Ver imagens da natureza reduz ansiedade em sessões de quimioterapia
Pesquisa realizada por grupo do hospital Albert Einstein mostra que ver cenários naturais colabora para tranquilizar pacientes em tratamento
atualizado
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Pacientes que estão em tratamento oncológico e viram um vídeo com imagens da natureza enquanto recebiam as sessões de quimioterapia relataram melhora nos sintomas de dor, medo, nervoso, cansaço, tristeza e ansiedade depois da intervenção, o que demonstra que o contato com a natureza, mesmo que de forma indireta, traz benefícios à saúde.
A constatação é de um estudo clínico realizado pelo grupo de Pesquisa e Natureza – Estudos Interdisciplinares sobre a Conexão com a Natureza, Saúde e Bem-Estar do Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health.
Para obter os resultados, os pesquisadores incluíram no estudo 173 pacientes com diferentes tipos de câncer. Eles foram divididos em cinco grupos: controle (que não recebeu nenhum vídeo sobre a natureza) e outros quatro grupos classificados em diferentes categorias de imagens às quais foram submetidos – beleza, emoções positivas, tranquilidade e miscelânea.
Vídeo de paisagens naturais
Durante as sessões de quimioterapia, os participantes receberam um tablet com acesso a um vídeo de 12 minutos composto com 60 imagens de natureza pré-selecionadas de acordo com os temas propostos pela equipe para os quais foram sorteadas de forma aleatória, assim como para o grupo controle.
As categorias incluíam diversas imagens, como pássaros brancos e coloridos, insetos, flores, paisagens, água, céu e mar. Elas correspondiam às palavras que receberam mais de 27 mil avaliações, validando assim o potencial de um banco de imagens promotoras de bem-estar chamado e-NatPOEM, publicado anteriormente na Scientific Reports.
Segundo Eliseth Leão, líder do grupo de pesquisa, a escolha das categorias e a definição das imagens em termos de prazer e de estado de alerta/relaxamento partiu das seguintes perguntas: “Será que diferentes elementos naturais têm potenciais diferentes? Olhar para uma flor seria igual a olhar para o mar ou para uma ave colorida?”.
“Eram questões científicas importantes que queríamos responder. A maior parte dos estudos tratam das paisagens. Por isso, mantivemos essa categoria, mas acrescentamos outros elementos naturais como mar, água, céu, flores, insetos, aves brancas, aves coloridas, árvores”, explicou a pesquisadora.
Leão diz, ainda, que os pesquisadores acrescentaram uma pergunta na qual o participante do estudo tinha que escrever em uma única palavra o que cada imagem despertava. “Foi a partir dessas palavras que surgiram as categorias. Beleza surgiu quando as palavras eram lindo e belo, por exemplo. Tranquilidade surgiu quando as palavras eram paz, calma, tranquilidade. Miscelânea foi atribuída ao grupo de imagens indicadas como curiosidade, desafio. As imagens melhor avaliadas foram então agrupadas nesses quatro vídeos seguindo esse critério”, explica.
Escala de Edmonton
Para estabelecer e avaliar os pacientes, os pesquisadores usaram como referência a Escala de Edmonton – que avalia a presença de sintomas em pacientes oncológicos e uma escala de afetos negativos e positivos. Ambas foram aplicadas no momento pré-intervenção e após 20 minutos do término da quimioterapia. Os afetos negativos e sintomas como dor, medo, nervoso, fadiga, tristeza e ansiedade foram fortemente reduzidos no grupo intervenção. Mas não houve melhora nos sintomas de náuseas e sonolência – muito comuns em quem faz tratamento de câncer.
“A dor diminuiu porque as imagens da natureza alteram o foco perceptual da dor e isso reduz a percepção dolorosa, também pelo mecanismo de relaxamento. Ao ver imagens promotoras de bem-estar, neurotransmissores são liberados produzindo sensação de bem-estar e relaxamento que reduzem a percepção dolorosa. O controle de náusea e sonolência não passam por esses mecanismos”, explicou Leão, que acrescentou que os pacientes receberam medicamentos para reduzir as náuseas durante a quimioterapia. Esses remédios podem induzir sonolência também – por isso, o grupo não esperava efeitos sobre esses dois sintomas.
