Navegação de pacientes com câncer de mama deve agilizar tratamento
Tema foi um dos assuntos discutidos no XVIII Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, que acontece no Rio de Janeiro
atualizado
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O tratamento de pacientes com câncer de mama na rede pública do Brasil ganhará novidades em breve. Em setembro de 2022, o governo brasileiro sancionou a Lei nº14.450., que cria o Programa Nacional de Navegação de Pacientes para Pessoas com Neoplasia Maligna de Mama — conhecida também como câncer de mama. O próximo passo é formular a política e implementá-la no Sistema Único de Saúde (SUS).
O tema foi um dos assuntos discutidos no Simpósio Roche: Políticas Públicas para o Tratamento do Câncer de Mama no Brasil. O evento ocorreu durante o XVIII Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), que acontece no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (3/11).
O programa prevê acompanhamento de pacientes com caso suspeito ou confirmado de câncer de mama, e consiste na abordagem individual dessas pessoas. O objetivo é orientar e auxiliar o enfermo nas etapas de diagnóstico e tratamento, além de facilitar sua trajetória no enfrentamento à doença. Esse trabalho é realizado por profissionais chamados de “navegadores de pacientes”, que podem ser enfermeiros, assistentes sociais ou psicólogos, por exemplo.
“É um modelo de prestação de serviços em que um profissional de saúde vai acompanhar a paciente ao longo dessa jornada oncológica. Ele vai identificar qualquer barreira que exista no acesso aos cuidados de saúde e tentar eliminar em tempo real”, explica a oncologista Sandra Gioia, que coordena o Programa de Navegação de Pacientes da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. O modelo carioca inspirou o programa sancionado em âmbito federal.
A oncologista explica que a função do navegador é dar suporte ao longo da jornada do paciente. As consequências do trabalho são diversas: uma das melhorias é a garantia do cumprimento da Lei Federal 12.732/2012, que estabelece prazo máximo de 60 dias para que pessoas diagnosticadas com câncer iniciem o tratamento.
“Você mune as pacientes de informação, capacita os agentes comunitários de saúde. O profissional vai orientar o enfermo sobre onde estão os mamógrafos, onde faz biópsia, onde faz o tratamento. Então a gente melhora a taxa de cobertura mamográfica, elimina o medo dessas mulheres. Elas se sentem seguras estando dentro do ambiente delas junto com outras mulheres, e uma falando para a outra que elas têm que por os exames em dia”, explica Sandra.
De acordo com a especialista, o programa estadual do Rio de Janeiro é um exemplo de como o modelo pode ser ampliado a nível federal. “Os pacientes pela primeira vez têm alguém que liga para elas, pergunta como elas estão. Existe alguém no WhatsApp com quem elas podem falar que não estão conseguindo reagendar consultas. O navegador entende a necessidade de cada paciente”, conta a oncologista.
Desafios
Apesar de trazer melhoras significativas no tratamento de pacientes com câncer, a implementação do programa de navegação de pacientes a nível federal deve ser analisada de forma criteriosa, avalia a médica Rosemar Macedo, que compõe a diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia.
A especialista lembra que o SUS é munido de equipamentos e profissionais de saúde, mas, em muitas ocasiões, a estrutura do sistema de saúde não “conversa”, prejudicando o tratamento de pacientes na ponta.
“A impressão que eu tenho é que a navegação veio com a intenção de fazer o sistema conversar. Mas a gente precisa, na verdade, fazer tudo funcionar independente de inserir o navegador ou não. A gente precisa fazer essa conexão”, afirma.
A definição do papel do navegador também deve ser feita de maneira criteriosa pelo governo federal, avalia Sandra. “Essa lei foi baseada na municipal do Rio de Janeiro. Uma das preocupações maiores é o treinamento. O desafio é: quem vai ser esse profissional? Quantos serão necessários para cada serviço? É uma profissão nova. Isso o ministério ainda está escrevendo”, ressaltou.
XXIII Congresso SBOC
Sediado no Rio de Janeiro, o 23º Congresso da SBOC inaugura uma novidade no histórico do evento. A partir de 2022, o encontro ocorrerá anualmente, e não mais a cada dois anos. De acordo com a organização, a proposta tem como objetivo acompanhar o dinamismo do conhecimento científico oncológico e da prática clínica que acontecem ao redor do mundo.
Fundada em 1981, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clinica atua em diversas frentes, como incentivo à formação e pesquisa, educação continuada, políticas de saúde, defesa profissional, relações nacionais e internacionais.
*A repórter Rebeca Borges viajou ao Rio de Janeiro a convite da SBOC para acompanhar o evento.
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