O coronavírus pode se tornar uma doença sazonal? Sim, veja por que
Especialistas acreditam que a Covid-19 pode não desaparecer e voltar todos os anos, principalmente em períodos de baixa umidade do ar
atualizado
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Uma das perguntas mais frequentes sobre a pandemia do novo coronavírus é quando ela vai acabar. Quando estaremos, finalmente, livres do vírus que já matou mais de 400 mil pessoas e confinou bilhões ao redor do mundo? Porém, a resposta não é simples e pode desagradar: é possível que, como o vírus HIV, ou o influenza, o Sars-CoV-2 nunca desapareça completamente e volte a contaminar todos os anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já indicou que a Covid-19 pode se tornar endêmica em alguns lugares, ou seja, sempre estará presente. No Brasil, um bom exemplo de doença endêmica é a dengue: a contaminação acontece todos os anos.
“É importante colocar isso na mesa. Esse vírus pode se tornar mais um vírus endêmico em nossa comunidade e nunca desaparecer. O HIV nunca desapareceu. Encontramos as terapias e as pessoas não têm mais o mesmo medo”, disse Mike Ryan, diretor de operações da entidade, em entrevista coletiva durante o mês de maio. “Apesar do Sars-CoV-2 ter potencial para se tornar um vírus endêmico, isso não significa que seja incontrolável.”
Ele lembra que, mesmo com vacina disponível, há vários outros vírus que continuam circulando – o sarampo é um bom exemplo. Com a queda na cobertura vacinal, os casos da doença cresceram muito em 2019 no Brasil.
Por aqui, o ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde Wanderson de Oliveira também já tinha sinalizado que, como o vírus da gripe, o coronavírus poderia voltar anualmente em períodos mais frios. É no outono e no inverno que os vírus respiratórios se propagam com mais eficiência, pois as pessoas tendem a ficar mais perto umas das outras e em ambientes fechados, por conta da temperatura.
O que dizem os especialistas
A ciência também concorda com a tese de que o coronavírus não desaparecerá. Um estudo feito pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, descobriu que outros tipos de coronavírus, similares ao Sars-CoV-2, que infectam humanos, costumam ser sazonais e apresentam pico de casos no inverno.
Outra pesquisa, dessa vez da Universidade de Harvard e publicada na revista Science, prevê a sazonalidade do novo coronavírus pelo menos nos próximos anos. Por isso, os cientistas sugerem que o isolamento social seja intermitente, voltando a ser implementado quando os casos começarem a subir.
O estudo mais recente foi feito pela Universidade de Sydney, na Austrália. Em parceria com a Universidade de Xangai, na China, os pesquisadores relacionaram o aumento do número de casos com o clima. A principal descoberta foi que, em períodos de menor umidade (como no inverno brasiliense, por exemplo), há maior probabilidade de aumento nos diagnósticos positivos de Covid-19.
Segundo os autores, quando a umidade está baixa, o ar fica mais seco e os aerossóis se tornam menores. Por isso, quando a pessoa contaminada espirra ou tosse, as partículas em aerossol ficam suspensas no ar por mais tempo, aumentando a chance de outras pessoas serem expostas ao vírus. Em tempos mais úmidos, os aerossóis ficam mais pesados e se depositam em superfícies mais rapidamente.
“A doença é, possivelmente, sazonal e aparecerá em períodos de menor umidade. Teremos de pensar que, se é inverno, pode ser época de coronavírus”, diz o epidemiologista Michael Ward, responsável pela pesquisa, que deve seguir nos próximos meses para verificar como o vírus se comporta durante outras temporadas climáticas. O estudo australiano é importante, principalmente para os brasileiros, uma vez que o clima dos dois países é semelhante.
“Esta deve ser uma epidemia que coexistirá com humanos por bastante tempo e se tornará sazonal”, afirma Jin Qi, diretor da Academia Chinesa de Ciências Médicas, à revista americana Time. O centro está pesquisando o coronavírus desde o início do ano, quando a epidemia começou em território chinês. Para Qi, o vírus, dificilmente, será eliminado por completo, mesmo com todos os lockdowns implementados.
Porém, ainda é cedo para decretar se, com certeza, o coronavírus reaparecerá todos os anos, nas épocas mais frias. Cientistas alertam que é preciso observar uma mesma região ao longo de um ano para saber como o vírus se comportará. Outro aspecto que deve ser levado em consideração é por quanto tempo uma pessoa que já pegou o coronavírus ficará imunizada e não poderá ser contaminada novamente.
De acordo com Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, ainda há muito a ser descoberto sobre o coronavírus e é cedo para dizer se teremos de lidar com a doença anualmente. “A Covid-19 pode não ser eliminada e se tornar sazonal, como a gripe. Entretanto, não é possível fazer essa afirmação com certeza. Só o tempo poderá nos responder”, afirma.