“Desaprendi a andar aos 35 anos”, diz paciente com AME tipo 3
Advogada cearense conta que a doença começou a se manifestar aos seis anos de idade e, por causa da AME, perdeu a força nos músculos
atualizado
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A Atrofia Muscular Espinhal (AME) é conhecida principalmente por atingir crianças pequenas, com menos de dois anos. Apesar da doença ser rara, é comum encontrar relatos de famílias em campanha para garantir acesso ao tratamento, que é um dos mais caros do mundo, para seus bebês.
Porém, a condição é dividida em cinco tipos diferentes e pode se manifestar em fases mais avançadas da vida. Foi o caso da advogada Maria Madalena Filgueira Santos, 41, que foi diagnosticada aos seis anos com AME tipo 3 e hoje é cadeirante por causa da doença.
Ela conta que seu irmão mais novo tinha dois anos de idade quando começou a caminhar de forma diferente. “Meus pais, então, o levaram ao hospital. Depois de vários exames, ele recebeu o diagnóstico de AME tipo 3, e os médicos alertaram que os demais irmãos também poderiam ter”, afirma a moradora de Milagres, no Ceará.
Pouco depois, Madalena começou a apresentar os primeiros sintomas. Ela sentia fraqueza, perda de equilíbrio, e passou a ter muitas quedas. “Comecei a fazer fisioterapia desde cedo, mas por ser uma doença sem cura, ela progrediu. Praticamente desaprendi a andar e me tornei cadeirante aos 35 anos”, conta Madalena.
Segundo o neurologista Edmar Zanoteli, do Hospital das Clínicas de São Paulo, a AME é uma doença rara, degenerativa, passada de pais para filhos, e tem cinco variações, que vão de 0 a 4. “O que muda é a gravidade da doença. As de níveis mais baixos se apresentam ainda nos primeiros meses de vida, e o bebê sequer consegue se sentar”, explica.
No tipo 3, porém, a criança aprende a andar, mas em algum momento as funções motoras são afetadas pela incapacidade do corpo em produzir uma proteína essencial para a sobrevivência dos neurônios motores. “Logo, ela passa a apresentar quedas e fraquezas”, alerta Zanoteli.
“Ao passo que a doença progredia, eu sentia mais fraqueza nas pernas e nos braços. Caía e me machucava muito, mas por sorte nunca fraturei nada. Chegou ao ponto de eu não conseguir mais andar de bicicleta e moto, tinha muita dificuldade para subir escadas e até para levantar os braços. A AME foi evoluindo até que eu não conseguia mais andar”, conta Madalena.
Sintomas e tratamento
Os demais sintomas da AME são:
- Perda do controle e da força muscular;
- Incapacidade/dificuldade de movimentos e de locomoção;
- Incapacidade/dificuldade de engolir, mas é rara no tipo 3;
- Incapacidade/dificuldade de segurar a cabeça, também rara no tipo 3;
- Incapacidade/dificuldade de respirar, rara no tipo 3.
Tratamento
Um dos remédios que compõem o tratamento da AME, o Zolgensma, é conhecido por ser um dos mais caros do mundo, o que torna difícil o acesso ao tratamento eficaz da doença. Ele é indicado para crianças com menos de dois anos.
“Os medicamentos são caros por serem terapias inovadoras. Muitas pessoas recorrem à Justiça para conseguir o remédio, mas o ideal seria que o Ministério da Saúde fornecesse”, explica o neurologista.
Como tem AME tipo 3, Madalena precisa do Risdiplam ou do Spinraza para retardar o avanço dos sintomas. Ambos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), mas, segundo a advogada, seu pedido para obtê-los foi negado. Por isso, ela decidiu recorrer à Justiça quatro meses atrás.
“Não procurei antes, pois não sabia se gostaria de ter mais um filho”, destaca a advogada, que engravidou aos 37.
Zanoteli afirma que não é recomendável que pacientes grávidas e com AME consumam os remédios, pois os efeitos para o feto ainda são desconhecidos. “A terapia pode ser um teratogênico, ou seja, capaz de causar dano ao embrião ou feto durante a gravidez”, alerta.
Madalena ainda está esperando a decisão da Justiça para ter acesso a um dos dois medicamentos.
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