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Número de médicos cresce no Brasil, mas distribuição segue desigual

Levantamento do CFM mostra que país tem 502 mil médicos, mas a maioria está em grandes centros, áreas litorâneas e capitais

atualizado

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médico atendimento cirurgia
1 de 1 médico atendimento cirurgia - Foto: SJ Objio/Unsplash

O Brasil nunca contou com tantos médicos. Nas últimas duas décadas, a quantidade de profissionais no país mais que dobrou, passando de 230.110 em 2000 para 502.475 em 2020. É o que mostra o levantamento Demografia Médica no Brasil 2020, feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em cooperação técnica com a Universidade de São Paulo (USP), divulgado nesta terça-feira (8/12).

Apesar do aumento expressivo, a distribuição dos profissionais não é equilibrada: a maioria está em grandes centros, áreas litorâneas e capitais. Há, ainda, discrepâncias na disposição de médicos entre a rede pública e privada de saúde. O levantamento foi feito a partir de dados extraídos do registro de médicos dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), integrados ao banco de dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), além da base de dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De 2000 a 2020, a relação de médico por mil habitantes passou de 1,41 para 2,4 – média próxima à de países como Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Reino Unido (2,8). O problema, segundo o levantamento, é a localização desses profissionais. Em estados das regiões Sudeste e Sul e em cidades mais desenvolvidas, a proporção é muito maior do que a razão de 3,5 médicos por mil habitantes, que é a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nas capitais brasileiras, esse valor chega a 5,6 médicos por grupo de mil habitantes. Vitória (13,71), Florianópolis (10,68) e Porto Alegre (9,94) apresentaram as maiores médias do Brasil. Nas cidades do interior, a realidade não é tão positiva, uma vez que a média de médicos/mil habitantes é apenas 1,49. Macapá (AP) e Rio Branco (AC) têm as menores taxas entre as capitais, com 1,7 e 1,9, respectivamente. As capitais do Norte têm 2,9 médicos por mil habitantes, seguidas pelas capitais do Nordeste (5,3), Centro-Oeste (5,4), Sudeste (6,1) e Sul (8,3).

Em todo o país, apenas quatro estados apresentaram proporção de médicos por mil habitantes inferior à metade da média nacional, ou seja, 1,2. Por outro lado, outros sete relatam um desempenho acima de 2,4 médicos por mil habitantes. Os destaques são o Distrito Federal, com 5,1, seguido por Rio de Janeiro (3,7) e São Paulo (3,2).

O professor de medicina preventiva na Universidade de São Paulo Mário Scheffer afirma que não há informações sobre outros países que tenham registrado um acréscimo de médicos desse tamanho em tão pouco tempo. “Isso se deve à intensificação dos cursos de medicina”, explica. Segundo ele, existem, atualmente, 357 cursos no Brasil. De 2011 a 2020, houve aumento de mais de 20 mil novas vagas.

Para os próximos 45 anos, a projeção dos pesquisadores é que o Brasil tenha cerca de 1,5 milhão de médicos para aproximadamente 250 milhões de habitantes. “A nossa taxa tende a aumentar na medida em que novas vagas de graduação autorizadas recentemente completem seis anos, que é o tempo de duração dos cursos de medicina”, prevê Hideraldo Cabeça, primeiro-secretário do CFM.

Em 2024, a estimativa é que 31.849 novos médicos entrem no mercado de trabalho, o que corresponde ao número de vagas de graduação oferecidas no país em 2017.

Mais médicos, menos saúde

A notícia de que o Brasil tem mais de meio milhão de médicos seria animadora, não fosse a distribuição desigual desses profissionais. Scheffer explica que a falta de equilíbrio deve-se, além da desigualdade regional, a uma discrepância dentro do próprio Sistema Único de Saúde (SUS). “Uma parte menor dos médicos (21,5%) trabalha exclusivamente no SUS, enquanto 28,3% atuam exclusivamente no setor privado e 50,2%, em ambos”, detalha. “Se pensarmos que o setor privado atende 1/4 da população, fica claro que há uma concentração desproporcional.”

Mauro Ribeiro, presidente do CFM, reforça que o aumento exponencial de novos médicos não significa melhora no atendimento à população. “Não existe infraestrutura hospitalar no Brasil hoje que permita o aumento do número de residências médicas necessárias para formar tantos médicos”, alerta. “Daqui a 40, 50 anos, teremos um milhão e meio de médicos e cerca de 65% deles não terão feito residência.”

Para Mauro Ribeiro, o governo precisa pensar em programas de incentivo para levar os médicos ao interior. Um só médico, porém, não é suficiente, segundo ele. “A assistência à saúde é multiprofissional. Não adianta o médico ir somente com um estetoscópio. Ele precisa de enfermeiros, técnicos de enfermagem, um laboratório e estrutura básica para trabalhar.”

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