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Mpox vira emergência de saúde mundial. Qual risco de surto no Brasil?

Maioria dos pacientes com mpox se recupera em um mês, mas com nova variante, doença pode ser dolorosa e fatal em até 10% dos casos

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Pessoa segurando fraco com adesivo com a palavra Monkeypox- Metrópoles - mpox
1 de 1 Pessoa segurando fraco com adesivo com a palavra Monkeypox- Metrópoles - mpox - Foto: bymuratdeniz/ Getty Images

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quarta-feira (14/8) que a mpox voltou a ser uma emergência sanitária internacional. A decisão da organização foi tomada depois do aumento expressivo de casos e de mortes causadas por uma nova variante da doença, a 1b, que está circulando especialmente na República Democrática do Congo (RDC).

A nova cepa tem letalidade de até 10%, muito superior à de 1% da variante que circulou em 2022. Na época, o Brasil chegou a ser o segundo país com mais casos acumulados, com 10 mil notificações, atrás apenas dos Estados Unidos, mas a doença foi controlada com o uso de imunizantes para a varíola, que têm uma eficácia cruzada para tratar o vírus da mpox.

O clado 1b, que está causando tantas preocupações no continente africano, ainda não foi registrado fora de lá. Entretanto, as autoridades temem que a doença se espalhe como aconteceu com a variante 2, que levou ao surto de 2022 — as chances são altas e, por isso, a OMS tenta reunir vacinas e testes para aumentar a vigilância na região central da África e impedir a difusão do vírus.

Qual é o risco da mpox chegar no Brasil?

No Brasil, em 2024, foram registrados 709 casos confirmados ou prováveis de mpox, todos da variante que circula por aqui desde 2022. Da chegada da doença no país até o momento, 16 óbitos foram registrados — a morte mais recente foi contabilizada em abril de 2023.

“Não devemos menosprezar a mpox, mas não acreditamos que teremos um aumento abrupto de casos”, afirmou o diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, em uma conferência digital na terça-feira (13/8).

O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também avalia que o Brasil tem uma posição geográfica privilegiada no cenário internacional da mpox. “A transmissão ainda é bem local na África e não há motivo para alarme nem com a notícia da alta letalidade. O clado 2 globalmente levou a 1% de mortes, mas no Brasil esse número foi extremamente inferior, então nada nos leva a crer que, mesmo se a doença chegar aqui, terá a mesma letalidade que está apresentando na África”, explica.

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, destaca que por enquanto não devem ser alterados os protocolos de prevenção que estão sendo adotados no Brasil desde 2022. “Devemos continuar monitorando os casos, testar os suspeitos e, se confirmada a infecção, fazer a vacinação das pessoas próximas como já temos feito”, indica.

Como a mpox é transmitida?

Ainda há muito desconhecimento sobre a nova subvariante da mpox, já que foram realizadas poucas pesquisas e análises laboratoriais do vírus. Pelos dados da população infectada, acredita-se que a transmissão majoritária seja pelo contato íntimo que se dá durante o sexo e que a cepa que está circulando seja mais transmissível, pelo aumento exponencial de casos.

Por ora, o risco maior continua sendo o de contato íntimo com as lesões, não necessariamente exclusivamente sexual. Embora na maior parte do mundo a doença seja transmitida no sexo, nos países africanos atingidos atualmente há uma grande proporção de contato intradomiciliar (entre pessoas da mesma família). A hipótese dos cientistas é de que parece ser necessário um contato duradouro e intenso para que a transmissão aconteça.

