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Médico relata cotidiano de tensão na UTI do Hran, referência em Covid-19

O intensivista Douglas Godoi é um dos responsáveis pelo atendimento dos pacientes graves da doença no Hospital Regional da Asa Norte

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O médico intensivista Douglas Godoi paramentado para entrar na UTI do HRAN durante a pandemia do novo coronavírus
1 de 1 O médico intensivista Douglas Godoi paramentado para entrar na UTI do HRAN durante a pandemia do novo coronavírus - Foto: Divulgação

Da noite para o dia, tudo mudou no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A rotina de abraços entre colegas nos corredores e de tratar doentes com as mais diferentes urgências acabou em 5 de março, com a chegada do primeiro caso confirmado do novo coronavírus ao Distrito Federal. Desde então, a instituição tornou-se o centro de referência do tratamento de pessoas acometidas pela Covid-19.

“Foi tudo muito difícil no começo, foi de repente. A UTI tinha 10 leitos que foram esvaziados para receber a primeira paciente, porque não há condições técnicas de misturar um paciente com a Covid-19 aos outros, que foram mandados para outros hospitais”, descreve Douglas Godoi, 41 anos, médico intensivista da unidade.

“A UTI foi considerada contaminada. Para entrar, tem de usar capote, gorro, pro-pé, luvas e a máscara N-95. Uma vez ali dentro, tem de ficar completamente paramentado, e o contato interpessoal no hospital ficou bem limitado. Não podemos mais nos abraçar, no máximo tocamos os cotovelos. É algo frio, a equipe sentiu um pouco no começo. Fora que é estressante ficar tanto tempo com o EPI“, conta o médico.

Os plantões variam entre seis e 12 horas e são executados, geralmente, por dois médicos. Nesse tempo, os profissionais controlam a fome e as necessidades fisiológicas, para se ausentarem o mínimo possível e não terem que repetir todo o ritual de descontaminação.

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A lista de nomes foi publicada no DODF desta quinta-feira (3/3)
Douglas Godoi abraça e beija uma colega de trabalho no Hran: chegada do novo coronavírus causou estranheza na equipe
O médico intensivista Douglas Godoi, que integra a equipe de atendimento aos casos do novo coronavírus no Hran
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Douglas Godoi abraça e beija uma colega de trabalho no Hran: chegada do novo coronavírus causou estranheza na equipe

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O médico intensivista Douglas Godoi, que integra a equipe de atendimento aos casos do novo coronavírus no Hran

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A rotina do tratamento intensivo, que por definição não é tarefa simples, exige muito dos profissionais de saúde quando se trata de um paciente com o novo coronavírus. “A equipe está sendo muito demandada, porque a coleta de exames é feita três vezes por dia. São muitos procedimentos para ventilar o paciente, como a pronação, uma manobra que envolve em torno de sete servidores por vez. Além disso, metade dos nossos pacientes precisa de hemodiálise, um tipo de cuidado que sobrecarrega a equipe de enfermagem”, relata Godoi.

Apesar de a mortalidade pela Covid-19 ser mais alta entre idosos, os doentes atendidos na UTI do Hran são, em sua maioria, pessoas com idades entre 30 e 39 anos. Lidar com doentes tão graves e tão jovens também é um desafio para a saúde mental dos profissionais da saúde. “Algumas mortes nos abalam muito. As pessoas choram, isso mexe com a equipe. Tivemos um colega que se afastou porque apresentou síndrome do pânico. A equipe toda está muito cansada, e a isso se soma o fato de que lidamos com pacientes jovens e graves, além de falta de equipamentos e de profissionais treinados para fazer a hemodiálise, por exemplo. Tudo isso agrava nosso estado psicológico”, avalia o intensivista.

Ninguém estava preparado para isso, de ter que passar todo o período de trabalho paramentado, tomando todas as precauções possíveis porque pouco se sabia sobre o vírus. Quando a primeira paciente chegou, ainda não tinha protocolo sobre como proceder, como entubar a pessoa, como fazer a ventilação. Fomos nos preparando à medida que foi acontecendo. Hoje posso dizer que a equipe tem know-how e está preparada.

Douglas Godoi, médico intensivista do HRAN

O próprio Douglas relatou ter sofrido efeitos em sua saúde mental no início da pandemia: precisou ajustar a dose do antidepressivo que usava e passou a tomar remédios para dormir. “Fiquei abalado no começo, apresentei quadro depressivo, mas hoje considero que estou bem. De toda forma, já tomei as providências de me consultar com psiquiatra e com psicólogo, para me proteger de possíveis consequências futuras desse período“, comenta.

Vida familiar
Na entrada de casa, Douglas colocou dois cestos de roupa suja: um para as de uso comum, outro para guardar o que tiver usado no hospital. O médico mora com o companheiro, que é policial civil e continua trabalhando normalmente, o que torna esse tipo de precaução mais do que necessária. “Tiro a roupa na porta de casa, entro de cueca, vou direto para o banho e depois vou cumprimentar meu companheiro, fazer janta, seguir o dia normal”, conta.

O médico tem um filho, Arthur, de 12 anos, fruto de um casamento anterior: a ex-companheira também é médica no pronto-socorro do Hran, o que gerou grande ansiedade no garoto quando o hospital tornou-se o centro de referência de tratamento da Covid-19. “Meu filho não tem muito para onde correr e, no começo, ficou assustado, teve pesadelos. Tentamos mostrar para ele que essa situação está acontecendo no mundo todo e que, como profissionais, estamos tendo os nossos cuidados para que nada aconteça”, lembra o médico.

Douglas e a ex fizeram o teste rápido para a verificação de anticorpos e tiveram resultado negativo. Como a guarda de Arthur é compartilhada, os dois médicos optaram por seguir com a rotina familiar: o garoto fica com a mãe durante os dias úteis e passa o final de semana com o pai.

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