Leitura de histórias reduz estresse em crianças, diz estudo brasileiro
Pesquisa da UFABC analisou amostras de saliva de 81 crianças internadas em UTI antes, durante e depois de terapia de leituras
atualizado
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Se você convive com crianças ou tem filhos que estão sofrendo com os efeitos da pandemia, pode haver uma maneira simples e sem remédios para aliviar a dor e o estresse: leia uma história para eles.
É o que sugerem pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), que analisaram amostras de sangue e saliva de 81 crianças internadas em unidades de terapia intensiva (UTI) em São Paulo.
No grupo de crianças que receberam a terapia de contação de histórias, houve diminuição nos níveis do cortisol, hormônio associado ao estresse, e aumento no nível de oxitocina, hormônio associado ao bem-estar.
Os resultados do estudo foram publicados na revista científica norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS).
Como foi feito o estudo
Os pesquisadores recrutaram 81 crianças internadas na UTI do Hospital Rede D’Or São Luiz Jabaquara, em São Paulo. Elas tinham idades entre 2 e 7 anos e sofriam de doenças semelhantes, como problemas respiratórios causados por asma, bronquite ou pneumonia.
As crianças foram então separadas em dois grupos de forma aleatória. No grupo experimental, 41 participaram de um programa em que um voluntário treinado lia uma história infantil, alegre e divertida, por 25 a 30 minutos. Os pacientes puderam escolher uma das oito histórias tipicamente encontradas na literatura infantil brasileira.
No outro grupo, foi pedido às crianças que resolvessem anedotas e enigmas. A ideia era controlar a quantidade de tempo, atenção e interação social que cada criança receberia, independentemente de estar recebendo enigmas ou ouvindo histórias.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores recolheram amostras de saliva e questionaram as crianças quanto à percepção da dor antes, durante e depois das atividades.
Em ambos os grupos, houve aumento nos níveis de oxitocina (hormônio associado ao bem-estar) e diminuição do cortisol (hormônio associado ao estresse). Porém, no grupo que recebeu a terapia de contação de história, os níveis de oxitocina correspondiam a quase o dobro do observado no grupo que resolveu charadas.
Os níveis de cortisol caíram cerca de 60% para as crianças que ouviram histórias, em comparação com uma queda de 35% para as crianças do outro grupo. “Os resultados oferecem uma intervenção simples e barata que pode aliviar a dor física e psicológica de crianças hospitalizadas”, disseram os autores.
E eles sugerem que contar histórias pode ter um efeito poderoso no bem-estar das crianças fora do ambiente hospitalar – incluindo aquelas cujas vidas em casa e na escola foram drasticamente alteradas pela pandemia de coronavírus.