Técnica evita que paciente transplantado precise de imunossupressores
Normalmente, transplantados precisam de remédios para o resto da vida, mas técnica permitiu que garota não precise tomar nada
atualizado
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Para evitar o risco de rejeição e a necessidade de usar remédios para o resto da vida, médicos britânicos utilizaram uma nova técnica inovadora de transplante de rins em uma paciente de 8 anos. Aditi Shankar tem displasia imuno-óssea de Schimke, uma doença rara e genética, e precisava de um transplante de rim.
Os responsáveis pela cirurgia decidiram submetê-la a um transplante de medula antes de receber os rins — ambos doados pela mãe da menina. O procedimento foi um sucesso, e Aditi já foi liberada do uso de imunossupressores que evitam a rejeição do órgão e são obrigatórios para transplantados. Esta foi a primeira vez que a técnica foi realizada no Reino Unido.
“Nos últimos três anos, a energia de Aditi foi perdida devido à diálise. Após o transplante de rim, quase instantaneamente, vimos uma grande mudança”, conta a mãe, Divya Shankar, ao site do hospital Great Ormond Street Hospital (Gosh), onde foi realizado o procedimento.
Luta até o transplante de rim
Na displasia imuno-óssea de Schimke, o sistema de defesas do organismo começa a atacar o próprio corpo, especialmente os rins. O paciente não cresce adequadamente e tem deformações faciais.
Aditi fazia hemodiálises três vezes na semana desde os cinco anos de idade e estava na fila do rim desde 2021. Para fortalecer o sistema imunológico e tentar controlar a doença, os médicos responsáveis pelo caso decidiram fazer o transplante de medula óssea antes.
Em outubro de 2022 a mãe da menina fez a doação de medula óssea e, seis meses depois, em março deste ano, Aditi passou pelo transplante de rim.
A paciente tomou os remédios imunossupressores para evitar rejeição do órgão por um mês, mas os médicos perceberam que eles não estavam fazendo diferença.
“Esta é a primeira vez em 25 anos que cuido de alguém que não necessitou de imunossupressão após a cirurgia”, afirma o nefrologista pediátrico Stephen Marks.
A técnica pode ser usada por todos?
Os transplantes duplos como o de Aditi, entretanto, apresentam mais riscos de complicações e, por isso, só são recomendados para pessoas que tenham um sistema imunológico enfraquecido.
De acordo com o hematologista Renato Cunha, líder do programa de terapia celular do grupo Oncoclínicas, em São Paulo, e pós-doutor em transplante de medula óssea, o transplante de medula pode trazer até mais riscos de infecção a um paciente renal que o próprio transplante de rins.
“O caso da Aditi é excepcional por que temos um parente compatível tanto em medula como em rim, o que só acontece em 10% dos casos. Pensar isso para todos, reduziria muito as chances de encontrar um doador. Além disso, o fato de ela ser criança ajuda na aceitação do transplante de medula óssea, que é muito mais complicado em um paciente adulto”, explica.
Segundo os médicos da menina, o sucesso do procedimento pode servir de base para novos estudos e para pensar usos desta técnica para pacientes com outras doenças.
“Esperamos que a nossa investigação proporcione a opção para que mais crianças, como Aditi, para quem o transplante renal não era uma opção, tenham a oportunidade de fazer um transplante renal que mude a sua vida”, afirma Marks.
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