“Um mergulho errado me deixou tetraplégico”, conta atleta paralímpico
Lucas Junqueira tornou-se cadeirante após um acidente na praia em que bateu a cabeça num banco de areia. Nova vida exigiu muitas adaptações
atualizado
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Aquilo que era para ser apenas um mergulho divertido tornou o psicólogo Lucas Junqueira cadeirante aos 21 anos. Atualmente, aos 36, ele é atleta paralímpico da seleção brasileira de rugby.
O acidente ocorreu em 2009 na praia de Ponta Negra, em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Junqueira conta que não pulou de altura nenhuma, apenas tentou furar uma onda. No entanto, havia um banco de areia no fundo, o rapaz bateu a cabeça ali e quebrou o pescoço.
“Eu não estava entendendo nada, só me tiraram da água às pressas e, em seguida, me levaram para o hospital mais próximo. Ali, fiz uma cirurgia no mesmo dia”, relata Junqueira. Segundo a Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), o mergulho em água rasa é considerado a quarta causa de lesão medular no país, tornando-se a segunda causa em períodos com altas temperaturas, como o verão.
Quando o jovem acordou, os médicos disseram que ele havia fraturado a quinta vértebra da coluna cervical e era improvável que recuperasse seus movimentos. Na cirurgia, foram colocados quatro parafusos para dar estabilidade à coluna do paciente.
“A chance de voltar a andar após uma lesão na coluna cervical, mesmo com uma cirurgia bem feita, é baixa. Alguns movimentos podem ser recuperados se a reabilitação for bem feita, o paciente terá de se adaptar às novas condições”, explica o neurocirurgião de coluna Márcio Vinhal, do Hospital DF Star, em Brasília.
Reabilitação
Algumas semanas após a cirurgia, Lucas foi encaminhado para a Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação, em Brasília. Ali, ele aprendeu mais sobre sua condição e descobriu que a vida dependeria de sua capacidade de adaptação.
“Procurei ter resiliência, aceitei a situação e comecei a trabalhar para ter minha autonomia e independência. Já tinha tido outros problemas na vida, aquele seria mais um. Recuperei os movimentos dos braços. Não voltei a mexer os dedos das mãos e nem as pernas, mas desistir jamais passou pela minha cabeça”, afirma Junqueira.
Depois do acidente, Lucas se inteirou sobre tecnologia assistiva, um ramo do conhecimento que facilita a vida de pessoas com comprometimentos físicos. Com formação na área, a fisioterapeuta Vanessa Cruz, coordenadora técnica de Mobility na Ottobock, explica que o trabalho busca maximizar a funcionalidade, a independência e a qualidade de vida do paciente.
“O trabalho consiste em mostrar novos horizontes ao paciente por meio de apoio psicológico, terapia ocupacional, fisioterapia e fonodiaulogia. A reabilitação ensina ainda sobre adaptações personalizadas para atender às necessidades individuais, como barras de apoio no banheiro e carros apropriados”, explica Vanessa.
Atleta de rugby
Junqueira conta que durante o processo de reabilitação o apresentaram a novas formas de praticar esportes, como o rugby. Apesar de já ter praticado a modalidade antes da lesão, ali ele viu a oportunidade de se profissionalizar e, com a prática, passou a ter bons resultados dentro e fora de quadra.
“Descobri que existia uma seleção brasileira paralímpica de rugby e quis ser convocado. Treinei muito apara isso e, em 2010, participei da minha primeira competição com a camisa do Brasil, foi emocionante. O rugby não é sobre violência, mas sim sobre mostrar para as pessoas que não sou frágil como eles pensam. Sou uma pessoa comum e um atleta dedicado”, afirma Junqueira.
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