Nostalgia combate solidão e impulsiona felicidade, afirma pesquisa
Pesquisadores descobriram que, quando o sentimento é estimulado de maneira positiva, pode contribuir para um estado de ânimo mais favorável
atualizado
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Sentir nostalgia — ou lembrar vivências que deixaram saudade — pode ter efeitos genuinamente positivos, inclusive para lidar com a pandemia da Covid-19, de acordo com estudo feito por pesquisadores das Universidades de Southampton, na Inglaterra, e de Zhejiang, na China.
A partir de um questionário, 3,7 mil participantes dos Estados Unidos, Reino Unido e China descreveram os níveis de solidão, nostalgia e felicidade que sentiam em uma escala de 1 (“de jeito nenhum”) a 7 (“muito”). Os dados foram coletados durante os primeiros dias da pandemia, com o início do isolamento social.
Na análise, os pesquisadores observaram que, nos três países, os voluntários com uma taxa relativamente alta de solidão apresentavam uma média mais baixa de felicidade. O que chamou atenção, no entanto, foi que a solidão também conduzia às memórias nostálgicas que, por sua vez, aumentavam a sensação de felicidade e combatiam a influência negativa da solidão.
Cultivar a nostalgia leva à felicidade
Para complementar os resultados do questionário, os pesquisadores testaram a ideia em outros três experimentos, com cerca de 200 pessoas em cada. Os voluntários foram divididos em dois grupos.
No primeiro, os participantes tinham que escrever quatro palavras sobre um evento nostálgico do passado. Na sequência, eles descreviam livremente, por três minutos, como essas experiências os faziam se sentir. O segundo grupo, que serviu de controle para a comparação, recebeu a mesma tarefa, porém sem a indicação de que as memórias induzissem uma nostalgia.
Os resultados mostraram que, na comparação com o grupo controle, os participantes nostálgicos apresentaram níveis de felicidade maiores — igual aos dados obtidos na primeira etapa da pesquisa. Ainda, após o experimento original, os voluntários do grupo da nostalgia foram induzidos a pensarem novamente em suas memórias e esse “impulsionador” levou, mais uma vez, a pontuações mais altas do sentimento.
“A nostalgia aumenta a felicidade imediatamente após a manipulação e, como um impulsionador, até dois dias depois. É um recurso psicológico que pode ser aproveitado para aumentar a felicidade e ajudar a combater a solidão”, destacam os autores no artigo publicado no periódico Social Psychological and Personality Science.
Benefícios para a saúde mental
Mesmo não sendo o primeiro estudo sobre o assunto, as descobertas trazem impactos principalmente para o campo da saúde mental, segundo Milena Fernandes Mata, neuropsicóloga da Vibe Saúde, pós-graduada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.
“A nostalgia aparece como um neutralizador e elemento protetivo, uma vez que estimula o aumento da felicidade e a permanência desta por até 48 horas. Com isso, pontuam a importância do conhecimento e discussões de tais resultados”, explica.
Para Mata, nutrir momentos nostálgicos é uma forma de mantermos a própria história e existência vivas, especialmente no caso da pandemia, que impôs uma barreira social extensa. “Passamos a preencher as lacunas com experiências passadas de afeto, na tentativa de lidar ou suportar essa falta”, diz a neuropsicóloga.
Nostalgia pode ser ruim?
Embora não seja o mais comum, vivenciar sentimentos nostálgicos também pode ser nocivo em alguns casos. Isso ocorre principalmente diante de idealizações que se tornam insuperáveis.
O sentimento pode limitar a sensação de prazer nas relações e experiências presentes, e as lembranças passam a ser vistas com dor e desconforto. Em longo prazo, pode causar prejuízos, inclusive para a saúde mental.
Quando isso ocorre, é fundamental buscar ajuda de profissional capacitado, que pode indicar sessões de psicoterapia, remédios ou outras atividades que auxiliam no processo. (Agência Einstein)