Longevidade pode ter relação com capacidade de reconhecer odores
Estudo sobre longevidade mostra que a repulsa a um cheiro ruim é um indicador da capacidade de se proteger de substâncias nocivas
atualizado
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Um estudo publicado na revista Nature Aging nessa quinta-feira (27/7) sugere que a longevidade pode estar relacionada à capacidade de percebermos odores de substâncias nocivas. A sensação de repulsão ao sentir um cheiro ruim pode ser um indicador da capacidade do organismo de se proteger e, com isso, viver mais.
Para chegar a esta conclusão, pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular do Medical Research Council (MRC), no Reino Unido, estudaram o comportamento de nematoides da espécie Caenorhabditis elegans.
Esses vermes microscópios são usados há cerca de 50 anos como modelo de estudos biológicos por possuem um sistema nervoso simples e poucas células. Eles têm genes com as mesmas funções dos seres humanos, além de um tempo de vida de apenas 17 dias, ideal para estudos sobre envelhecimento.
Quando eles foram expostos a um composto exalado por bactérias como a Pseudomonas aeruginosa e a Staphylococcus aureus, prejudiciais ao animal, os pesquisadores perceberam uma reação natural de aversão antes mesmo de eles encontrarem a bactéria patogênica, evitando o perigo.
Ao final do experimento, eles tiveram um tempo de vida maior em comparação aos nematoides que não tiveram contato com o cheiro exalado por bactérias.
“Ao usar o olfato para detectar perigos no ambiente, os vermes elevam as respostas de estresse antes mesmo de encontrar a bactéria patogênica. A percepção do cheiro preveniu ainda a agregação de proteínas, envolvida em doenças, e aumentou a longevidade”, afirma o principal autor do estudo, o brasileiro Evandro Araújo de Souza, à Agência Fapesp.
Além disso, o cheiro desencadeou um circuito neural indutor de resposta em outros tecidos do verme, com o processamento mais eficiente de proteínas tóxicas e o controle da agregação dessas e de outras proteínas danosas.
Para os pesquisadores, esse achado é particularmente importante porque pode ser uma das peças que explicam o desenvolvimento de algumas doenças neurológicas, como o Alzheimer e o Parkinson, associadas ao acúmulo de determinadas proteínas no cérebro, como a beta-amiloide e a tau.
“Esse trabalho sugere que manipular a percepção de substâncias químicas pode, um dia, ser uma rota para intervir em doenças neurodegenerativas e relacionadas à idade”, considera a coordenadora do estudo, Rebecca Taylor, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular do MRC.
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