Passeio de montanha-russa pode ajudar em tratamentos contra enxaqueca
Estudo pioneiro revelou alterações no cérebro de pessoas que sofrem com enxaqueca quando elas participaram de uma simulação do brinquedo
atualizado
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Dar uma volta de montanha-russa pode ser a chave para o desenvolvimento de novos tratamentos contra a enxaqueca. Um estudo pioneiro revelou alterações no cérebro de pessoas que sofrem com a dor de cabeça excruciante quando elas participavam de uma simulação realista de um passeio no brinquedo.
Os resultados foram publicados em pré-print na revista científica Neurology, em 21 de julho de 2021. A pesquisa foi liderada por Gabriela Ferreira Carvalho, médica vinculada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP). O resto do time é formado por pesquisadores da Universidade de Luebeck, na Alemanha, onde a médica participa de um intercâmbio de pós-doutorado.
Os cientistas já sabiam que quem tem enxaqueca costuma apresentar mais náuseas e tonturas durante deslocamentos e passeios do que os que não convivem com a doença. O avanço de agora foi entender os motivos pelos quais isso acontece. “Nossas descobertas mostram que as áreas do cérebro relacionadas ao processamento da dor da enxaqueca se sobrepõem aos sistemas cerebrais que regulam o enjoo e a tontura”, explicou a pesquisadora ao site NewScientist.
Para chegar aos resultados, a equipe analisou imagens de ressonância magnética dos cérebros de 40 voluntários, sendo que 20 deles indicaram sofrer de enxaquecas regularmente. Os dois grupos assistiram a simulações de passeios na montanha-russa, com áudio realista da experiência, durante 35 minutos.
Os participantes eram em sua maioria mulheres (cerca de 80% do total) e tinham uma média de 30 anos de idade. Nenhum dos voluntários relatou episódio de enxaqueca durante o experimento. Por outro lado, 65% do grupo com enxaqueca afirmou ter sentido tonturas, enquanto no grupo controle apenas 30% dos participantes relataram o sintoma. O nível de enjoo também foi o dobro no grupo com enxaqueca, quando comparado ao grupo controle.
Os cientistas observaram nos exames de ressonância magnética atividade intensificada em áreas do cérebro responsáveis pela visão, percepção da dor, processamento sensório-motor, equilíbrio e tontura de quem sofre de enxaqueca regularmente. A pesquisa mostrou que aqueles que tiveram mais enjoo durante o estudo registraram mais mudanças na atividade cerebral no passeio virtual na montanha-russa.
“Pessoas com enxaqueca não têm apenas dores de cabeça. Elas também costumam ter outras condições, como enjoo e tontura, que podem realmente afetar sua qualidade de vida. Portanto, este estudo realmente nos dá uma ideia melhor sobre o que está acontecendo [em seus cérebros]”, acrescentou Carvalho. Com a descoberta, o esperado é que, no futuro, sejam criados fármacos capazes de agir exatamente nas áreas cerebrais que dão looping durante uma crise de enxaqueca.