metropoles.com

Mpox: crianças são as principais vítimas do novo surto do vírus

Nova cepa mais letal e mais transmissível do vírus da mpox pode estar afetando um grupo diferente de pessoas do que em 2022

atualizado

Compartilhar notícia

CDC/IMAGE POINT FR/BSIP/Universal Images Group via Getty Images
Vista da mão direita e da perna direita de uma menina de 4 anos em Bondua, condado de Grand Gedeh, Libéria, que revela numerosas lesões maculopapulares da varíola dos macacos - Metrópoles
1 de 1 Vista da mão direita e da perna direita de uma menina de 4 anos em Bondua, condado de Grand Gedeh, Libéria, que revela numerosas lesões maculopapulares da varíola dos macacos - Metrópoles - Foto: CDC/IMAGE POINT FR/BSIP/Universal Images Group via Getty Images

A preocupação internacional com o vírus da mpox escalou nos últimos dias. A doença circulou globalmente em 2022 e foi controlada, mas uma subvariante do vírus se desenvolveu na região central do continente africano e parece ser mais letal e mais contagiosa do que a anterior.

Na quarta-feira (14/8), a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou novamente que a mpox é uma emergência sanitária internacional e que países de todo o mundo devem organizar esforços para atuar nos locais afetados antes que os casos ganhem maior proporção. Na última quinta-feira (15/8), as autoridades de saúde da Suécia confirmaram o registro do primeiro caso da nova cepa do vírus, a 1b, fora da África.

Em meio a várias incertezas sobre as diferenças entre o surto atual e o anterior, os dados que vem dos países afetados parecem indicar que a mpox pode ter uma nova população de risco: as crianças.

Qual o impacto da mpox em crianças?

A República Democrática do Congo (RDC) é o país onde o Clado 1b surgiu e concentra a maior parte dos casos. Neste ano, já foram notificados 15,6 mil casos de mpox e 537 mortes no país. Segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC) da África, quase 70% dos casos na RDC são de crianças menores de 15 anos e é entre elas que se concentram 85% das mortes, sendo que 62% deste total são menores de 5 anos.

Para o cientista Dimie Ogoina, nigeriano que diagnosticou o primeiro caso de mpox no surto de 2022 e que chefia a atual operação da OMS contra a doença, se nota que o público atingido pela nova variante é muito mais amplo que o da anterior. Há dois anos, os casos pareciam mais restritos a homens que fazem sexo com homens, mas agora são mulheres e crianças as mais afetadas em transmissões intradomiciliares.

“Proporcionalmente, as pessoas que vivem com HIV formam a população que mais acumula mortes por conta da doença, mas numericamente o que temos visto é que o impacto é grande entre as crianças. Elas parecem ter uma tendência maior às formas mais graves da doença, especialmente aquelas com menos de cinco anos de vida”, detalhou o especialista em um encontro com jornalistas na quarta-feira (14/8).

Os especialistas do CDC África acreditam que o maior número de casos e mortes entre crianças provavelmente se deve à falta de proteção da vacina contra a varíola, que não é aplicada desde 1980 na região, e porque cerca de 40% das crianças estão desnutridas, o que atrapalha o combate ao vírus.

Onde o vírus está se espalhando?

Além da RDC, há registros de pessoas infectadas também em Burundi, Uganda, Quênia e Ruanda, países vizinhos, e um recém-documentado na Suécia de uma pessoa que esteve na região africana recentemente. Os números de casos na África são maiores do que os registrados em todo o ano de 2022 e 2023.

O vírus pode ser transmitido aos humanos por meio do contato físico com uma pessoa infectada, materiais contaminados ou animais infectados. Até gotículas respiratórias podem transmitir a doença, embora o contato íntimo, pele com pele, com as feridas ainda pareça ser o mais infectante. O período de transmissão da doença se encerra quando as crostas das lesões desaparecem.

Como os hospitais das zonas mais atingidas estão superlotados, indivíduos com sintomas estavam sendo orientados a voltar para casa e fazer isolamento doméstico, o que raramente é possível já que a maioria das pessoas na região divide domicílio com familiares e conhecidos. A situação também pode ter agravado os contágios.

O que é a mpox?

A mpox é uma doença viral causada pelo vírus monkeypox, anteriormente conhecido como varíola dos macacos, que possui dois Clados distintos: 1 e 2. O subtipo 1b é uma variação nova e descrita pela primeira vez no final de 2023.

Os sintomas comuns incluem erupção cutânea ou lesões nas mucosas com duração de 2 a 4 semanas, febre, dor de cabeça, dores musculares, dor nas costas, exaustão e linfonodos inchados.

