

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A febre amarela, comum na Região Amazônica, é uma doença endêmica, porque ocorre durante uma estação do ano e em certas localidades do Norte

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Epidemia ocorre quando o número de surtos cresce e abrange várias regiões de determinada cidade, por exemplo. Se isso acontecer, considera-se que há uma epidemia no município, mas um surto em escala estadual

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Um exemplo é o ebola, que passou a ser considerado uma epidemia em 2014, após atingir diversos países na África

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A pandemia acontece quando uma epidemia alcança níveis mundiais, afetando várias regiões ao redor do globo terrestre. Para a OMS declarar a existência de uma pandemia, países de todos os continentes precisam ter casos confirmados da doença

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Antes da Covid-19, a última vez que uma pandemia aconteceu foi em 2009, com a gripe suína

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A peste bubônica, ou peste negra, que aconteceu no século 14 e matou de 75 a 200 milhões de pessoas, é considerada uma das maiores pandemias da humanidade

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Cenário no Brasil

A epidemiologista Lígia Kerr, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), lembra que uma endemia não pode ser decretada por canetada. “Depende de circunstâncias como o comportamento da doença na população, a taxa de imunização e a circulação de variantes”, aponta.

De acordo com ela, atualmente no Brasil, os indicadores – número de casos e óbitos – ainda precisam melhorar. “Nós estamos vivendo um momento que é de muito cuidado. Temos que avaliar sempre o comportamento dessa doença. A máscara e a vacinação ainda são as nossas maiores ajudas”, afirma.

Imaginar essa mudança de pandemia para endemia no Brasil seria possível com mais gente sendo vacinada, incluindo a aplicação de doses de reforço e a imunização de crianças. Segundo Kerr, a conjuntura do país hoje é a melhor que já tivemos, mas não significa que as coisas estão resolvidas.

“Não podemos relaxar, mas temos de acompanhar o que está acontecendo no mundo. Tudo o que acontece na Europa, em geral, poucos meses depois, está aqui. Temos que considerar a experiência internacional”, comenta.

Os pontos fortes

Diferentemente de outras nações, o Brasil conta com um sistema de saúde bastante capilarizado. Isso garante que as vacinas cheguem a locais afastados dos grandes centros urbanos, facilitando o amplo acesso à proteção.

Kerr diz que o uso correto desse sistema e seu fortalecimento são importantes para imaginar o controle da pandemia no país. “O SUS chega aos cantos mais difíceis do Brasil, isso é uma vantagem para conseguirmos vacinar e interromper a circulação do vírus”, comenta.

Risco de novas variantes

Uma endemia, entretanto, não significará que as coisas estarão resolvidas. Kerr ressalta que os surtos podem ser causados por novas variantes que, não necessariamente, serão mais leves. Por isso, flexibilizar em um momento inadequado pode ser ruim para a condução da pandemia.

Segundo Kerr, a Delta só não fez um “estrago grande” no Brasil porque tínhamos acabado de passar pela Gama e começamos a evoluir nossa cobertura vacinal. Esse cenário gerou certa proteção imunológica contra a cepa.

No caso da Ômicron, embora a maioria dos infectados tenha sentido apenas sintomas leves, a nova variante matou muita gente. “Atingimos patamares quase parecidos com o pico da Gama”, analisa a epidemiologista.

De acordo com a especialista, ainda temos grupos sociais que não tomaram a vacina e a aplicação das doses de reforço ainda não é satisfatória. A situação atrapalha o enfrentamento direto à variante Ômicron e afasta o cenário de endemia no país.

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