Mulher com pernas e braços amputados após infecção reaprende a andar
Allison Friday teve sepse, uma infecção generalizada que diminuiu suas chances de sobrevivência a apenas 5%
atualizado
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Uma mulher moradora do Condado de Durham, na Inglaterra, teve que reaprender a viver após uma severa infecção que resultou na amputação de seus dois braços e suas duas pernas.
Em 31 de janeiro de 2020, Allison Friday, 56 anos, passou mal durante a noite, notando erupções nos braços, pernas e nádegas. Diagnosticada com septicemia meningocócica, uma infecção causada por uma bactéria conhecida como meningococo, ela foi colocada em coma e chegou a ter apenas 5% de chance de sobreviver, segundo a equipe médica que a atendeu.
O quadro de Alisson evoluiu para a sepse, quando a bactéria invade a corrente sanguínea e passa a danificar os vasos, causando sangramento na pele e nos órgãos. A sepse é uma resposta potencialmente fatal à infecção, podendo causar falência múltipla dos órgãos, que leva à morte do paciente.
“Meu corpo estava entrando em falência de múltiplos órgãos e eles disseram que minha única esperança era entrar em coma imediatamente para filtrar meu sangue”, contou Alisson ao Daily Mail. Além de “dores terríveis” dos primeiros dias de internação, ela conta que não se lembra de nada dos 20 dias em que passou em coma.
Antes de contrair a infecção, Alisson trabalhava como gerente de teste de medicamentos ainda não registrados, o que pode ter causado a sepse. Durante o coma e nos 14 meses que passou em recuperação no hospital, ela precisou conviver com o medo enquanto seus membros e parte do nariz ficavam cada vez mais escurecidos, por conta da morte dos tecidos.
“Primeiro eu soube que ela perderia o pé, e perguntei aos médicos se eles conseguiriam salvar a canela. Então, a canela também ficou preta e perguntei sobre a possibilidade de salvarem o joelho. E assim continuou, até que todos os seus membros ficaram pretos”, relembra David Friday, marido da paciente.
Enquanto isso, as funções renais e hepáticas de Alisson também se deterioravam. Três semanas depois, ela saiu do coma e foi informada de que precisaria amputar suas pernas e braços. Neste momento, desesperada, ela afirmou que preferia morrer a “ter que viver como uma amputada quádrupla”.
Durante março e abril de 2020, Allison passou por seis cirurgias, em um total de 30 horas de duração, nas quais foram removidas ambas as pernas abaixo do joelho, os dois braços abaixo do cotovelo, a ponta do nariz e parte de uma narina. Os ferimentos nas nádegas da paciente impediram que ela fosse colocada em uma cadeira de rodas, o que dificultou ainda mais sua locomoção. Ela também sofreu uma série de outras infecções e desenvolveu anemia profunda.
Por conta das restrições impostas pela Covid-19, ela só pode receber visitas ocasionalmente durante os 14 meses em que esteve internada. Ainda assim, todas as noites ela e a família conversavam por video-chamadas. “Não sei como teria sobrevivido sem ser capaz de ver minha família dessa maneira”, desabafou.
Recomeço
As tão esperadas próteses para braços e pernas chegaram em novembro do ano passado. “Foi muito difícil de aceitar, porque ver minhas próteses foi como uma verificação da realidade de que seria assim para o resto da minha vida. Eu tive que lutar com muitas batalhas psicológicas”, contou Alisson.
No dia 24 de março de 2021, Alisson foi, finalmente, liberada para ir para casa. Por enquanto, ela ainda enfrenta dificuldades para se sentar, uma vez que os ferimentos em suas nádegas podem levar até um ano para desaparecerem completamente. “Eu realmente tenho que me concentrar para ficar de pé. É um trabalho árduo e doloroso porque minhas pernas parecem presas. Até sinto dores fantasmas nos dedos dos pés que não tenho mais”.
Por enquanto, Alisson ainda sente fadiga intensa ao realizar tarefas simples do dia a dia, como tomar banho e se vestir. Ela estima que gasta cerca de uma hora e meia para tomar todos os medicamentos que precisa e tem sessões de fisioterapia três vezes por semana, além de fazer terapia ocupacional e contar com a ajuda de uma enfermeira em tempo integral.
Quando adoeceu, Alisson havia acabado de pedir demissão para começar em um novo emprego. Ao descobrirem que ela estava doente, seus novos empregadores retiraram a oferta de emprego, deixando a paciente e sua família desamparada financeiramente. Além do salário de David, a família — que conta com mais três filhos — vive de benefícios do governo, porém o montante é insuficiente para arcar com todos os novos custos.
O casal criou a página GoFundMe para tentar angariar 40 mil euros (cerca de R$ 267.864) para comprar equipamentos especializados, como uma prótese estilo Cyborg, mais avançada que a prótese de mão pinça-gancho utilizada por Alisson atualmente. A lista de acessórios inclui, ainda, uma cadeira de rodas de viagem, adaptações caseiras incluindo um elevador, uma cabine úmida com secador elétrico e um assento especial para o vaso sanitário tipo bidê, disponível apenas nos Estados Unidos.
“As pessoas veem amputados mas nunca sabem exatamente o que eles passaram, o que precisam e o que enfrentam. Agora, meu objetivo é aumentar a conscientização para amputados e para aqueles que sofreram uma doença devastadora como a sepse. Foi um processo de aprendizagem longo e muito difícil para mim, mas consegui caminhar 40 metros em março e agora há uma luz positiva no fim do túnel.”