No front contra Covid-19, enfermeiro do DF relata angústia e dedicação
Sidney Fernandes de Oliveira, 45 anos, faz parte da equipe que resgata pacientes suspeitos de contaminação pelo novo coronavírus
atualizado
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Apesar de sair da cama às 7h, o dia de trabalho do enfermeiro Sidney Fernandes de Oliveira, 45 anos, só começa depois que ele veste toda a paramentação necessária para se proteger do vírus que tem preocupado nações de todo o mundo. “Só saio para atendimento depois de colocar máscara, capote, luvas e gorro”, conta.
Há 18 anos cuidando de pessoas, Sidney está há 14 no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), quando houve o primeiro concurso. “Desde que escolhi essa profissão, o sentimento que tenho é de muito orgulho”, afirma.
O enfermeiro faz parte da equipe que se dedica exclusivamente aos casos de Covid-19, tanto no resgate dos pacientes quanto no pronto-socorro do Hospital Regional de Ceilândia (HRC). A cidade lidera o número de mortes por coronavírus no Distrito Federal, com seis óbitos registrados até essa sexta-feira (08/05).
Jornadas de 12 horas de trabalho são realidade para a maioria dos enfermeiros brasileiros, e, em tempos de pandemia, poucos se lembram de quando tiraram um dia de folga. A rotina de Sidney se divide entre plantões de três dias nas ruas, atendendo ocorrências, e dois dias no pronto-socorro do HRC.
O retorno para casa exige atenção especial com a família.
A gente se expõe (à Covid-19). Eu tenho uma mãe com cardiopatia, filhos pequenos e esposa com imunidade baixa
Sidney Fernandes de Oliveira
Reconhecimento
Sidney lamenta que tenha sido necessária uma pandemia para que a população reconhecesse o trabalho dos profissionais da área da saúde. “A equipe de enfermagem fica 24 horas à disposição dos pacientes, é um dia inteiro de dedicação”, conta.
O maior desafio para ele ainda é conscientizar os profissionais a usar corretamente os equipamentos de proteção individual (EPIs) e a população a usar as máscaras caseiras. Sidney ainda vê muitos colegas se preocupando com a proteção apenas depois que o paciente atendido recebe o diagnóstico positivo para a doença.
“Quando a gente pega um paciente com febre, estado gripal e sensação de falta de ar, até que se prove o contrário, ele é um paciente com suspeita de Covid-19 e eu preciso ir para o socorro totalmente paramentado”, explica.
Até a última segunda-feira (05/05), o Brasil enfrentou a dura realidade de ter 88 mortes de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem do país registradas por causa da Covid-19, de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). O número é superior à soma dos casos na Itália (35) e Espanha (4), por exemplo, dois epicentros da pandemia na Europa.
Falta de equipamentos
Atualmente, o Samu conta com apenas cinco ventiladores mecânicos para o socorro de pacientes em suas unidades de suporte avançado. O equipamento é essencial para os doentes de Covid-19 que têm dificuldades em respirar.
Muitos foram danificados e estão sem peças para a manutenção, de acordo com um documento encaminhado à direção do Samu-DF pela área de apoio operacional da Secretaria de Saúde, nessa quinta-feira (07/05).