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“Kawasaki” ligada à Covid-19 pode surgir até em crianças com teste negativo

A síndrome inflamatória multissistêmica pode atingir crianças e adolescentes e tem quadro clínico grave, mas é de baixa mortalidade

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Pessoa mede temperatura de criança
1 de 1 Pessoa mede temperatura de criança - Foto: Kelly Sikkema/Unsplash

Um estudo publicado na revista científica The Lancet emitiu um sinal de alerta para a comunidade pediátrica mundial: a descoberta de uma doença inflamatória detectada em crianças e adolescentes expostas ao novo coronavírus mostrou que a população mais jovem também pode sofrer consequências graves. Quando diagnosticada, a síndrome inflamatória multissistêmica exige internação e tratamento intensivo.

O primeiro caso foi relatado em abril de 2020, em uma bebê de 6 meses nos Estados Unidos. A menina apresentava sintomas da síndrome de Kawasaki, uma doença descrita em 1977 no Japão que atinge principalmente crianças asiáticas menores de 5 anos. “Não se sabe qual a causa. Acredita-se que seja de natureza infecciosa, mas ninguém conseguiu isolar um vírus”, relata Natasha Slhessarenko, pediatra e patologista clínica do Laboratório Exame.

O estudo realizado no Reino Unido e publicado na The Lancet foi feito com 8 crianças, com idades variando entre 4 e 14 anos, e apenas uma asiática. “A síndrome inflamatória multissistêmica acontece em crianças maiores e jovens, de até 21 anos, de qualquer etnia. O diagnóstico depende do quadro: tem que ter febre alta, entre 38°C e 40°C, por mais de 24 horas, acompanhada por testes laboratoriais que mostrem inflamação. Além disso, depende da falência de pelo menos dois órgãos. A criança pode estar em coma, com insuficiência renal, cardíaca, respiratória. Afastadas outras causas, como choque séptico e até mesmo a Kawasaki, e se a criança testar positivo para Covid-19 ou tiver histórico de contato com alguma pessoa infectada até quatro semanas antes, tipifica a doença”, descreve a pediatra.

Até a publicação deste estudo, as crianças e adolescentes estavam sendo considerados veículos de transmissão, ou seja, corriam mais risco de levar o vírus para a casa dos pais ou dos avós. A partir de abril, começaram a aparecer casos graves, mas isolados nos Estados Unidos, França, Espanha e Reino Unido. “Os pais devem ficar alertas: se a criança tiver febre alta e persistir por mais de 24 horas, estiver com a pele avermelhada, a boca vermelha por dentro, a língua com as papilas hipertrofiadas (a que chamamos de língua de framboesa), mãos e pés inchados, conjuntivite seca, dor abdominal, vômito e diarreia, é preciso levar para o hospital”, adverte Natasha.

Diferentemente dos adultos, todas as crianças participantes do estudo tiveram tempos de internação de 3 a 7 dias, ou seja, o período na UTI é mais curto. No início do estudo, nenhuma delas testou positivo para a Covid-19 e, ao final, somente duas apresentaram anticorpos – entre elas o único paciente que morreu e teve o vírus detectado após o óbito. Os tratamentos variaram com o uso de remédios como a imunoglobulina e antibióticos, e todas elas precisaram de ajuda para respirar durante o tratamento.

Incertezas
Ainda não se sabe se a síndrome é a própria Kawasaki ou uma nova doença. “Sabemos que o Kawasaki tem como gatilho um processo infeccioso. Será que a Covid-19 é um desses agentes de gatilho para desenvolver a doença? Ou seria algo parecido? Não sabemos”, comenta Natasha. Uma nota alerta emitida pela Sociedade Brasileira de Pediatria aponta que a síndrome inflamatória multissistêmica é muito similar à chamada síndrome da tempestade de citocinas, apresentada por adultos com a Covid-19. Segundo a pediatra, este pode ser um indício de como o organismo reage ao vírus gerando uma inflamação.

“É um alerta para os pediatras do mundo inteiro, para ficarmos atentos a esses casos que têm evolução grave: esse menino que morreu teve um AVC. Se detectada a doença, o paciente precisa de UTI, de drogas vasoativas e, muitas vezes, de ventilação mecânica. A doença é séria, justifica internação e UTI. Apesar disso tudo, a maioria consegue sair do quadro, a mortalidade não é alta. Mas temos que ficar atentos”, alertou a pediatra.

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