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Nota da Saúde causa desinformação sobre vacinas, dizem especialistas

Pesquisadores acreditam que a nota dá força para movimentos antivacinas e contribui com o desencorajamento das pessoas a se imunizarem

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Fábio Vieira/Metrópoles
O Governo de São Paulo inicia nesta sexta-feira (14), a vacinação do público infantil contra COVID-19, na faixa etária de 5 a 11 anos. O Governador João Doria (PSDB) acompanha o ato, realizado no Hospital das Clínicas – HCFMUSP. A expectativa do Governo de SP é vacinar 4,3 milhões de crianças no período de três semanas. Foto: Fábio Vieira/Metrópoles
1 de 1 O Governo de São Paulo inicia nesta sexta-feira (14), a vacinação do público infantil contra COVID-19, na faixa etária de 5 a 11 anos. O Governador João Doria (PSDB) acompanha o ato, realizado no Hospital das Clínicas – HCFMUSP. A expectativa do Governo de SP é vacinar 4,3 milhões de crianças no período de três semanas. Foto: Fábio Vieira/Metrópoles - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Sociedades científicas e associações médicas vêm se posicionando publicamente contra a nota técnica divulgada pelo Ministério da Saúde na última sexta-feira (21/1), em que o órgão afirma que as vacinas não têm demonstração de segurança e promove a hidroxicloroquina no tratamento de Covid-19. Para especialistas, documento promove desinformação sobre as vacinas e impacta a pandemia.

Pressionada, a pasta comunicou nessa terça-feira (25/1) que vai alterar a nota técnica e retirar a tabela que consta o parecer incorreto sobre a segurança e efetividade de medicamentos e vacinas. Mesmo com a correção, pesquisadores acreditam que o trecho dá força para movimentos antivacinas e contribui com o desencorajamento das pessoas a se imunizarem.

O presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), Flávio Guimarães da Fonseca, lamenta que o governo tenha se tornado um porta-voz de desinformação, quando é de sua responsabilidade promover corretamente as diretrizes de tratamento medicamentoso para pacientes com Covid-19.

Devido às constatações falsas descritas na nota, pessoas podem ser influenciadas a não se vacinarem e fazer uso dos medicamentos presentes no kit Covid, cientificamente provados ineficazes e de risco. Com mais de dois anos de pandemia, quando as evidências estão mais que solidificadas, reviver essa pauta parece uma absoluta irresponsabilidade para a comunidade científica”, declara Flávio ao Metrópoles.

Segundo o virologista, aqueles que já estavam em dúvida entre se vacinar ou não podem ser convencidos que os imunizantes não funcionam diante de informações oficiais, e assim, se recusarem a receber as doses. Para ele, ainda não se sabe o tamanho da influência do documento, mas certamente as afirmações são graves e colocam o sistema de saúde do país em risco.

“Quando o Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde afirma que as vacinas não são eficazes, está indo contra os próprios dados do Ministério da Saúde que apontam redução de óbitos e hospitalizações após o início da campanha de vacinação no Brasil”, argumenta.

Nota técnica do Ministério da Saúde diz que cloroquina é eficaz contra Covid e vacina, não

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Juarez Cunha, quando se trata de hidroxicloroquina, bem como ivermectina ou outros medicamentos que fazem parte do kit Covid, não existem estudos seguros que demonstrem a eficácia do tratamento. Já as vacinas, antes de serem aprovadas, obrigatoriamente passaram por pesquisas laboratoriais e uma série de estudos fase 1, 2 e 3.

“A cloroquina é excelente para o tratamento das doenças para as quais ela é licenciada para uso. Entretanto, não se encaixa em casos de Covid-19 e pode ter consequências quando há uso sem recomendação médica e em doses inadequadas”, frisa Cunha.

Exemplo de desinformação

O documento causou manifestos de repúdio entre as comunidades de saúde e pesquisa. Um abaixo-assinado criado por docentes da Faculdade de Medicina da USP, por exemplo, conseguiu mais de 41 mil assinaturas em menos de 24 horas. Os criadores chamam a nota técnica de “uma vasta lista de estultices” e um “exemplo primoroso de desinformação em saúde”.

“É espantoso que o Ministério da Saúde recuse normas propostas elaboradas por um grupo de pesquisadores, convocados pelo próprio Ministério, criando uma situação sem precedentes em nosso país. Causa enorme preocupação o fato de que as rédeas do Ministério da Saúde estejam sob a posse da ideologia, da desinformação e, principalmente, da ignorância”, afirma o abaixo-assinado on-line.

Para Guimarães, da SBV, todos os dados apresentam resultados positivos da vacina no controle global da pandemia. Segundo ele, a maioria de casos de óbitos e quadros graves pela doença está acumulado em grupos que se recusam a tomar a vacina ou estão com o esquema vacinal incompleto.

Interpretações equivocadas

O secretário Hélio Angotti Neto, que assina o documento, afirmou que a tabela foi “tirada de contexto” e que a alteração será feita para “promover clareza” e “evitar mau uso e incompreensão”. O gestor também defendeu que há uma “narrativa completamente falsa” sobre a publicação do documento.

“O Ministério da Saúde informa que a Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos (SCTIE) republicará a Nota Técnica que fundamenta a decisão acerca das diretrizes terapêuticas para o tratamento farmacológico da Covid-19, para, segundo a secretaria, promover maior clareza no conteúdo e evitar interpretações equivocadas, como a de que a decisão critica o uso das vacinas Covid-19. A alteração será publicada em portaria no Diário Oficial da União (DOU) e não modifica a deliberação já divulgada”, informou o órgão, em comunicado oficial.

Angotti é um dos enquadrados pela CPI da Covid, do Senado Federal, por epidemia com resultado de morte (artigo 267 do Código Penal). Ele foi alvo da comissão por ser um dos defensores do chamado “tratamento precoce”.

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