metropoles.com

“Não há como tirar racismo do debate sobre saúde”, aponta pesquisadora

Oncologista Ana Amélia de Almeida Viana comandou a primeira mesa dedicada à discussão racial do Congresso da Sboc

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Sboc/Divulgação
Oncologista Ana Amélia de Almeida Viana
1 de 1 Oncologista Ana Amélia de Almeida Viana - Foto: Sboc/Divulgação

Rio de Janeiro — O debate sobre racismo está cada vez mais amplificado e deve motivar discussões na área da saúde. Esta é análise da pesquisadora e oncologista baiana Ana Amélia de Almeida Viana, especialista que coordenou a primeira mesa sobre diversidade racial da história do Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), que celebra a 23ª edição neste ano.

Em entrevista ao Metrópoles nessa sexta-feira (4/11), a pesquisadora aponta que a discussão sobre racismo na comunidade médico-científica brasileira foi amplificada após a morte de George Floyd, homem negro assassinado pela polícia nos Estados Unidos em 2020. Para Ana Amélia, a inclusão do tema ocorre de maneira tardia, mas é bem-vinda e necessária para a comunidade médica brasileira.

Com o crescimento do movimento Black Lives Matter e o aumento das discussões raciais na saúde, surgiu a ideia de compor a mesa com pesquisadores pretos de diversas áreas.

“Procuramos fazer uma mesa bem ampla com esse enfoque racial para tentar entender porque, mesmo com todo o cuidado que é provido para a população preta, a gente ainda está tendo desfechos piores que a população branca. O quanto disso é por questões biológicas ou questões sociais? A gente procura dar atenção a todos esses aspectos e sair daqui pensando no que podemos fazer para melhorar”, ressalta.

Ana Amélia lembra que os indicadores de saúde entre pessoas pretas são piores que na população branca. A pesquisadora pontua que a comunidade científica deve se mobilizar para delimitar as causas desse problema.

“As pesquisas mostram que os desfechos são diferentes, a mortalidade por câncer de mama entre mulheres negras é muito maior do que nas brancas. Porque isso acontece? Por questões biológicas, acesso a tratamento, acesso ao diagnóstico. Queremos tentar lançar o olhar para todos esses aspectos”, explica.

A programação contou com participação de diversos profissionais negros, como os pesquisadores Júlio Cesar de Oliveira, do Hospital das Clínicas; Abna Vieira, membro do grupo de pesquisa de saúde da população negra da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); e Marcia Regina Costa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Não tem como tirar a saúde desse foco da discussão do racismo se ele está presente em todas as estruturas. A saúde também vai sofrer esse impacto”, aponta Ana Amélia.

Racismo nos consultórios

Além de ressaltar a importância de estudos sobre raça e aspectos biológicos, os pesquisadores debateram sobre o tratamento que pacientes negros recebem dentro dos consultórios médicos, e sobre como o racismo pode ter impacto negativo na jornada do enfermo.

“A população negra, além de morrer mais, morre pior. Em muitos casos, quando o médico branco atende o paciente preto, ele sofre muito mais. Não só morre mais, como morre sofrendo”, pontuou a pesquisadora Abna Vieira.

O tema também foi apontado pela jornalista e apresentadora da GloboNews Lilian Ribeiro, que trata um câncer de mama desde 2021. Durante o evento, ela deu relatos sobre o racismo sofrido durante o tratamento da doença.

“Ao sair do consultório e entrar no carro, estava com meu marido e falei: ‘Você percebeu? As únicas pessoas negras aqui somos eu e os manobristas'”, relatou. A jornalista também lembrou de comentários racistas que ouviu sobre o seu cabelo após a quimioterapia.

“Quando voltei a trabalhar depois da cirurgia, eu era perguntada invariavelmente: ‘Será que seu cabelo vai voltar liso?’ As pessoas perguntavam com um sorriso no rosto. São essas microagressões que passei. Com esse convite [para o congresso] pude enumerar quantas vezes ser uma pessoa negra influenciou no meu processo oncológico”, contou.

*A repórter Rebeca Borges viajou ao Rio de Janeiro a convite da Sboc para acompanhar o evento.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?