Cientistas devolvem fala a 2 mulheres usando implantes cerebrais e IA
Os casos de Pat Bennett, 68 anos, e Ann Johnson, 48 anos, foram relatados na Nature. Os implantes cerebrais permitiram a recuperação da fala
atualizado
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Duas mulheres diagnosticadas com problemas neurológicos que as impediam de falar conseguiram voltar a se comunicar com a ajuda de vozes sintéticas após receberem implantes cerebrais conectados a modelos de inteligência artificial (IA).
Os dois casos bem-sucedidos foram realizados paralelamente por pesquisadores da Universidade da Califórnia e da Universidade Stanford, ambas nos Estados Unidos. Os estudos foram publicados, nessa quarta-feira (23/8), na revista Nature.
Os impulsos cerebrais das pacientes são captados a partir de eletrodos posicionados no cérebro. Instantaneamente, a IA os converte em fala e uma imagem do paciente se comunicando é reproduzido em uma tela, o sistema conseguiu propiciar até conversas.
A margem de erro na escolha das palavras ainda é alta, mas os autores trabalham para que no futuro as pessoas que perderam a fala consigam conversar em tempo real com o tom, a inflexão e as emoções.
“Agora é possível imaginar um futuro onde possamos restaurar uma conversa fluida para alguém com paralisia, permitindo-lhes dizer livremente o que quiserem com uma precisão alta o suficiente para ser compreendido de forma confiável”, afirmou o pesquisador Francis Willett, neurocientista da Universidade de Stanford, em coletiva de imprensa na segunda-feira (21/8).
Paciente de ELA recebe implantes cerebrais
Uma das pacientes beneficiadas com a tecnologia é a americana Pat Bennett, 68 anos. Ela foi diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica (ELA) há 13 anos. A condição prejudicou a a musculatura dos lábios, língua, laringe e mandíbula de Pat, fazendo com que ela não conseguisse expressar seus pensamentos.
Os pesquisadores da Universidade Stanford implantaram chips no córtex pré-motor ventral e na área de Broca – um centro nervoso que permite a articulação da linguagem – e os treinaram com um software para reconhecer os sinais cerebrais quando ela tentava falar.
Após quatro meses de testes, a paciente conseguiu reproduzir frases de 62 palavras por minuto. Em média, uma pessoa sem dificuldades de fala reproduz 160 palavras por minuto.
Os pesquisadores testaram dois modelos, um com 125 mil palavras e outro com apenas 50 palavras. A taxa de erro da escolha de palavras pela inteligência artificial foi de 23,8% e 9,1%, respectivamente.
Paciente vítima de AVC
O segundo estudo publicado na revista Nature conta a experiência de Ann Johnson, 47 anos. A americana perdeu a capacidade de falar há 18 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).
No caso de Ann, cientistas da Universidade da Califórnia, em São Francisco, implantaram 253 eletrodos na superfície do córtex cerebral. A equipe do neurocirurgião Edward Chang treinou o algoritmo da inteligência artificial a partir de um vocabulário com 1.024 palavras.
A voz de Ann foi reproduzida a partir da gravação do seu discurso de casamento e Ann conseguiu reproduzir 78 palavras por minuto. A taxa de erro média foi de 25,5%.
Além de conseguir verbalizar os pensamentos, os pesquisadores criaram um modelo de avatar computadorizado, com a fisionomia semelhante à da paciente, para reproduzir as expressões faciais de Ann.
“Estamos apenas tentando restaurar quem as pessoas são”, disse Chang em entrevista ao jornal The New York Times.
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