metropoles.com

Julio Croda: “Imunidade coletiva deve ser maior para conter variantes”

Em entrevista ao Metrópoles, o infectologista Julio Croda explica o que a ciência já descobriu sobre a imunidade contra o novo coronavírus

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução/Zoom
Julio Croda – Fiocruz
1 de 1 Julio Croda – Fiocruz - Foto: Reprodução/Zoom

A pandemia da Covid-19 já se arrasta por mais de um ano e a cada mês a ciência faz novas descobertas sobre o vírus Sars-CoV-2, que já deixou mais de 134,4 milhões de pessoas doentes em todo o mundo. Em meio a tantas dúvidas, pesquisadores tentam descobrir por quanto tempo dura a imunidade adquirida após a infecção e depois da aplicação de vacinas.

Em entrevista ao Metrópoles, o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),  Julio Croda, destaca as descobertas mais recentes sobre a proteção ao vírus e afirma que ainda vai demorar para que os brasileiros possam se encontrar sem máscara e com segurança, uma vez que  variantes mais resistentes do coronavírus estão sendo descobertas.

Tempo de imunidade

Nos primeiros meses da pandemia, chegou-se a falar em “passaporte da imunidade”: a ideia era que pessoas recuperadas após a Covid-19 ficariam imunes ao coronavírus. No entanto, logo surgiram os primeiros casos de reinfecção, que lançaram o alerta sobre a duração e a intensidade da imunidade adquirida.

Estudos publicados recentemente mostram que pacientes de quadros mais graves, com necessidade de internação em unidades de terapia intensiva (UTI), desenvolvem resposta imune mais forte e persistente, com maior nível de proteção celular e de anticorpos. Por outro lado, pessoas que tiveram a doença mais leve ou assintomática parecem produzir menos anticorpos e resposta celular, ficando mais expostas à reinfecção.

“Existe uma variação muito grande sobre quanto tempo a resposta imune dura e depende muito dos sintomas e da gravidade da primeira infecção”, explica Croda.

O organismo produz dois tipos de imunidade: a humoral (de anticorpos) e a celular. Entre os anticorpos do tipo IgG, existem os neutralizantes, que impedem a entrada do vírus nas células humanas. Com a imunidade celular, o organismo reconhece as células infectadas pelo vírus e provoca a morte delas, interrompendo a replicação viral.

Proteção pós-vacina

Além das dúvidas sobre a imunidade adquirida após a infecção, outra pergunta que mobiliza a ciência no momento diz respeito ao tempo de proteção que será conferido após as vacinas. Isso só será estabelecido no futuro, com o acompanhamento dos voluntários dos testes clínicos e da resposta do “mundo real”, verificada entre a população vacinada com os imunizantes aprovados pelas agências reguladoras.

Segundo Croda, a necessidade de uma dose de reforço no futuro e o período no qual ela deverá ser administrada dependerá da combinação de dois fatores: a queda dos anticorpos neutralizantes ao longo do tempo ou o surgimento de novas variantes que apresentem maior capacidade de escapar às estratégias de combate ao vírus que o corpo adquire com a vacina.

Um estudo feito por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrou evidências de que a maioria das pessoas vacinadas com a Coronavac desenvolve uma produção robusta de anticorpos neutralizantes 15 dias após a aplicação da segunda dose. Os pesquisadores do Laboratório de Virologia Molecular (LVM) da UFRJ, no entanto, não sabem por quanto tempo estes anticorpos vão durar.

Outra pesquisa realizada pela Pfizer e pela BioNTech mostrou que a imunidade dos voluntários da fase 3 dos testes clínicos permanece a mesma nos seis meses seguintes à aplicação da segunda dose.

Proteção contra novas variantes

As variantes do Reino Unido (B.1.1.7) e da África do Sul (B.1.351) são as que mais preocupam os cientistas atualmente. As duas apresentam uma mutação no aminoácido 584, visto como o responsável por driblar a resposta imune de quem foi infectado por outras variantes no passado.

A variante P.1, identificada pela primeira vez em Manaus (AM) também preocupa. Em alguns estados e no Distrito Federal, ela já é a de maior circulação.

“Novas variantes irão surgir e surgem a todo momento”, diz Croda. “É muito difícil afirmar qual é o risco de reinfecção para quem já teve uma infecção provocada pela versão anterior do vírus”, pontua o infectologista.

Na quarta-feira (7/4), pesquisadores do grupo Vebra Covid-19 – coordenado por Croda – publicaram os resultados preliminares de um estudo que revela que a Coronavac tem 50% de efetividade na prevenção da P.1. Eles avaliaram mais de 67 mil profissionais de saúde da capital do Amazonas, onde ela surgiu e é predominante.

“A efetividade da vacina (Coronavac) para a P.1 é a mesma das outras variantes. Ou seja, a gente pode continuar usando a Coronavac nas nossas campanhas de vacinação onde a P.1 é a nossa principal variante”.

Proteção para pessoas que não podem se vacinar

O infectologista reforça que o ato de se vacinar protege não apenas quem recebe o imunizante, mas também as pessoas que não podem se vacinar, seja porque ainda não chegou a sua vez de ir até o posto de saúde ou porque não têm recomendação médica. A vacinação das pessoas próximas promoveria uma espécie de barreira para as pessoas com problemas crônicos passando pela fase aguda da doença e para os imunossuprimidos – que devem tomar a vacina, mas têm maior deficiência na produção de anticorpos.

“Se a gente atinge de 80 a 90% da população, você pode ter um impacto na transmissão do vírus e essas pessoas que, eventualmente, não podem tomar a vacina estarão protegidas pela imunidade coletiva. Ou seja, o vírus circula menos e essas pessoas têm menor chance de adquirir a doença”, afirma o infectologista.

Encontros com segurança e fim do uso da máscara

Na avaliação do pesquisador da Fiocruz, ainda vai demorar até que os brasileiros possam se reunir com amigos e familiares com segurança e abandonar o uso da máscaras.

“Ainda mais com o surgimento de novas variantes mais transmissíveis, a gente vai precisar de uma imunidade de rebanho maior para ter uma redução da transmissão do vírus”, pondera.

O infectologista explica que quanto maior for a eficácia das vacinas, mais rápido esse patamar será atingido. “Com certeza, quando 80 a 95% da população estiver vacinada, pode ser que a gente volte a uma normalidade”, completa.

Saiba como o coronavírus ataca o corpo humano:

6 imagens
1 de 6

Yanka Romao/Metrópoles
2 de 6

Yanka Romao/Metrópoles
3 de 6

Yanka Romao/Metrópoles
4 de 6

Yanka Romao/Metrópoles
5 de 6

Yanka Romao/Metrópoles
6 de 6

Yanka Romao/Metrópoles

 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?