10 imagens
Concebida para agir contra a varíola humana, erradicada na década de 1980, a vacina contra a condição também serve para evitar a contaminação pela varíola dos macacos, por serem doenças muito parecidas
Tanto o vírus causador da varíola humana quanto o causador da varíola dos macacos fazem parte da família "ortopoxvírus". A vacina, portanto, utiliza um terceiro vírus desta família, que, além de ser geneticamente próximo aos supracitados, é inofensivo aos humanos e ajuda a combater as doenças, o vírus vaccinia
Atualmente, existem duas vacinas em uso contra a varíola dos macacos no mundo: a Jynneos, fabricada pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, e a ACAM2000, fabricada pela francesa Sanofi
A Jynneos é administrado como duas injeções subcutâneas (0,5 mL) com 28 dias de intervalo. A resposta imune leva 14 dias após a segunda dose
A ACAM2000 é administrado como uma dose percutânea por meio de técnica de punção múltipla com agulha bifurcada. A resposta imune leva 4 semanas
1 de 10

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), agência internacional dedicada a melhorar as condições de saúde dos países das Américas, destinou lotes de doses da vacina contra a varíola dos macacos a diversas nações, incluindo o Brasil. Segundo especialistas, o esquema vacinal dos imunizantes é de duas doses com intervalo de cerca de 30 dias entre elas

Jackyenjoyphotography/ Getty Images
2 de 10

Concebida para agir contra a varíola humana, erradicada na década de 1980, a vacina contra a condição também serve para evitar a contaminação pela varíola dos macacos, por serem doenças muito parecidas

koto_feja/ Getty Images
3 de 10

Tanto o vírus causador da varíola humana quanto o causador da varíola dos macacos fazem parte da família "ortopoxvírus". A vacina, portanto, utiliza um terceiro vírus desta família, que, além de ser geneticamente próximo aos supracitados, é inofensivo aos humanos e ajuda a combater as doenças, o vírus vaccinia

Wong Yu Liang/ Getty Images
4 de 10

Atualmente, existem duas vacinas em uso contra a varíola dos macacos no mundo: a Jynneos, fabricada pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, e a ACAM2000, fabricada pela francesa Sanofi

Jackyenjoyphotography/ Getty Images
5 de 10

A Jynneos é administrado como duas injeções subcutâneas (0,5 mL) com 28 dias de intervalo. A resposta imune leva 14 dias após a segunda dose

A Mokhtari/ Getty Images
6 de 10

A ACAM2000 é administrado como uma dose percutânea por meio de técnica de punção múltipla com agulha bifurcada. A resposta imune leva 4 semanas

David Talukdar/Getty Images
7 de 10

A vacinação contra a mpox é uma estratégia indicada tanto para a prevenção e defesa quanto para ensinar o corpo a combater o vírus antes de uma infecção

bymuratdeniz/ Getty Images
8 de 10

Entre os sintomas da condição estão: febre, dor de cabeça, dor no corpo e nas costas, inchaço nos linfonodos, exaustão e calafrios. Também há bolinhas que aparecem no corpo inteiro (principalmente rosto, mãos e pés) e evoluem, formando crostas, que mais tarde caem

Isai Hernandez / Getty Images
9 de 10

A transmissão do vírus ocorre, principalmente, por meio do contato com secreções respiratórias, lesões de pele das pessoas infectadas ou objetos que tenham sido usados pelos pacientes. Até aqui, não há confirmação de que ocorra transmissão via sexual, mas a hipótese está sendo levantada pelos cientistas

Sebastian Condrea/ Getty Images
10 de 10

O período de incubação do vírus varia de sete a 21 dias, mas os sintomas, que podem ser muito pruriginosos ou dolorosos, geralmente aparecem após 10 dias

KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

Brasil se prepara para evitar casos

Com as medidas emergenciais adotadas globalmente, o Ministério da Saúde se organizou para impedir que o surto atual se propague no Brasil.

O país não tem casos do Clado 1b, mas em 2024 foram notificados 709 casos da variante 2. Desde 2022, foram registrados 16 óbitos no Brasil, índice inferior ao 1% observado globalmente.

“A descoberta dos casos em crianças foi um dos motivadores para a declaração de emergência internacional, então o vírus nos preocupa”, afirmou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, nessa quinta. “Estamos em um nível 1, o mais baixo de preocupação. Elaboraremos orientações para viajantes para monitorar sintomas e vamos manter a vigilância”, complementou ela.

Todos os laboratórios estaduais do país podem fazer diagnósticos de mpox. O governo afirma que está negociando com a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) a compra de novas doses da vacina contra a doença.

A expectativa é adquirir 25 mil doses para vacinar de forma emergencial pacientes imunossuprimidos, especialmente os que vivem com o HIV, e profissionais que atuam nos laboratórios. Atualmente, no Brasil, há 49 mil doses da vacina.

A imunização disponível é feita em pessoas que tiveram contato com pessoas suspeitas de contaminação pelo vírus — a vacina é feita pós-exposição.

Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?