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“Nem passou pela minha cabeça”, diz mulher que teve câncer na gravidez

Mulher foi diagnosticada com câncer de mama no final da gravidez e participou de pesquisa para novo tratamento

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1 de 1 Imagem mostra um casal vestido de branco balançando um bebê - Metrópoles - Foto: Arquivo pessoal

O câncer de mama é um dos tipos de câncer mais comuns. Apesar disso, nenhuma mulher espera enfrentar a doença durante uma gravidez. No entanto, foi o que aconteceu com Elein Werner, de 37 anos, que descobriu o tumor enquanto esperava sua filha Cecília.

Em abril de 2023, ela estava na 34ª semana de gravidez quando passou a sentir dor e fisgadas no bico do peito. Elein acredita que, por ser profissional da saúde, foi capaz de fazer um autoexame em que observou um nódulo e percebeu seu peito diferente.

“Como estava grávida, achei que o crescimento podia ser por conta disso. Fui na médica dizendo que tinha sentido umas fisgadas, ela fez o exame físico e pediu que eu fizesse um ultrassom”, conta Elein.

No entanto, ela não levou a médica tão a sério e guardou o pedido por duas semanas, até que sentiu outro nódulo grande debaixo da axila. Foi quando finalmente realizou o ultrassom. Durante o exame, a médica percebeu algo diferente.

“Ela ficou uns 20 minutos analisando. Na hora, vi que uma mama não tinha nada e na outra apareceu algo diferente. Mas nunca achei que podia ser câncer, ainda mais grávida. Fui sozinha no dia porque nem passou pela minha cabeça a possibilidade”, afirma.

A dentista descreve sua gravidez como “perfeita”. Não teve enjoo, não engordou, toda a gestação foi tranquila. Mas, no laudo do exame, veio a informação da lesão com aspecto de malignidade e a indicação de uma biópsia.

“Minha obstetra entrou na jogada e pediu para fazer a biópsia logo. Era o segundo caso que ela tinha visto na vida e me apresentou uma mastologista que conhecia o oncologista que me tratou. Foi a melhor indicação”, lembra.

Com a biópsia, ela foi diagnosticada com câncer de mama. Quanto maior o tumor, mais difícil de tratar e, no caso dela, era um tipo de crescimento acelerado que precisava de um plano de tratamento o quanto antes.

Os profissionais explicaram que, se Cecília nascesse antes da 36ª semana, a bebê poderia precisar ficar na UTI. Toda a decisão foi tomada pensando em um período para o parto que seria certo para as duas.

“Congelei quando recebi o diagnóstico. Foquei na Cecília e deixei a doença de lado. Preparei tudo para o nascimento dela e pensei: ‘Depois que ela nascer, vou cuidar de mim’. Até porque não tinha muito o que fazer, eu não poderia começar a químio antes do nascimento dela”, explica.

Cecília nasceu e, dois dias depois, Elein começou a fazer os exames necessários para iniciar o tratamento. Os médicos precisavam saber a região exata em que se encontrava o tumor e se o câncer já havia se espalhado. Uma semana depois do parto, ela estava começando a primeira quimioterapia.

“Nem imaginei que seria tão forte. Não caiu minha ficha que tava passando por aquilo, mas só pensava que tinha que cuidar da Cecília porque não tinha como cuidar de mim naquele momento”, lembra.

O plano dos médicos era fazer o tratamento e analisar como o corpo da paciente reagiria. Elein conta que o apoio da família e do marido nesse momento foi fundamental, e que conheceu pessoas essenciais para superar a fase.

“Foi quando comecei a entender que eu tinha uma neném pequena e estava com câncer. Mas conheci duas mulheres que passaram pelo mesmo e ficaram horas no telefone comigo, me acolheram, tiraram dúvidas e ajudaram com tudo que eu queria saber”, relembra.

A dentista teve que mudar toda sua rotina, o que incluía visitas semanais ao hospital. Por causa do tratamento, Elein não tinha forças para cuidar da bebê, que acabou sendo tratada pela família dela nos primeiros meses, enquanto o marido a ajudava.

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Os médicos decidiram esperar o parto para começar o tratamento de Elein
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Elein Werner no hospital, com a touca para evitar que os cabelos caíssem

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Os médicos decidiram esperar o parto para começar o tratamento de Elein

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Crioterapia

Uma das maiores preocupações de Elein era sobre a queda de cabelo. “A questão de ficar careca mexeu muito comigo. Não sei se por causa dos hormônios da gravidez, mas o médico explicou que podia acontecer já na primeira químio e me indicou uma touca”, explica.

A touca térmica, conhecida como crioterapia, é um sistema de resfriamento do couro cabeludo que faz com que os vasos sanguíneos da região se contraiam pelo frio, diminuindo de maneira significativa a circulação da quimioterapia nessa área.

“Eu ficava pensando que quando alguém vê que você está com câncer, fica com dó. Mas consegui levar uma vida normal. Com essa opção da touca, não precisei raspar a cabeça, tanto que muita gente dizia que nem parecia que eu estava com câncer”, conta.

Participação em pesquisa para tratamento

Elein passou por uma cirurgia para retirar o tumor e o médico lhe explicou que, caso encontrasse algum resíduo do tumor, seria necessário realizar uma complementação da químio.

A dentista não precisou remover as mamas — pelo tumor estar abaixo das axilas, o procedimento foi conservador. No entanto, os médicos encontraram o tumor residual triplo-negativo e ela foi convidada a participar de uma pesquisa para o tratamento.

O oncologista Romualdo Barroso, do Hospital Brasília, que cuidou do tratamento de Elein, explica que os tumores triplo-negativos que não desaparecem completamente após a quimioterapia pré-operatória apresentam um risco aumentado de recidiva.

A condição, chamada de doença residual, ainda é um desafio para a medicina e novos tratamentos estão sendo avaliados para aumentar a cura nesses casos.

“A Elein teve a oportunidade de participar de uma pesquisa global testando diferentes drogas. A importância da pesquisa está no fato de que conseguimos dar oportunidade aos nossos pacientes em Brasília na mesma magnitude que pacientes em grandes instituições do mundo de usarem terapias inovadoras que têm uma grande chance de se tornarem o novo padrão de tratamento em alguns anos”, aponta Barroso.

A mãe de Cecília quis participar do projeto para ajudar outras mulheres que podem precisar do tratamento no futuro. “Iniciei esse tratamento em janeiro e semana passada foi minha última imunoterapia. Estou muito feliz! O médico me deu alta e agora vou fazer o acompanhamento por três ou cinco anos. Minha felicidade também é por saber que tive a oportunidade de ajudar outras mulheres”, comemora Elein.

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