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Concebida para agir contra a varíola humana, erradicada na década de 1980, a vacina contra a condição também serve para evitar a contaminação pela varíola dos macacos, por serem doenças muito parecidas
Tanto o vírus causador da varíola humana quanto o causador da varíola dos macacos fazem parte da família "ortopoxvírus". A vacina, portanto, utiliza um terceiro vírus desta família, que, além de ser geneticamente próximo aos supracitados, é inofensivo aos humanos e ajuda a combater as doenças, o vírus vaccinia
Homens que fazem sexo com outros homens e as pessoas que tiveram contato próximo com um paciente infectado foram consideradas prioritárias para o recebimento das doses
Atualmente, existem duas vacinas em uso contra a varíola dos macacos no mundo: a Jynneos, fabricada pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, e a ACAM2000, fabricada pela francesa Sanofi
A Jynneos é administrado como duas injeções subcutâneas (0,5 mL) com 28 dias de intervalo. A resposta imune leva 14 dias após a segunda dose
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A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), agência internacional dedicada a melhorar as condições de saúde dos países das Américas, destinou lotes de doses da vacina contra a varíola dos macacos a diversas nações, incluindo o Brasil. Segundo especialistas, o esquema vacinal dos imunizantes é de duas doses com intervalo de cerca de 30 dias entre elas

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Concebida para agir contra a varíola humana, erradicada na década de 1980, a vacina contra a condição também serve para evitar a contaminação pela varíola dos macacos, por serem doenças muito parecidas

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Tanto o vírus causador da varíola humana quanto o causador da varíola dos macacos fazem parte da família "ortopoxvírus". A vacina, portanto, utiliza um terceiro vírus desta família, que, além de ser geneticamente próximo aos supracitados, é inofensivo aos humanos e ajuda a combater as doenças, o vírus vaccinia

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Homens que fazem sexo com outros homens e as pessoas que tiveram contato próximo com um paciente infectado foram consideradas prioritárias para o recebimento das doses

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Atualmente, existem duas vacinas em uso contra a varíola dos macacos no mundo: a Jynneos, fabricada pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, e a ACAM2000, fabricada pela francesa Sanofi

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A Jynneos é administrado como duas injeções subcutâneas (0,5 mL) com 28 dias de intervalo. A resposta imune leva 14 dias após a segunda dose

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A ACAM2000 é administrado como uma dose percutânea por meio de técnica de punção múltipla com agulha bifurcada. A resposta imune leva 4 semanas

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A vacinação contra a mpox é uma estratégia indicada tanto para a prevenção e defesa quanto para ensinar o corpo a combater o vírus antes de uma infecção

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Entre os sintomas da condição estão: febre, dor de cabeça, dor no corpo e nas costas, inchaço nos linfonodos, exaustão e calafrios. Também há bolinhas que aparecem no corpo inteiro (principalmente rosto, mãos e pés) e evoluem, formando crostas, que mais tarde caem

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A transmissão do vírus ocorre, principalmente, por meio do contato com secreções respiratórias, lesões de pele das pessoas infectadas ou objetos que tenham sido usados pelos pacientes. Até aqui, não há confirmação de que ocorra transmissão via sexual, mas a hipótese está sendo levantada pelos cientistas

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O período de incubação do vírus varia de sete a 21 dias, mas os sintomas, que podem ser muito pruriginosos ou dolorosos, geralmente aparecem após 10 dias

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Se a transmissão ainda é local, por que a OMS declarou emergência internacional?

A infecção começou na RDC, mas tem se espalhado por nações que fazem fronteira com o país. Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda confirmaram casos da doença (somando mais de 100 comprovações laboratoriais). Como a principal população afetada inicialmente foi a de mineiros, que são itinerantes e atuam em vários países da região, o espalhamento pode se intensificar.

A OMS, porém, não tem evidências de que o clado 1b esteja em outros países. Por isso, os especialistas ouvidos pelo Metrópoles apontam que a intenção da entidade ao declarar emergência seja para trazer luz ao problema e para que sejam investidos mais recursos no controle do surto e no remanejamento de vacinas para o local.

“A gente não tem previsão, a curto prazo, de ter uma grande quantidade de vacinas de varíola. O alerta da OMS, inclusive, vai nesse sentido de convocar mais laboratórios que tenham capacidade de produzir vacina de mpox, já que as expectativas de produção são baixas”, explica o médico infectologista Ralcyon Teixeira, do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo.

Com a produção atual, a OMS acredita que terá até o fim do ano apenas um milhão de doses da vacina, o que pode ser insuficiente para imunizar todas as pessoas que terão contato com o vírus até lá.

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