metropoles.com

Pesquisadores propõem mudança radical no tratamento do câncer de mama

Estudo sugere mudanças no protocolo do tratamento de pacientes com carcinoma ductal in situ, um tipo de câncer com evolução lenta

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
SimpleImages/Getty Images
Foto colorida de mulher de blusa rosa apalpando os seios em campanha contra o câncer de mama - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de mulher de blusa rosa apalpando os seios em campanha contra o câncer de mama - Metrópoles - Foto: SimpleImages/Getty Images

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres depois do de pele não melanoma. Existem vários tipos de tumor nas mamas, sendo que alguns evoluem de forma rápida; e outros, bem lentamente. Pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, estão propondo uma mudança radical no tratamento desse câncer.

Em um estudo publicado este mês, na revista JAMA, os cientistas sugerem que as pacientes diagnosticadas com carcinoma ductal in situ, um tipo de tumor com crescimento lento, não recebam tratamento.

O carcinoma ductal in situ é considerado não invasivo ou pré-invasivo por estar restrito ao ducto ou ao lóbulo. As células desse tipo de tumor não conseguem acessar o sistema linfático ou vascular da paciente. Por isso, os cânceres desse tipo têm potencial muito baixo de metástase e não oferecem risco de morte.

Estima-se que aproximadamente 20% dos novos casos de câncer de mama serão de carcinoma ductal in situ.

Novo protocolo de tratamento do câncer

Ao acompanhar 673 pacientes com carcinoma ductal in situ, os pesquisadores da Universidade de Duke observaram que o tratamento padrão — cirurgia seguida por radioterapia —  faz pouca diferença na progressão ou não do câncer e na sobrevivência das mulheres. Eles passaram a defender que poupar a paciente de tratamentos invasivos pode garantir melhor qualidade de vida.

O estudo comparou mulheres que receberam as terapias padrão com aquelas que receberam uma abordagem de “observar e esperar”. Todas tiveram a saúde monitorada por meio de exames físicos e de tomografia a cada seis meses, ao longo de dois anos.

Ao final do período, os resultados mostraram que o grupo de mulheres que não foi tratado não apresentou risco maior de desenvolver a forma mais invasiva do câncer do que aquelas que receberam tratamento.

“Há um crescente conjunto de evidências de que nem todos os carcinoma ductal in situ estão destinados a progredir”, disse a principal autora do estudo, Eun-Sil Shelley Hwang, quando o estudo foi apresentado, durante o Simpósio sobre Câncer de Mama de San Antonio, nos Estados Unidos.

Durante o estudo, as mulheres no grupo de monitoramento podiam optar por fazer a cirurgia a qualquer momento. O procedimento também poderia ser realizado se o tumor mostrasse sinais de progressão invasiva. As voluntárias também poderiam escolher por receber terapia hormonal.

Os resultados mostraram que 8,7% das mulheres do grupo que recebeu tratamento foram diagnosticadas com câncer de mama invasivo. Isso significa que o câncer se espalhou de onde começou para o tecido normal circundante. Ao mesmo tempo, apenas 3,1% das pacientes do grupo de monitoramento — que não fez cirurgia nem radioterapia — evoluíram.

Cerca de sete em cada dez mulheres (71,3%) do grupo de monitoramento ativo optaram por receber tratamento hormonal, em comparação com 65,5% no grupo padrão.

16 imagens
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), há vários tipos de câncer de mama. Alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente. A maioria dos casos, quando tratados cedo, apresentam bom prognóstico
Não há uma causa específica para a doença. Contudo, fatores ambientais, genéticos, hormonais e comportamentais podem aumentar o risco de desenvolvimento da enfermidade. Além disso, o risco aumenta com a idade, sendo comum em pessoas com mais de 50 anos
Apesar de haver chances reais de cura se diagnosticado precocemente, o câncer de mama é desafiador. Muitas vezes, leva a força, os cabelos, os seios, a autoestima e, em alguns casos, a vida. Segundo o Inca, a enfermidade é responsável pelo maior número de óbitos por câncer na população feminina brasileira
Os principais sinais da doença são o aparecimento de caroços ou nódulos endurecidos e geralmente indolores. Além desses, alteração na característica da pele ou do bico dos seios, saída espontânea de líquido de um dos mamilos, nódulos no pescoço ou na região das axilas e pele da mama vermelha ou parecida com casca de laranja são outros sintomas
O famoso autoexame é extremamente importante na identificação precoce da doença. No entanto, para fazê-lo corretamente é importante realizar a avaliação em três momentos diferentes: em frente ao espelho, em pé e deitada
1 de 16

