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Nem sempre foi ruim: entenda o papel dos vírus na evolução da saúde humana

Cerca de 8% do genoma humano é feito de material genético vindo de vírus que, em algum momento, infectaram células reprodutivas

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Nas últimas décadas, quase todas as notícias que tivemos sobre vírus foram ruins, associadas a doenças terríveis que deixaram rastros de mortes. O vírus ebola, o responsável pelo sarampo, o HIV, o da dengue, o rotavírus, o da febre amarela, o da zika, o da varíola, da herpes, da influenza e, claro, o coronavírus, nos fizeram temer o organismo — a ciência não conseguiu decidir ainda se os vírus fazem parte dos seres vivos.

Porém, não é todo vírus que causa doença (os mais evoluídos e eficazes, inclusive, conseguem se reproduzir sem matar o hospedeiro), e a relação de simbiose nem sempre é negativa para o ser humano. Analisando o genoma humano, pesquisadores já determinaram que pelo menos 8% do nosso código genético vem de retrovírus que entraram nas células reprodutivas há milhões de anos, antes mesmo de acontecer a diferenciação entre os primatas e os nossos primeiros antepassados.

O professor do Departamento de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em vírus, Bergmann Ribeiro, explica que a formação da placenta humana, por exemplo, é decorrente do código genético de um vírus.

Segundo ele, há milhões de anos, antes dos mamíferos existirem, um vírus colocou seu RNA dentro de uma célula reprodutiva, e essa informação foi inserida no genoma do espermatozoide ou do óvulo, e passou para a próxima geração. Em um processo que demora centenas de milhares de anos, esta parte do genoma foi sofrendo mutações até que virasse uma vantagem para o portador.

“Se ele tem uma vantagem na população, vai conseguir se reproduzir melhor, passando a informação para a frente. É a seleção natural”, conta. Partes do genoma responsável pela nossa memória também vieram de um vírus.

O coronavírus será útil algum dia?

Além de ainda ser muito cedo para dizer se o corpo humano vai absorver alguma informação do coronavírus responsável pela pandemia de Covid-19, seria necessário que células reprodutivas fossem infectadas, o que ainda não foi observado.

Bergmann conta que o coronavírus ainda está no começo de sua história. “Ele tem duas mutações a cada dois meses, está tentando se adaptar ao corpo humano, que tenta se defender. Vai sobrevivendo o vírus que consegue se replicar e transmitir mais rápido, fugindo do sistema imunológico, mas sem matar o hospedeiro. Daqui a muito tempo, talvez eles consigam se adaptar e não causar uma doença tão letal, como aconteceu com os outros coronavírus, que entraram na população há 300, 400 anos, e hoje causam gripe leve”, explica o professor.

Com a evolução da ciência, com remédios para ajudar as pessoas que não têm resistência ao vírus, e mais vacina – que deve parar a replicação do vírus e eliminar a chance de ele se modificar ainda mais – o processo de evolução será ainda mais lento.

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