No grupo controle, que não foi submetido a nenhum vídeo de natureza, houve uma redução moderada de afetos negativos, incluindo ansiedade. Mas, segundo Leão, isso é esperado quando o paciente percebe que durante ou logo após a quimioterapia ele não teve nenhuma intercorrência, não se sentiu mal. “Isso por si só é apaziguador para sentimentos de nervosismo e estresse. Mas não houve redução de sintomas clínicos, enquanto no grupo intervenção houve uma forte redução dos efeitos negativos e melhora de sintomas clínicos”, ressaltou a pesquisadora.
Efeitos diferentes
Curiosamente, os pesquisadores observaram que os pacientes que assistiram aos vídeos nas categorias beleza, emoções e miscelânea tiveram melhores resultados clínicos, enquanto os pacientes do vídeo tranquilidade não tiveram o mesmo resultado, contrariando o que os pesquisadores imaginavam encontrar.
“A princípio, como queríamos reduzir a ansiedade, uma das hipóteses era a de que ao ver imagens que transmitisse tranquilidade e paz, iremos observar resultados positivos, o que não aconteceu. Isso pode ser explicado por um princípio de ressonância”, disse Leão. “Se os pacientes se sentiam ansiosos e oferecemos algo emocionalmente muito diferente do que ele estava sentindo, não há uma ressonância entre as emoções, ou seja, são muito antagônicas. Em estudos utilizando música, por exemplo, isso também ocorre. Se você quer modificar um estado de ânimo negativo de um paciente para um estado mais positivo, o ideal é que se faça uma modulação mais gradual e não uma proposta diametralmente oposta”, disse.
Segundo Leão, esse comportamento já havia sido observado em estudos da pesquisadora com música e agora pode ser aplicado também às imagens. “Os estímulos modulam as emoções e, por isso, mudanças mais sutis são mais bem toleradas do que querer produzir variações abruptas de uma emoção muito negativa para uma muito positiva. Todavia, não existe ainda uma explicação definitiva”, disse. Outro fator que pode ter influenciado nesse resultado é o fato de o vídeo “tranquilidade” ter uma dinâmica diferente dos demais, podendo se tornar monótono por conter somente um tipo de elemento natural nas imagens: água e mar.
Acesso à natureza
Na pesquisa, os cientistas lembram que a incidência de casos de câncer é cada vez maior em todo o mundo e que, na maioria dos casos, a quimioterapia é parte do tratamento. Apesar disso, boa parte dos hospitais que oferecem tratamento em oncologia são construídos em áreas urbanas, onde há pouca natureza e não seria possível oferecer ao paciente esse contato direto com plantas, flores e árvores. Assim, esses resultados demonstram que de uma forma simples e acessível – por meio dos vídeos com imagens da natureza – é possível aliviar os sintomas negativos dos pacientes.
“Trata-se de um recurso útil sempre que não é possível estar em contato direto com o mundo natural. É um recurso que pode ser aplicado a pacientes hospitalizados, durante a realização de procedimentos, pacientes que ficam isolados por semanas dentro de um quarto para um transplante de medula, idosos institucionalizados. São exemplos de contextos clínicos que podem ter benefícios desse tipo de cuidado e que merecem ser investigados para melhor estabelecer sua efetividade terapêutica nessas situações.”
Para Leão, esses dados apontam resultados que encorajam a sua utilização em diferentes serviços de saúde. A pesquisadora ressalta que as mais de 400 imagens do e-NatPOEM podem ser solicitadas aos autores (pelo e-mail enatureza@einstein.br), que disponibilizarão um link para acesso às imagens ou vídeos em alta resolução e que poderão ser utilizados em qualquer serviço no país. (Fonte: Agência Einstein)
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