Câncer de mama é uma doença caracterizada pela multiplicação desordenada de células da mama causando tumor. Apesar de acometer, principalmente, mulheres, a enfermidade também pode ser diagnosticada em homens

Sakan Piriyapongsak / EyeEm/ Getty Images
2 de 16

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), há vários tipos de câncer de mama. Alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente. A maioria dos casos, quando tratados cedo, apresentam bom prognóstico

Science Photo Library - ROGER HARRIS/ Getty Images
3 de 16

Não há uma causa específica para a doença. Contudo, fatores ambientais, genéticos, hormonais e comportamentais podem aumentar o risco de desenvolvimento da enfermidade. Além disso, o risco aumenta com a idade, sendo comum em pessoas com mais de 50 anos

Jupiterimages/ Getty Images
4 de 16

Apesar de haver chances reais de cura se diagnosticado precocemente, o câncer de mama é desafiador. Muitas vezes, leva a força, os cabelos, os seios, a autoestima e, em alguns casos, a vida. Segundo o Inca, a enfermidade é responsável pelo maior número de óbitos por câncer na população feminina brasileira

wera Rodsawang/ Getty Images
5 de 16

Os principais sinais da doença são o aparecimento de caroços ou nódulos endurecidos e geralmente indolores. Além desses, alteração na característica da pele ou do bico dos seios, saída espontânea de líquido de um dos mamilos, nódulos no pescoço ou na região das axilas e pele da mama vermelha ou parecida com casca de laranja são outros sintomas

Boy_Anupong/ Getty Images
6 de 16

O famoso autoexame é extremamente importante na identificação precoce da doença. No entanto, para fazê-lo corretamente é importante realizar a avaliação em três momentos diferentes: em frente ao espelho, em pé e deitada

Annette Bunch/ Getty Images
7 de 16

Faça o autoexame. Em frente ao espelho, tire toda a roupa e observe os seios com os braços caídos. Em seguida, levante os braços e verifique as mamas. Por fim, coloque as mãos apoiadas na bacia, fazendo pressão para observar se existe alguma alteração na superfície dos seios

Metrópoles
8 de 16

A palpação de pé deve ser feita durante o banho com o corpo molhado e as mãos ensaboadas. Para isso, levante o braço esquerdo, colocando a mão atrás da cabeça. Em seguida, apalpe cuidadosamente a mama esquerda com a mão direita. Repita os passos no seio direito

Metrópoles
9 de 16

A palpação deve ser feita com os dedos da mão juntos e esticados, em movimentos circulares em toda a mama e de cima para baixo. Depois da palpação, deve-se também pressionar os mamilos suavemente para observar se existe a saída de qualquer líquido

Saran Sinsaward / EyeEm/ Getty Images
10 de 16

Por fim, deitada, coloque a mão esquerda na nuca. Em seguida, com a mão direita, apalpe o seio esquerdo verificando toda a região. Esses passos devem ser repetidos no seio direito para terminar a avaliação das duas mamas

FG Trade/ Getty Images
11 de 16

Mulheres após os 20 anos que tenham casos de câncer na família ou com mais de 40 anos sem casos de câncer na família devem realizar o autoexame da mama para prevenir e diagnosticar precocemente a doença

AlexanderFord/ Getty Images
12 de 16

O autoexame também pode ser feito por homens, que apesar da atipicidade, podem sofrer com esse tipo de câncer, apresentando sintomas semelhantes

SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images
13 de 16

De acordo com especialistas, diante da suspeita da doença, é importante procurar um médico para dar início a exames oficiais, como a mamografia e análises laboratoriais, capazes de apontar a presença da enfermidade

andresr/ Getty Images
14 de 16

É importante saber que a presença de pequenos nódulos na mama não indica, necessariamente, que um câncer está se desenvolvendo. No entanto, se esse nódulo for aumentando ao longo do tempo ou se causar outros sintomas, pode indicar malignidade e, por isso, deve ser investigado por um médico

Westend61/ Getty Images
15 de 16

O tratamento do câncer de mama dependerá da extensão da doença e das características do tumor. Contudo, pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica

Peter Dazeley/ Getty Images
16 de 16

Os resultados, porém, são melhores quando a doença é diagnosticada no início. No caso de ter se espalhado para outros órgãos (metástases), o tratamento buscará prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente

Burak Karademir/ Getty Images

Médicos oncologistas ouvidos pelo Metrópoles acreditam que os resultados do estudo podem contribuir para a atualização do protocolo do tratamento do câncer de mama do tipo carcinoma ductal in situ.

O oncologista Romualdo Barroso, médico do Hospital Brasília, da Dasa, explica que o câncer, por definição, é uma neoplasia maligna em que as células cancerosas invadem um tecido vizinho. No caso do carcinoma ductal in situ, as células têm algumas características do câncer, mas não possuem a sua habilidade fundamental, que é a capacidade de invasão.

“O fato delas não invadirem o tecido vizinho e não serem consideradas um câncer ou um carcinoma invasivo impede que causem metástases. Nem todos os carcinoma ductal in situ vão se transformar em câncer invasivo. Portanto, essa pergunta, ‘se é de fato necessário operar todas essas mulheres?’, é uma pergunta importante, porque provavelmente a gente está super tratando uma população que poderia ser apenas acompanhada”, avalia Barroso.

O oncologista João Nunes, da Oncoclínicas Brasília, concorda. “Nesse espectro evolutivo, o único estágio que apresenta risco de morte para a paciente é o carcinoma invasivo. Porém, grande parte dos tumores do tipo carcinoma in situ nunca evolui para carcinoma invasivo, não sendo, teoricamente, necessário nenhum procedimento local”, afirma Nunes.

Como é o tratamento hoje?

De forma geral, o tratamento das pacientes com carcinoma ductal in situ é feito com cirurgia seguida de radioterapia e terapia endócrina com bloqueio hormonal por três anos.

Os pesquisadores alegam que esta é uma abordagem bastante invasiva e com efeitos colaterais para um câncer com baixo risco de se desenvolver para formas mais graves.

“A prática atual pode resultar no tratamento excessivo de mulheres cujos tumores apresentam baixo risco de progressão. Isso pode levar a dor crônica, alteração da imagem corporal, redução da qualidade de vida e outros efeitos colaterais que podem ser evitados”, considerou a professora Hwang.

O oncologista Romualdo Barroso destaca que a cirurgia da mama evoluiu muito. Atualmente é possível fazer operações muito menos invasivas, mesmo quando uma maior quantidade de tecido precisa ser retirada. Contudo, a cirurgia não está isenta de riscos, com complicações imediatas, como de desconfortos que podem incluir dor, alteração de sensibilidade local e insatisfação com o resultado estético.

“O Brasil é um dos países com melhores técnicas de reconstrução e de oncoplástica. Os mastologistas brasileiros são referência mundial, mas a cirurgia é sempre mais agressiva do que uma observação”, avalia Barroso.

Tratamento sem cirurgia?

A pesquisadora Eun-Sil Shelley Hwang aponta que mais estudos precisam ser feitos para comprovar suas conclusões, mas está otimista. “O ponto importante a ser destacado é que esses são resultados iniciais. Embora os resultados sejam provocativos, não creio que eles sejam uma mudança prática ainda, mas se esses resultados forem replicados em estudos posteriores, acredito que eles mudarão a prática médica. Vou ser otimista e dizer que isso pode acontecer em cinco anos”, avalia.

Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre isso!

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?